Argentina usará reservas para pagar o FMI

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Por Agencia Estado
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O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, confirmou nesta quarta-feira que usará as reservas do Banco Central para pagar nesta quinta-feira uma dívida que possui com o FMI, de US$ 182 milhões. Esta decisão contraria a política anunciada dois meses atrás pelo governo, de que não pretendia utilizar as reservas para o pagamento de dívidas com os organismos financeiros internacionais. A estratégia do governo será a de realizar os pequenos pagamentos que tem pela frente, até o dia 14 deste mês, quando vence uma dívida de maiores dimensões, de US$ 850 milhões com o Banco Mundial (Bird). Esta dívida, segundo Duhalde, não será paga com reservas do BC. Desta forma, se até aquele dia a Argentina não conseguir um acordo com o FMI que implique na reprogramação da dívida externa pública que possui com os organismos financeiros, o país dará o calote. Enquanto continuam as delicadas negociações com o FMI, o governo Duhalde também está disposto a pagar uma dívida com o Banco Mundial, de US$ 14 milhões, que vence na semana que vem. Hoje, Duhalde explicou que estes serão os únicos pagamentos que a Argentina realizará. Segundo ele, depois "não será possível continuar pagando" com as reservas. "Já avisamos o FMI que não poderemos pagar mais, pois daqui até maio do ano que vem teríamos que dispor de todas as reservas que temos, e isso é impossível para o país". A Argentina possui atualmente US$ 9,9 bilhões em reservas. Só até maio de 2003, o país terá que pagar US$ 8 bilhões em dívidas. O governo está tentando obter do FMI a reprogramação das dívidas até dezembro do ano que vem, em um total de US$ 15 bilhões. Analisando as turbulentas negociações com o FMI que se arrastam desde março deste ano, Duhalde afirmou que esta é a negociação "mais longa de toda a história do Fundo Monetário". Concessões Extra-oficialmente, comenta-se em Buenos Aires que o FMI estaria cedendo em alguns pontos nos quais antes insistia taxativamente. Um dos pontos em que o FMI estaria mais "suave" com a Argentina seria a liberação dos controles de câmbio. Antes, o Fundo pedia a liberação imediata, mas agora estaria aceitando que fosse gradual. O Fundo também estaria cedendo no aumento que pedia nas tarifas dos serviços públicos privatizados. Antes, o organismo financeiro exigia um aumento de 30%. No entanto, já estaria aceitando que fosse de 15%. Apesar disso, Duhalde continua afirmando que não aceitará qualquer aumento superior a 10%. Outro ponto crucial em que o FMI estaria mais flexível é a eliminação dos bônus emitidos pelas províncias para realizar o pagamento de funcionários públicos e fornecedores do Estado. Estas "moedas paralelas" são abominadas pelo Fundo, que exige o total desaparecimento. Além disso, o FMI se opunha categoricamente que estas "pseudo-moedas" pudessem ser utilizadas para o pagamento de impostos. Nos últimos dias, o FMI estaria aceitando que o pagamento de impostos pudesse continuar sendo feito. No entanto, o Fundo estabeleceria uma cota para estes pagamentos. O Fundo também deixaria de insistir na realização de uma reforma do sistema financeiro. O ministro Lavagna argumentou com os representantes do FMI de que a reforma já está sendo feita pelo próprio mercado, sem intervenções do governo. Calote Mas atualmente, dar o calote, ao contrário do que predominava nos meses anteriores, não está sendo visto como o fim do mundo. "Imagino que um atraso nos pagamentos não será algo que poderia destruir a relação entre a Argentina e os organismos multilaterais. Pode-se continuar negociando e chegar a um acordo, mesmo que a Argentina não pague agora ao Banco Mundial", disse o diretor do grupo Techint, Paolo Rocca. O diretor do Grupo Arcor, Luis Pagani, concorda, mas sustenta que é preciso que pelo menos, a Argentina e o Fundo consigam "um acordo mínimo". Segundo ele, "atravessar o processo eleitoral (as eleições presidenciais são em março do ano que vem) com um default (calote) não será conveniente". Ex-ministros Dois ex-ministros da Economia, discordam sobre a postura do FMI em relação à Argentina. O ex-ministro Ricardo López Murphy afirma que dar o calote com os organismos financeiros causaria um grande isolamento. "Gostaria de saber, se essa decisão de entrar em default for tomada, qual é o documento secreto que explica como sair dessa situação. A única coisa que falta é que rompamos com a comunidade internacional e não saibamos o que fazer logo depois", disse. O ex-ministro Domingo Cavallo possui uma posição crítica em relação ao FMI. Segundo ele, "é um absurdo que o Fundo ainda não tenha ampliado os prazos dos vencimentos da dívida argentina", afirma.

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