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Ata do Copom: BC volta a dizer que ‘não hesitará’ em subir juros se necessário

Segundo os membros do colegiado, a desaceleração econômica atual é necessária para garantir o sucesso da missão de levar a inflação de volta à meta

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Foto do author Célia Froufe
Atualização:

Brasília - A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, veio tão, ou até mais dura, do que o próprio comunicado divulgado após o encontro, na semana passada. Na ata, o comitê voltou a destacar a deterioração das expectativas de inflação para prazos mais longos e mais uma vez citou a possibilidade até de voltar a aumentar a Selic. Na semana passada, o Copom manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida.

Ata do Comitê de Política Monetária (Copom) veio tão, ou até mais dura, do que o próprio comunicado divulgado na semana passada Foto: Dida Sampaio/Estadão

O Copom enfatizou que a incerteza nos cenários avaliados força o BC a continuar vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação para as metas perseguidas pelo banco.

“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, completou a ata, reiterando a mensagem já divulgada no comunicado da semana passada.

Desaceleração da economia

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Para garantir que cumpra sua tarefa de entregar a inflação na meta, após dois anos de fracasso e caminhando para o terceiro sem atingir o objetivo, o Copom argumentou que a desaceleração econômica atual é necessária para garantir o sucesso de sua missão. O colegiado vem sofrendo duras críticas, principalmente do governo, por manter a Selic no nível atual, considerado um nível muito elevado para os padrões brasileiros.

Conforme a ata da reunião da semana passada, os dados de atividade no Brasil seguem indicando um ritmo de crescimento mais moderado, e os dados de emprego sugerem moderação. “O Copom segue avaliando que a desaceleração econômica em curso é necessária para garantir a convergência da inflação para suas metas, particularmente após período prolongado de inflação acima das metas.”

O colegiado ressaltou que, após um período de forte recuperação nos dois últimos anos, iniciou-se um processo de desaceleração do crescimento no setor de bens duráveis, que havia sido particularmente impulsionado na pandemia, e que é mais sensível à política de juros. “A desaceleração se espalhou para o setor de bens não-duráveis e, posteriormente, para o setor de serviços, ainda que de forma mais branda”, pontuou, acrescentando que as perspectivas de crescimento econômico não mudaram significativamente no período recente.

Sobre o mercado de trabalho, o comitê afirmou que, como esperado por causa da maior defasagem em relação ao ciclo econômico, foi somente no período recente que o mercado de trabalho exibiu evidências de desaceleração moderada. Essa diminuição do ritmo, conforme a ata, é compatível com a expectativa do comitê de uma moderação do ritmo da atividade econômica. “Alguns membros observaram que há um movimento de recomposição parcial das perdas recentes nos salários reais, relatou o documento, acrescentando que esse movimento é esperado e vem acompanhado de desaceleração nos ganhos nominais, o que deve se acentuar à frente.

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O colegiado ainda repetiu o alerta sobre a desaceleração da concessão de crédito no mercado doméstico “maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária”. Além disso, também apresenta como pontos que poderiam provocar uma queda na inflação a eventual redução adicional dos preços das commodities internacionais e uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada. O Copom enfatizou que, em relação a isso, merecem atenção particular as condições adversas no sistema financeiro global depois da quebra de bancos nos Estados Unidos e na Europa.

Já entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, o BC ressaltou a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública. Por fim, apontou também uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Avaliação

Na avaliação de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o texto da ata manteve o tom “duro” do comunicado da semana passada. “Consideramos a divulgação de hoje brevemente mais hawkish”, disse. Ele destacou a importância dada pelo comitê à desancoragem das expectativas de inflação para o desenrolar do cenário monetário. “Esse condicionamento às expectativas, que na minha avaliação é o correto, torna a transmissão de todos os eventos um processo mais longo”, diz.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, considerou a ata mais dura que o comunicado. “Cenário de queda de juros próximo ficou menos provável. Enquanto expectativas de inflação estiverem contaminadas, com destaque para o risco de expansão parafiscal, leia-se subsídios do BNDES, o custo para a Selic é maior”, publicou, em sua conta no Twitter.

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