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Como a alta dos juros nos países ricos pode prejudicar a economia brasileira

Aperto monetário adotado pelos principais bancos centrais deve reduzir a atividade global no ano que vem, afetando as exportações do Brasil e reduzindo a capacidade de crescimento do País

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

O movimento de alta de juros nas principais economias do mundo deve se transformar em mais um entrave para o desempenho da atividade econômica do Brasil. O aperto monetário em andamento tem potencial para provocar uma desaceleração global e pode empurrar a economia brasileira para um desempenho ainda mais pífio no ano que vem - hoje, as previsões de crescimento estão próxima de 0,5%. Os analistas dizem também que a atuação mais dura dos bancos centrais aumenta a pressão sobre o rumo das contas públicas do País.

Prédio do Federal Reserve, nos EUA Foto: Samuel Corum/Bloomberg via The Washington Post

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Com um cenário de inflação elevada disseminada pela economia global, a lista de bancos centrais que subiu os juros é extensa - das grandes economias, apenas a China e Japão não integram esse grupo. Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) promoveu mais uma alta das taxas de juros em 0,75 ponto percentual. Na quinta, foi a vez do Banco da Inglaterra (BoE) subir os juros em 0,50 ponto percentual. Há duas semanas, o aperto monetário veio da Banco Central Europeu.

“Há uma particularidade nesse momento. A inflação é global. É necessário que os principais bancos centrais tomem as rédeas da alta de preços e subam os juros”, diz Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências. “É um aperto global não visto há muitos anos.”


No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75% ao ano na quarta-feira, interrompendo o maior ciclo de aperto monetário em 23 anos.

Na prática, juros mais altos encarecem o crédito das famílias e o investimento das empresas, prejudicando o desempenho da economia. Com vários países endurecendo a política monetária, o mundo tende a crescer menos, com impactos sobre o comércio global, levando, por exemplo, a uma queda dos preços das commodities. O Brasil é um grande exportador de produtos básicos, como minério de ferro e soja, e, portanto, é afetando quando os preços desses itens recuam no cenário internacional.

“Um PIB global mais baixo no que vem é ruim para as exportações brasileiras. Hoje, a gente projeta um crescimento de 0,7%, 0,8% para o Brasil em 2023. E por que não projetamos 1,2%? Porque uma parte desse pedaço vem justamente da desaceleração da economia global, acabando por resvalar na nossas exportações”, diz Marco Maciel, sócio e economista da Kairós Capital.

Olho no fiscal

O cenário de aperto global ainda deve fazer com que os investidores se debrucem de forma mais criteriosa sobre o rumo das contas públicas do País. Há uma dúvida sobre qual será o futuro do teto de gastos - considerada a principal âncora fiscal - e como o próximo governo vai lidar com as pressões de aumento de gastos, em especial com a manutenção do valor de R$ 600 para o Auxílio Brasil.

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Ao subir os juros, os países mais avançados tiram a atratividade das economias consideradas emergentes, como a brasileira, porque são considerados mais seguros para investir. Com um retorno melhor lá fora, os investidores devem olhar com mais detalhes os fundamentos econômicos dos países com potencial para receber algum tipo de recurso.

“É um mundo muito complexo, e o dinheiro tem de ir para algum lugar. Isso faz aparecer algumas janelas de oportunidade. Mas quem ganhar a eleição precisa fazer o dever de casa, que é consertar o fiscal”, afirma Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos. “O problema é não fazer o dever de casa. Nesse cenário, o juro ficaria alto por muito mais tempo, e o crescimento seria prejudicado.”

A gestão das contas públicas se tornou o principal nó da gestão macroeconômica do Brasil. A União acumula déficits primários desde 2014. Neste ano, as contas até devem voltar para o azul, mas a previsão do próprio governo é a de que déficit volte em 2023.

“O problema é que a luta para mais estímulos fiscais estará dada (em 2023) e isso poderá fazer com que a política fiscal fique ainda mais difícil, o que coloca dificuldade na gestão de política monetária”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

“No final, o problema é político. O próximo governo precisará ter sangue frio para fazer as reformas que são necessárias e não cair no canto da sereia de estímulos fiscais, que falsamente podem entregar resultado no curto prazo, mas que logo se transformarão em um peso para a economia”, acrescenta.

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