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Qual a nova aposta do Grupo Pão de Açúcar para continuar crescendo no Brasil

Companhia encerra 2024 com 60 inaugurações entre as bandeiras Minuto Pão de Açúcar e Mini Extra e projeta repetir a dose em 2025; rentabilidade desse formato de loja supera em dois pontos porcentuais a rentabilidade global do GPA

Foto do author Márcia De Chiara

O Grupo Pão de Açúcar (GPA) quer transformar suas lojas em uma extensão da despensa da casa dos clientes. Com o boom de pequenos apartamentos erguidos na capital paulista, em cidades do interior e na Baixada Santista, além do número crescente de pessoas morando sozinhas, o GPA vê uma grande oportunidade para explorar o filão das lojas de proximidade, tornando-se uma prioridade em sua estratégia de expansão.

“O Minuto (Pão de Açúcar) é o nosso foco agora”, afirmou ao Estadão Frederic Garcia, diretor Executivo de Negócios Especializados do GPA. Neste ano, já foram abertos 30 pontos de venda de loja de proximidade e a meta é chegar em dezembro de 2024 com 60 inaugurações. Será a maior marca de aberturas de lojas no formato de proximidade em dez anos.

Frederic Garcia, diretor executivo de Negócios especializados do GPA, diz que a maior dificuldade é encontrar pontos comerciais Foto: Werther Santana/Estadão

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Para 2025, o executivo disse que a intenção da companhia é repetir a dose: ter mais 60 pontos de venda. Desse total, 70% das lojas serão na cidade de São Paulo e 30% em cidades do interior nos arredores da capital, e na Baixada Santista. A maior parte (80%) das lojas de proximidade que serão abertas no ano que vem leva a bandeira Minuto Pão de Açúcar e o restante será Mini Extra.

Com área de vendas de 220 a 230 metros quadrados (m²), a bandeira Mini Extra é voltada ao consumidor de classe média e a Minuto Pão de Açúcar, para as classes de maior renda, A e B. Hoje a companhia tem 330 lojas funcionando com as duas bandeiras e a maioria é Minuto.

Garcia não revela as cifras que serão colocadas nas lojas de proximidade. Mas enfatiza que a maior fatia do investimento da companhia destinado à expansão nos últimos três anos foi para lojas de vizinhança, o que deve se repetir em 2025.

Rentabilidade

Além do novo perfil das moradias e da mudança do comportamento do consumidor que favorecem esse tipo de loja, o executivo ressaltou que o fator primordial para apostar nesse formato de loja é a rentabilidade. “Temos dados extremamente positivos, seja de crescimento, de market share ou de rentabilidade”, observou.

Sem revelar números, Garcia disse que, no ano passado, a rentabilidade proporcionada pelas lojas de vizinhança da companhia ficou dois pontos porcentuais acima da rentabilidade global do GPA.

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Em termos de vendas, o desempenho também chama a atenção em relação a outros modelos operados pela empresa. O formato de vizinhança respondeu por 12% do faturamento total do GPA, de R$ 4,787 bilhões, no segundo trimestre e avançou 6,9% em relação a igual período de 2023, quando se comparam as mesmas lojas.

Foi o melhor resultado na mesma base de comparação em relação aos demais formatos nos quais a empresa opera e mais que o dobro do grupo como um todo, segundo dados da divulgação de resultados do GPA.

Entre abril e junho, as vendas totais da companhia cresceram 3,4% em relação a igual período de 2023, quando se comparam as mesmas lojas. O formato supermercado, que responde por quase a metade das vendas do GPA, cresceu 2,7% nesse critério e na mesma base de comparação. No caso do Extra Mercado, o acréscimo foi de 3,4%, acompanhando a média da empresa.

Verticalização das cidades e grande número de pessoas morando sozinhas favorecem o consumo nas lojas de vizinhança Foto: Werther Santana/Estadão

Esse ganho não advém de preços maiores. Segundo Garcia, a diferença de preços de um mesmo produto entre uma loja de vizinhança e uma loja de supermercado do grupo é insignificante, gira em torno de 1% a 2%. E, na sua opinião é imperceptível para consumidor.

