Juros podem começar a cair a partir de agosto, indica BC; mercado vê queda de 0,25 ponto

Texto relativo à reunião do Copom realizada na semana passada diz que ‘continuação do processo desinflacionário’ pode permitir início ‘parcimonioso de inflexão’ dos juros na próxima reunião

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Foto do author Eduardo Rodrigues
Atualização:

Brasília - A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central realizada na semana passada deixou mais claro que há uma “porta aberta” para o início da queda dos juros em agosto. Segundo o texto da ata, divulgado nesta terça-feira, 27, a maior parte dos oito membros que participaram da reunião avalia que a “continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.

A falta de uma sinalização clara sobre as pretensões do BC de iniciar um ciclo de afrouxamento monetário à frente frustrou parte do mercado, além do governo e do setor produtivo, no comunicado divulgado após a reunião do Copom da semana passada. O Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva.

Roberto Campos Neto, presidente do BC, tem sido criticado pelo governo pela manutenção dos juros em 13,75% ao ano Foto: Wilton Junior/Estadão

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Na ata, o BC ainda esclareceu que outro grupo se mostrou mais cauteloso. Para esses membros, a dinâmica desinflacionária ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis e a incerteza sobre o hiato do produto gera dúvida sobre o impacto do aperto monetário até então implementado. “Para esse grupo, é necessário observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo.”

“A porta já estava aberta, mas a ata coloca mais peso na bandeja de agosto”, diz o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale. A comunicação desta terça-feira, segundo Megale, corroborou o cenário para a Selic da XP, de cortes graduais começando na próxima reunião. A casa vê uma primeira redução de 0,25 ponto porcentual seguida por outras de 0,5 ponto, levando a Selic a 12% no fim de 2023.

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”Em diversos momentos da ata, o Copom vai temperando a avaliação do cenário sugerindo que as coisas estão melhorando. Ele diz que o PIB foi mais forte, mas muito focado em agro, e que o mercado de trabalho está mostrando resiliência, mas que a taxa de participação caiu. Ele fala também que a inflação está caindo em alimentos, industrializados e em itens mais resistentes - embora eles ainda estejam acima da meta”, diz o economista.

A avaliação do economista Leonardo Costa, da Asa Investments, é de que a ata indica que há um consenso para o início do ciclo de cortes da taxa Selic na próxima reunião, em agosto. Após a divulgação do documento, segundo ele, o cenário da ASA para o juro está em revisão. O economista ressalta, porém, que o início do afrouxamento monetário tende a ser bastante gradual, com uma primeira redução de 0,25 ponto porcentual.

João Maurício Rosal, economista-chefe da Terra Investimentos, vai na mesma linha, e diz que o texto da ata reforça a expectativa da Terra de cortes a partir de agosto, iniciando com 0,25 ponto porcentual, com a Selic fechando o ano em 12% - projeção que tem viés de baixa, segundo Rosal, caso o quadro da inflação seja mais benigno e permita que o tamanho dos cortes seja maior.

Confiança

O Banco Central deixou claro, no entanto, que o afrouxamento do grau de aperto monetário exige “confiança na trajetória do processo de desinflação”, a custo de, se feito de forma prematura, provocar retomada da aceleração inflacionária e reversão do próprio processo de relaxamento monetário. Essa avaliação foi unânime dentro do comitê.

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“O Comitê unanimemente avalia que flexibilizações do grau de aperto monetário exigem confiança na trajetória do processo de desinflação, uma vez que flexibilizações prematuras podem ensejar reacelerações do processo inflacionário e, consequentemente, levar a uma reversão do próprio processo de relaxamento monetário.”

Segundo o comitê, a materialização do tipo de cenário descrito acima pode prejudicar “não apenas a credibilidade da política monetária, mas também as condições financeiras”.

Nesse sentido, o comitê repetiu a avaliação do comunicado de que a conjuntura é marcada por expectativas desancoradas para prazos mais longos e por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, o que requer “parcimônia e cautela” na condução da política monetária.

Os membros do Copom voltaram a salientar que a estratégia de manutenção da taxa Selic tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação para a meta. Sobre os passos futuros de política monetária, o Copom voltou a listar que dependem de cinco fatores: a evolução da dinâmica inflacionária, sobretudo de itens mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica; das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo; das projeções de inflação do comitê; do hiato do produto; e do balanço de riscos.

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Meta de inflação

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Na ata divulgada nesta terça-feira, o Banco Central dedicou um parágrafo para analisar o comportamento das expectativas de inflação entre as reuniões de maio e junho. Segundo o comitê, decisões que contribuam para a reancoragem das expectativas e aumento da confiança nas metas ajudam a desinflação e permitem a flexibilização monetária - algo tão desejada pelo governo.

Membros do Copom têm dito que um dos principais fatores que explicam a desancoragem, especialmente em horizontes mais longos, é a incerteza sobre a meta de inflação, em debate colocado pelo governo Lula desde o início do ano. Nesta quinta-feira, 29, o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne e deve definir o futuro da meta inflacionária brasileira, hoje em 3% para os próximos anos.

Para o comitê, as expectativas seguem desancoradas das metas do CMN, ainda que tenha havido “uma pequena diminuição da desancoragem na margem”. “O Comitê segue avaliando que expectativas desancoradas elevam o custo de trazer a inflação de volta à meta”, disse o BC na ata.

O colegiado ainda ressaltou novamente que o comportamento das expectativas é um aspecto fundamental do processo inflacionário, uma vez que serve de guia para a definição de reajustes de preços e salários presentes e futuros.

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“Assim, com a elevação de expectativas, há uma maior pressão para elevação de preços no período corrente e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas. Também foi ressaltado que a ancoragem de expectativas é um elemento essencial para a estabilidade de preços.” / Colaboraram Marianna Gualter e Ítalo Bertão Filho

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