Argentina cria o ‘dólar Coldplay’ e o ‘dólar Qatar’ para tentar amenizar crise no câmbio

Novas modalidades são mais uma tentativa de frear a saída de dólares para o exterior via importações de luxo ou viagens ao exterior

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Por Natalie Kidd
Atualização:

BUENOS AIRES - Quantas taxas de câmbio existem na Argentina? Ninguém sabe ao certo, mas a partir desta quarta-feira, 12, há mais três: o “dólar Coldplay”, o “dólar Qatar” e o “dólar luxo”, novas invenções em um país carente de moeda estrangeira e que precisa cuidar de suas reservas monetárias.

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Nessa tentativa, foi criado o “dólar Coldplay”, em alusão à banda britânica que em breve fará uma dezena de shows na Argentina. A ideia é adotar um novo diferencial de câmbio que será aplicado para a contratação de artistas estrangeiros e também para atividades esportivas que impliquem transferência a pagamento no exterior.

O “dólar Coldplay” vale cerca de 204 pesos por unidade, muito mais caro que a taxa de câmbio que se aplica ao pagamento de qualquer importação de serviços.

Desvalorização do peso levou juros a 40% ao ano Foto: AFP / EITAN ABRAMOVICH

Para os empresários do setor, com sérias dificuldades em acessar dólares à taxa de câmbio oficial ou que compraram a moeda por meio de canais financeiros a um valor muito mais alto - entre 288 e 304 pesos por unidade -, a nova taxa garante que eles continuem com sua atividade e mantenham as muitas fontes de trabalho local ligadas à produção de espetáculos internacionais.

Enquanto isso, o “dólar Qatar”, batizado em homenagem aos maiores gastos dos viajantes argentinos no exterior que estão previstos para a Copa do Mundo, será aplicado ao consumo em dólares com cartões de crédito e débito, passagens no exterior e pacotes turísticos ao exterior acima de 300 dólares, a uma taxa de câmbio de 300 pesos por unidade.

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O mesmo valor valerá para a aquisição de bens de luxo importados: a partir de agora, quem puder, só poderá comprar veículos de luxo, iates, jatos ou joias ao preço do “dólar de luxo”.

Reservas Operacionais

De acordo com fontes oficiais consultadas pela agência de notícias EFE, o objetivo das novas medidas é “cuidar das reservas monetárias para produção e geração de empregos”. As reservas do Banco Central fecharam a terça-feira em 40,1 bilhões de dólares, apenas 452 milhões acima do nível do final de 2021, mas consultores privados asseguram que as reservas livremente disponíveis são escassas, o que explica as fortes restrições desde junho passado ao acesso a dólares para pagar as importações.

Além disso, a Argentina deve acumular 5,8 bilhões de dólares em suas reservas este ano para cumprir uma das metas do acordo assinado com o FMI em março passado. Para ajudar a atingir esse objetivo, o governo criou em setembro o “dólar soja”, uma taxa de câmbio diferencial destinada a estimular a exportação de grãos.

Para Leonardo Piazza, diretor da consultoria LP Consulting, as novas taxas de câmbio anunciadas na terça-feira nada mais são do que um “remendo” que busca desestimular a saída de dólares via viagens ao exterior e importações de luxo para dar resposta à indústria, que demanda dólares para importar bens de produção e evitar maior arrefecimento da atividade econômica.

“Temos uma cesta de dólares que já é difícil de entender. Temos entre 30 e 40 taxas de câmbio. É complexo: ações mais ações, remendo após remendo. E isso fecha a economia”, disse Piazza./EFE

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