Obstáculo

Ao mesmo tempo que as lojas de vizinhança são favorecidas pelo forte adensamento de prédios e pelo crescimento do número de pequenos apartamentos com pouco espaço para estocar produtos em casa, a especulação imobiliária é um dos principais obstáculos ao avanço desse modelo de negócio. “Competimos com os empreendimentos imobiliários nos terrenos”, disse o executivo.

Muitos proprietários de imóveis que poderiam ser locados para o supermercado de vizinhança se perguntam se não seria mais vantajoso vender a casa para incorporação do que alugar. Isso torna o preço do aluguel um desafio à expansão da loja de vizinhança.

O executivo observa que normalmente a expansão do grupo se dá por meio da abertura de uma loja do zero. A compra de um ponto de venda com um mercado em funcionamento é rara.

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No caso das 30 lojas que serão abertas até o final de dezembro, todos os pontos já estão com acordos fechados. Para as 60 lojas que serão inauguradas no ano que vem, apenas 20% dos pontos estão negociados. “É um desafio achar pontos nos Jardins, em Moema, Vila Mariana, Pinheiros, Vila Madalena, Campo Belo, Brooklin, bairros que são focos da expansão”, disse Garcia.

O principal concorrente do Minuto Pão de Açúcar e do Mini Extra é o tradicional mercado de bairro, que tem laços com a clientela da vizinhança. “Será um desafio muito grande para o GPA”, afirma Álvaro Furtado, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), que reúne também os pequenos mercados de bairro.

Segundo o executivo, o diagnóstico do quarto maior grupo de varejo de supermercados do País, em faturamento, está correto. Cada vez mais o brasileiro quer ir às compras perto de casa. No entanto, a questão é ganhar a clientela.

“O GPA vai abrir uma loja de bairro provavelmente mais bonitinha do que a loja tradicional de vizinhança e aparentemente isso é uma vantagem grande”, disse Furtado. A desvantagem do GPA, na sua opinião, é que a loja de vizinhança tem uma identidade com a comunidade no seu entorno.

Um dos pontos favoráveis ao GPA, segundo Furtado, são preços competitivos pelo fato de a compra ser centralizada e em grande escala. “Mas é um desafio porque em muitos bairros, o GPA vai encontrar uma loja de vizinhança fortemente ancorada; muitas dessas novas lojas não vão ter bons resultados, outras terão.”

Garcia, do GPA, disse que a briga da empresa com esse modelo de negócio é com o tradicional mercado de bairro. Atualmente, há 20.114 estabelecimentos ativos na cidade de São Paulo, segundo o Sincovaga. No entanto, o executivo está otimista. De acordo com dados da consultoria Nielsen, as lojas de proximidade da companhia ganharam 2,8 pontos porcentuais de participação de mercado na Grande São Paulo em relação aos pequenos mercados de bairro no segundo trimestre de 2024 em relação a igual período de 2023.

Loja de conveniência?

O executivo do GPA faz questão de frisar que a loja de vizinhança não se trata de uma loja de conveniência. A diferença é que a função da loja de proximidade é ser a despensa da casa, oferecendo todos os produtos usados no dia a dia. Já a loja de conveniência vende basicamente itens de indulgência, como bebidas, chocolates, entre outros.

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Aliás, ao contrário de outros grandes concorrentes do setor de supermercados, o GPA não embarcou na onda das lojas de condomínio que despontou na pandemia. “Não quisemos entrar nessa frente de varejo porque temos uma proposta vencedora, que é a loja de proximidade”, disse o executivo.

O GPA começou com lojas de proximidade em 2007, como Mini Extra. Em 2014, o modelo passou a ter a segunda bandeira, o Minuto Pão de Açúcar. Por algum tempo, o formato de proximidade ficou em banho-maria. Com a chegada do novo CEO no GPA, Marcelo Pimentel, esse modelo ganhou força nos últimos três anos.

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