Arezzo e donos da Hering e Farm esperam ganhos de operação e receita, mas não confirmam valores

Associação entre as empresas é considerada a maior transação do varejo brasileiro na última década; faturamento estimado no novo negócio é de cerca de R$ 12 bilhões

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Foto do author Aramis Merki II

O acordo para a associação entre Arezzo e Grupo Soma, dono das marcas Farm, Animale e Hering, anunciado na manhã desta segunda-feira, 5, foi chamado de a maior transação do varejo brasileiro na última década.

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Quem definiu assim foi Guilherme Benchimol, fundador da XP, que participou ativamente da negociação entre as duas empresas nas últimas semanas, e anunciou nesta segunda que será conselheiro independente da nova companhia que se forma. Alexandre Birman, presidente executivo da Arezzo, é quem comandará o grupo, cuja marca será criada e apresentada nos próximos quatro meses. Segundo ele, a operação é a maior da moda na América Latina.

Quando a notícia passou a circular na semana passada, levando as ações do Soma a disparar 17%, e as da Arezzo, 12%, os olhos do mercado brilharam para os potenciais ganhos operacionais no negócio. Fontes disseram que as empresas teriam indicado que as sinergias chegariam a R$ 4,5 bilhões.

Na manhã desta segunda, na apresentação oficial do acordo, os representantes das companhias não abriram os números. “Nós não confirmamos o valor, mas o que foi veiculado por aí não nos assusta”, afirmou Birman.

Loja da Arezzo; empresa vai se fundir com a dona das marcas Hering, Animale e Farm Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

Antes da entrevista à imprensa sobre o anúncio, relatório do Bradesco BBI e da Ágora Investimentos apontou que o histórico de grandes fusões no mercado brasileiro sugere que o custo e a complexidade da “digestão” do negócio geralmente são maiores que o esperado.

“As sinergias presumidas precisam de uma redução substancial do risco para serem totalmente precificadas”, aponta relatório da última quinta-feira, 1º, quando as empresas disseram estar conversando.

A Arezzo contratou consultoria da Bain & Company para avaliar os potenciais ganhos operacionais. De acordo com Rafael Sachete, diretor financeiro da Arezzo, o trabalho foi feito ao longo de seis meses. “São sinergias importantes, mas a maior é sempre a de receitas. Vamos economizar. Pela nossa margem bruta, isso é importante. Mas se conseguirmos aumentar as vendas a conta estará muito bem paga”, disse.

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O faturamento estimado na nova empresa, com base nos números de Arezzo e Soma nos últimos 12 meses, é de cerca de R$ 12 bilhões. O Ebitda ficaria em R$ 1,55 bilhão, e o lucro líquido, em R$ 753 milhões.

Para Gabriel Lobo, diretor financeiro do Soma, a otimização principal será com as despesas de vendas. “Olhando pela nossa perspectiva, vamos ter maior captura, não de redução, mas de otimização das despesas com vendas. Vamos usar a escala para investir de forma mais inteligente”, afirmou.

Denis Santini, consultor de varejo e sócio do Grupo MD, enxerga potenciais oportunidades para os franqueados das duas empresas. “Eles passarão a ter acesso a duas franqueadoras, com maiores chances de terem multifranquias.” O especialista diz que o Grupo Soma não tem a franquia como essência, mas a Arezzo tem mais força nesse conceito e poderá disseminá-lo.

Do ponto de vista operacional, Birman citou que a Arezzo tem conhecimento na área de franquias que poderá agregar à operação da Hering. Este é um assunto que o Grupo Soma não tem experiência, já que prioriza lojas próprias. Já para o curto prazo, há planos também para o lançamento de uma linha de calçados nas marcas atuais do Soma, inclusive na Hering.

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A varejista têxtil com origem em Santa Catarina, adquirida pelo Soma em 2021, será uma das quatro verticais de negócios independentes da nova companhia. Thiago Hering será o presidente-executivo. O parque industrial da companhia é visto como um ativo de grande valor para a operação. Birman, como CEO do novo grupo, planeja dedicar boa parte do tempo em Blumenau — onde é a sede da Hering.

As outras verticais da empresa são vestuário feminino, que fica com o atual CEO do Soma, Roberto Jatahy; vestuário masculino, tocada pelo fundador da Reserva Rony Meisler; e calçados e acessórios femininos, sob o comando de Luciana Wodzik.

Segundo Jatahy, a expansão do mercado é um plano que começa pela América Latina, mas as ambições são maiores. “O sonho é ser uma empresa global.” Em um passo seguinte, com a operação nova consolidada, ele diz que poderão ser agressivos em aquisição. Com as unidades de marca bem definidas, com potenciais distintos, negócios a partir de R$ 150 milhões podem fazer sentido, avalia.

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A expansão da categoria de calçados também é planejada para a Farm. A loja de moda feminina também pode se beneficiar de uma otimização dos canais de franquias, segundo Birman.

O novo grupo que emerge da fusão com todas as suas 34 marcas têm ao total 2.057 lojas. Dessas, 1.520 são franqueadas. “Nós nos tornamos o maior agente de franquias do Brasil”, disse Birman.

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