PUBLICIDADE

Publicidade

Armínio Fraga: ‘Galípolo pode deixar claro ao governo que não há milagre sem ajuste fiscal’

Ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso, Fraga diz que economista precisa aproveitar sua proximidade com Lula para reforçar necessidade de ajustar as contas públicas

Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:
Foto: Fábio Motta / Estadão
Entrevista comArmínio FragaEconomista, ex-presidente do Banco Central

BRASÍLIA - A visão do economista Armínio Fraga sobre a indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central é de que ele pode aproveitar a sua proximidade com o governo, especialmente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para reforçar a necessidade do ajuste fiscal no País.

Fraga, que assumiu a principal cadeira do BC em 1999, aos 41 anos - Galípolo tem 42 - entende que o Brasil, naquela época, vivia uma turbulência grande na economia, mas tinha um compromisso firme por parte do presidente Fernando Henrique Cardoso de dar sequência a uma agenda de reformas, como foco no reequilíbrio das contas públicas.

Galípolo, por sua vez, assume com a inflação fora da meta, mas sob controle, mas não tem essa garantia vinda do presidente Lula, o que torna o trabalho do Banco Central mais difícil, especialmente no controle das expectativas.

Em conversa rápida com o Estadão, Fraga expôs sua visão sobre a indicação para o banco.

O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em seu escritório no Rio de Janeiro  Foto: Fabio Motta / Estadão

Desde a indicação do senhor, em 1999, o economista Gabriel Galípolo é o mais jovem a ser indicado para o Banco Central. O que o senhor diria para ele?

Acho que, como presidente do Banco Central, ele vai ter uma missão muito clara. Inclusive, hoje é lei, que é cuidar da inflação. Ele pode, tendo uma boa relação com o resto do governo, deixar claro que não vai fazer milagre se a política fiscal não for reforçada, e muito. Outro ponto importante é que se esse tipo de comportamento persistir, ou o BC seguir uma direção meio exótica, a inflação vai subir e cobrar um preço político muito grande, com impacto na aprovação do governo.

Qual a avaliação do senhor sobre a política fiscal?

A despeito dos esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a parte fiscal não está caminhando bem, porque o que se ouve são números muito pequenos: vamos fazer um contingenciamento que é menos de 0,2% do PIB. E o Galípolo vai sentar em uma cadeira de difícil administração sem apoio fiscal. Sem isso (ajuste nas contas públicas), a vida do Banco Central fica muito difícil.

Como o senhor compara a situação atual do País com a de 1999, quando o senhor foi indicado?

Pelo lado fiscal, o Brasil já tinha feito um trabalho importante nas finanças estaduais, que foram reforçadas com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), posteriormente. O ajuste fiscal prometido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, antes da reeleição, estava sendo feito. Então eu tinha total consciência de que estava assumindo em momento difícil, mas tinha elementos a favor que o Galípolo não tem hoje. A situação que eu tinha, claramente, era difícil, mas existia uma possibilidade concreta de dar certo. Não imaginava que a inflação ia se comportar tão bem, mas achava que dava para trabalhar.

Publicidade

E como é agora?

Agora, temos a inflação acima da meta, porém, mais baixa do que antes, só que sem apoio fiscal. Ou com apoio fiscal modesto. É difícil comparar. Ele assume o Banco Central em momento mais tranquilo, e pode aproveitar, nas conversas internas, para dizer: ‘gente, vamos olhar com mais profundidade para essa questão fiscal’

Como enxerga a proximidade que ele tem com o presidente Lula?

Mal, não faz. Ele pode, com certeza, dizer que há algumas áreas que são absolutamente imprescindíveis para um ajuste relevante, como a Previdência, a reforma do Estado e vários aspectos da reforma do Imposto de Renda. O Brasil precisa repensar os seus gastos e as prioridades. Temos a necessidade de um ajuste fiscal para facilitar o trabalho do Banco Central, com menos juros.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.