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Após afirmar que banco não fez nada ilegal, presidente do BNDES diz que Brasil 'legalizou' corrupção

Durante entrevista para explicar auditoria que investigou 'caixa-preta', Gustavo Montezano disse que o País 'construiu leis, normas, aparatos legais e jurídicos que tornaram legal esse esquema de corrupção'

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Por Redação
Atualização:

BRASÍLIA - Após nove dias de silêncio, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, disse nesta quarta-feira, 29, que “não há mais nada a esclarecer” sobre o resultado de uma auditoria milionária que não encontrou irregularidades nas operações do banco com as empresas do Grupo J&F.

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Montezano declarou que “não houve nada de ilegal”. Por outro lado, disse que o próprio País “legalizou” um esquema de corrupção que teria resultado, entre outros malfeitos, no uso indevido dos recursos financiados pelo banco. “A gente (Brasil) construiu leis, normas, aparatos legais e jurídicos que tornaram legal esse esquema de corrupção. A conclusão é essa”, disse ele, sem elencar quais leis deveriam ser alteradas para coibir a mesma prática no futuro.

Não pegou bem

No Palácio do Planalto, o desempenho de Montezano, que foi chamado de “garoto” pelo presidente Jair Bolsonaro, não foi aprovado. Eles consideraram que a explicação dada para a contratação da auditoria ainda deixou o presidente “exposto”.

No banco, a avaliação é que Montezano não conseguiu “proteger” os funcionários e deslizou ao dar lição de moral sobre como o Brasil “legalizou” a corrupção. A avaliação é de que não tinha necessidade de o presidente do BNDES fazer uma abordagem política do problema.

O presidente do BNDES decidiu falar sobre o caso após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que tinha “coisa esquisita” na contratação da auditoria que abriria a “caixa-preta” do banco. O Estado revelou que Montezano autorizou o último aumento do contrato, que elevou o preço de US$ 14 milhões para US$ 17,5 milhões, chegando à polêmica cifra de R$ 48 milhões.

Em uma entrevista de uma hora e meia, convocada para dar explicações sobre a contratação da auditoria, Montezano, que disse ter visto como um “elogio” a menção de garoto, feita por Bolsonaro, não citou sequer uma vez o termo “caixa-preta”, o qual foi popularizado pelo presidente e que ganhou os holofotes na última campanha eleitoral. Bolsonaro defendeu várias vezes a abertura da investigação e cobrou do antecessor de Montezano na presidência do BNDES, Joaquim Levy, uma investigação detalhada sobre os contratos. Levy acabou pedindo demissão em junho do ano passado após Bolsonaro dizer que estava “por aqui” com ele.

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Montezano insistiu que não foi encontrada nenhuma ilegalidade no banco, embora o presidente ainda defenda a investigação nas operações da instituição, tema da campanha que o elegeu. Segundo essas fontes, a “vantagem” do presidente do BNDES é que o chefe direto dele é o ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem o presidente sempre ouve.

À frente da Operação Bullish, que mira os negócios entre o BNDES e o Grupo J&F, o procurador Ivan Marx afirma que as investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal apontam crimes de gestão fraudulenta e até exportação da corrupção. O ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega viraram réus a partir dos achados da operação. “Não encontramos legalização da corrupção. Se houve, é importante que se demonstre como ocorreu e quem o fez”, afirma o procurador.

Montezano repetiu diversas vezes que o banco não encontrou nenhuma ilegalidade nas operações passadas, as quais abrangem, inclusive, o período do governo petista. As investigações nos contratos com a JBS, por exemplo, miraram as operações de 2005 a 2018. “O BNDES está pronto para virar a página”, afirmou. / IDIANA TOMAZELLI, PATRIK CAMPOREZ, TÂNIA MONTEIRO E ADRIANA FERNANDES

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