Publicidade

Arcabouço fiscal está na direção certa, mas não há relação mecânica com juro, diz Campos Neto

‘O arcabouço tira um pouco do risco de cauda sobre um aumento da dívida rapidamente’, afirmou o presidente do BC

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira, 19, que o projeto de novo arcabouço fiscal enviado na terça-feira pelo governo ao Congresso como positivo, mas lembrou que não há relação mecânica entre as medidas fiscais e a condução da política monetária, que depende da evolução das expectativas de inflação.

PUBLICIDADE

“Parece (o projeto) mais ou menos em linha com o que vimos antes. É uma boa indicação de que estamos avançando na direção certa. O arcabouço tira um pouco do risco de cauda sobre um aumento da dívida rapidamente”, avaliou, em participação em reunião com investidores em Londres, organizada pelo European Economics & Financial Centre (EEFC).

Campos Neto ainda destacou que é necessário ver as expectativas de inflação melhorando. “Eventualmente, as expectativas de inflação vão melhorar.” O presidente do BC ponderou que é preciso acompanhar a tramitação da proposta. “Há incerteza sobre como será aprovado e em qual velocidade”, disse.

Ele ainda voltou a dizer que não há relação mecânica entre o projeto e a política monetária, mas que é uma “grande contribuição”, assim como outras reformas seriam um sinal positivo, como a tributária. “Qualquer coisa que melhora o canal de expectativas, nos ajuda.”

Inflação

O presidente do BC afirmou ainda que o índice geral de inflação foi afetado pelas mudanças de impostos que ocorreram no preço da energia, telecomunicações e da gasolina. Ele acrescentou que em um cenário de expectativas de inflação muito maiores do que a meta no horizonte, mesmo com uma desaceleração da economia ocorrendo, é preciso olhar para essa dinâmica de forma mais cuidadosa.

Campos Neto comentou as críticas sobre a taxa de juro real no Brasil ser maior do que em muitos países. O presidente da autarquia argumentou que na comparação com países como México e Chile não há tanta diferença e que não é possível compará-la com a de países desenvolvidos, porque há dinâmicas diferentes de inflação e dos canais de ação da política monetária.

Ele admitiu, porém, que a taxa brasileira é maior do que a de alguns outros países do mundo, mas destacou que essa diferença tem diminuído ao longo dos anos.

Publicidade

Metas de inflação

Campos Neto reforçou que a autoridade monetária não decide sobre a meta de inflação, mas disse que a recomendação do BC é de que uma mudança “não deveria ser feita”. “Não decidimos sobre meta, mas nossa recomendação é de que não deveria ser feita mudança.”

Segundo ele, a avaliação é de que uma mudança de meta aumentaria o prêmio de risco. Com base em pesquisas e no comportamento do mercado hoje, a interpretação é de que um aumento da meta levaria a um avanço ainda maior das expectativas de inflação. “Hoje a interpretação é de que mudança de meta não daria flexibilidade em política monetária”, disse, acrescentando, que, no longo prazo, a mudança traria prejuízo.

Durante evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, explicou que não há relação mecânica entre o arcabouço fiscal e a política monetária, mas que o projeto é uma “grande contribuição”. Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente do BC ainda lembrou que, independente do efeito produzido, uma eventual mudança de meta não traria impacto imediato sobre a política monetária, já que sua condução precisa avaliar primeiro a evolução das expectativas de inflação.

Em relação à condução de política monetária, Campos Neto ressaltou que o mandato do BC é colocar a inflação na meta. “Queremos fazer isso e é o melhor que podemos fazer pelo Brasil. O Brasil tem um mecanismo muito forte de indexação e é ainda mais importante impedir isso”, disse, lembrando que a inflação alta prejudica mais as classes mais pobres.

PUBLICIDADE

Hoje, a meta de inflação está em 3,25% para 2023 e 3,00% para 2024 e 2025, com banda de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Em uma verdadeira ofensiva contra a taxa Selic de 13,75%, o governo federal tem questionado também o nível das metas, que são definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.