Os mercados globais atingiram, na sexta-feira, 12, o auge da tensão com a resposta do Irã ao ataque de Israel a um consulado iraniano na Síria, mas a aversão ao risco nesta semana não deveria aumentar, uma vez que a ofensiva iraniana foi contida neste sábado, 13, e telegrafada a ponto até de não suscitar uma reação mais forte de Israel.
Isso teoricamente, uma vez que, com o governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu em Israel acuado pela oposição doméstica e pelas críticas da comunidade internacional à sua atuação na guerra contra o Hamas em Gaza, o Irã pode ter dado mais um pretexto para o primeiro-ministro israelense desviar o foco das tribulações políticas que enfrenta.
Se o presidente americano Joe Biden conseguir conter uma resposta de Israel nos próximos dias e semanas, argumentando que o ataque do Irã ontem foi relativamente calculado para não escalar um possível conflito não somente para o Oriente Médio, como também para outras regiões do planeta, o cenário mais pessimista para os mercados pode ser evitado.
Digo “relativamente calculado” porque em questões tão explosivas como essas, diante de rivais históricos como Israel e Irã, os cálculos tendem a sair do controle.
Mas vejamos: foram vários os alertas e ameaças públicas por dias seguidos feitos pelos líderes do Irã, que detêm uma margem pequena de maioria política no próprio país e que vinham sendo pressionados pelas alas mais radicais de seus apoiadores a responder energicamente e de forma direta - não mais através de grupos patrocinados pelo regime em outros países, como o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen - ao ataque ao seu consulado na Síria.
Ou seja, Israel, Estados Unidos e Reino Unido tiveram tempo hábil de se prepararem para os ataques de drones e mísseis de ontem.
Tanto que Israel informou ter interceptado 99% dos reportados 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos.
Os drones teoricamente levariam cerca de 12 horas de voo entre Irã e Israel. Já os mísseis, entre 12 e 15 minutos.
Assim, o ataque do Irã parece que foi calculado para não infligir danos materiais ou de vidas que exigissem uma resposta mais enérgica por parte de Israel.
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Pode-se até dizer que o Irã fez um ataque para aplacar os humores de seus aliados internos e mostrar que o regime do aiatolá Ali Khamenei controla o país com mão de ferro.
Portanto, a reação dos mercados nesta semana vai depender de alguns fatores.
O mais importante de todos: o quanto os EUA e o Reino Unido conseguirão convencer Netanyahu a limitar uma resposta ao ataque de ontem sem provocar uma escalada do conflito nem envolver outros países do Oriente Médio.
Se as declarações de Joe Biden e de Netanyahu - ou de figuras proeminentes do seu governo - derem indicações de que não haverá um novo conflito regional, os mercados podem começar a se acalmar e reduzir a aversão ao risco observada nas últimas semanas.
Obviamente, é de se esperar que, assim como o aiatolá Ali Khamenei, o primeiro-ministro Netanyahu tenha que aplacar a sanha de vingança das alas mais extremistas do seu governo.
A questão é: isso vai ficar limitado à retórica ou, se uma reação bélica for inevitável, quão telegrafada esta resposta será para não causar maiores danos ao Irã, assim como foram os ataques de ontem?
No curtíssimo prazo, a incerteza geopolítica deverá seguir exacerbada.
Mas seria muito difícil apostar que Joe Biden queira uma escalada para um conflito maior no Oriente Médio com as eleições presidenciais americanas se aproximando. Uma escalada regional do confronto entre Israel e Irã afetaria muito o preço do petróleo e, por tabela, a inflação americana. Tudo o que Biden, atrás de Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto, não quer neste momento. Os investidores deveriam ter esse fato no radar.
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