Um pouco menos de fantasia e uma pitada de racionalidade, é isso que peço.
O uso do termo “unicórnio” se popularizou quando falamos de empresas de tecnologia que têm valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Sinto necessidade de tratar um tema que nos últimos meses tem tomado as manchetes. Seria mesmo o fim da “era dos unicórnios” de tecnologia? Observo a existência de muito alarmismo desnecessário por conta de reestruturação de equipes – como a Ebanx, que dispensou 20% de sua força de trabalho, mas também tivemos Spotify, Airbnb, Alibaba e outras.
Se olharmos historicamente, todas as empresas, não importando o segmento e o tamanho, passam por reestruturações quando crescem rápido demais. O Walmart, o Carrefour, a Volkswagen e muitas outras grandes empresas, com uma certa frequência, promovem programas de demissão em massa para ajustar seus quadros. Isso é normal nas dinâmicas de mercado, por que na área de tecnologia seria diferente? Acrescento outros fatores ao cenário.
Com taxas de juros mais elevadas no mundo, a renda fixa fica mais interessante, assim, o capital de risco que geralmente financia os unicórnios se torna mais escasso e, consequentemente, com menos dinheiro. Nesse cenário, é necessário racionalidade nos gastos, o que trará mais eficiência às empresas.
Além disso, muitos desses unicórnios cresceram em momento de exceção. A pandemia de covid-19 foi uma catapulta, gerando dinheiro e marketshare , em um momento em que o mundo não estava na sua normalidade. Agora, que tudo se encaminha para voltar ao normal, é necessário adaptar e reorganizar.
Por fim, os resultados precisam aparecer. Não dá para viver investindo. Chega o momento em que o investidor quer retorno em dinheiro e, para que o resultado aconteça, é necessário racionalidade nos gastos.
No fundo, o que está acontecendo é a racionalização dos recursos e a busca de uma eficiência que foi deixada de lado enquanto o mundo permitia. Não vejo uma “era de unicórnios” em extinção, mas, sim, uma evolução no conceito. Continuaremos com unicórnios caminhando nos mercados financeiros, e poderemos observar que serão unicórnios mais robustos e saudáveis.
Não estou sendo insensível aos empregos perdidos, um lado negativo do fenômeno. Afinal, os demitidos têm famílias e precisarão de novas oportunidades que o mercado, em crescimento e mais racional, permitirá.
Vamos em frente. O mundo é feito de ajustes e arrumações e essa não é a primeira nem será a última, mas apenas mais uma pela qual o mercado de tecnologia vai passar. / PH.D. EM ADMINISTRAÇÃO, É PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO DO IBMEC
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