A paralisação dos caminhoneiros autônomos começa afetar a dia a dia do agronegócio. No Mato Grosso, o maior Estado produtor de soja, o escoamento da safra, que já era difícil por causa da situação precária da rodovia BR163, piorou muito em razão do protesto dos caminhoneiros.
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Antonio Galvan, presidente da Aprosoja -MT, disse que o protesto criou um grande gargalo no escoamento da produção de soja para o mercado interno e exportação. “Há no Estado cerca 8 milhões de toneladas de soja retidas nos armazéns dos produtores rurais e não existe espaço para guardar o milho que começou a ser colhido.” A safrinha de milho do Mato Grosso deve atingir 26 milhões de toneladas este ano.
Com a falta de caminhão, os negócios com a soja estão praticamente paralisados porque não tem como retirar a soja dos armazéns. “Se não tem transporte, não tem compra”, observou Galvan.
Com isso, os preços do grão caíram. Na sexta-feira, a saca de 60 quilos de soja estava cotada a R$ 71 no Mato Grosso. Nesta terça, o preço tinha recuado para R$ 69 e com poucos negócios fechados.
Apoio. Apesar dos transtornos provocados pelos protestos dos caminhoneiros, Galvan disse que os agricultores de soja apoiam o movimento. Em vídeo publicado no canal do Youtube, o presidente da Aprosoja MT convocou os produtores a levarem as máquinas agrícolas para as rodovias para engrossar as manifestações dos caminhoneiros, porém de forma pacífica. Ele frisou que o setor é contra os reajustes diários dos combustíveis determinado pela Petrobrás. “O reajuste diário é um absurdo”, afirmou o presidente da Aprosoja-MT, que representa 5.600 produtores no Estado.
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Já a Cooperativa Central Aurora Alimentos decidiu parar quinta e sexta-feira a produção das fábricas de processamento de aves e suínos em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. São sete plantas processadoras de aves e oito de suínos.
Em nota, a empresa explicou que “a suspensão total das atividades tornou-se imperativa e inevitável em razão dos efeitos do movimento grevista, que impede a passagem dos caminhões que transportam todos os insumos necessários ao funcionamento das indústrias e, também, o escoamento dos produtos acabados para os portos e os centros de consumo. A capacidade de estocagem de produtos frigorificados – de 50 mil toneladas – está exaurida”.
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Com a parada das fábricas, 28 mil trabalhadores diretos serão dispensados das fábricas e cerca de 8 mil produtores rurais terão que adotar regime de restrição alimentar aos plantéis de aves, suínos e bovinos, informou a nota. Com a paralisação, o prejuízo estimado pela empresa é de mais R$ 50 milhões em toda a cadeia produtiva, do campo à indústria.
Já a BRF, dona das marcas Perdigão e Sadia, informou que, por enquanto, só monitora a entrega de suprimentos e matérias primas e que não tomou nenhuma decisão de parar a produção.
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A paralisação do transporte de carga ainda não afetou a indústria de leite e derivados. Carlos Humberto Mendes de Carvalho, presidente do Sindileite, que reúne 83 empresas de médio e grande porte do setor. “A paralisação ainda não provocou transtornos expressivos, mas se persistir, poderemos ter problemas”, afirmou. Ele explicou que a indústria tem um dia de estoque de leite para alimentar as linhas de produção e que boa parte do produto acabado é leite longa vida, que tem maior durabilidade.
Varejo. O comércio varejista de São Paulo também não sentiu os efeitos da parada dos caminhoneiros autônomos. A Associação Paulista de Supermercados (Apas) informou, por meio de nota, que as indústrias e os supermercados têm estoques de produtos. Além disso, os contratos com as transportadoras garantem os prazos de entrega.
Também para o comércio em geral, o abastecimento não preocupa por enquanto. Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp, disse que, como o consumo está abaixo das expectativas, as lojas têm no momento produtos para atender a demanda.
De toda forma, Burti ressaltou que o governo precisa resolver a questão do preço dos combustíveis para que o quadro não se agrave. “A medida mais viável para o governo é reduzir a Cide, ainda que somente sobre o diesel. Seria uma decisão equalizadora para combater a alta provocada pelo petróleo mais caro e pelo câmbio desfavorável”, disse o presidente da ACSP em comunicado.
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