Análise | Até onde o dólar pode chegar: leia a análise de Felipe Salles

O fortalecimento do dólar não é um fenômeno exclusividade brasileiro, mas há condições que agravam a deterioração do real, explica o economista-chefe do C6 Bank

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Por Felipe Salles

O dólar registrou um novo recorde nominal nesta quarta-feira, e a pergunta que todos tentam responder é até onde a moeda americana pode chegar. O assunto é dos mais complexos, e fica muito difícil cravar qualquer cenário. Mas é, sim, possível levantar hipóteses sobre o que está acontecendo, quais os impactos na vida dos brasileiros e que caminhos devem ser seguidos. 

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Antes de olhar para dentro de casa, é importante entender o que está acontecendo lá fora. O fenômeno do fortalecimento do dólar não é exclusividade nossa. Esse movimento também acontece em relação a outras moedas, como o euro e a libra, e tende a se manter depois da sinalização dada hoje pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

A autoridade monetária dos EUA decidiu cortar os juros em 0,25 ponto percentual, mas revisou suas projeções: agora, prevê menos cortes de juros em 2025 – dois em vez de quatro – e espera que a inflação desacelere lentamente, voltando à meta de 2% apenas em 2027, e não mais em 2026.  Em resumo, os juros americanos devem continuar altos por mais tempo e isso leva, naturalmente, a uma atração de capitais do mundo inteiro para os EUA, fortalecendo o dólar.  

Para que o dólar retorne a níveis mais baixos, é importante que os investidores percebam que a trajetória fiscal brasileira é sustentável, explica economista Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Embora o cenário externo influencie bastante a alta do dólar frente ao real, ele não explica tudo. O componente doméstico tem um peso decisivo e, aqui, estamos falando principalmente de incertezas em relação à política fiscal e do elevado patamar da dívida pública brasileira.

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Para que o dólar retorne a níveis mais baixos, é importante que os investidores percebam que a trajetória fiscal brasileira é sustentável. Não significa que a dívida deve parar de subir amanhã, mas é essencial que sejam adotadas medidas que deem a clareza de que a dívida não vai crescer indefinidamente.  

Tem ficado cada vez mais evidente que a política monetária brasileira não está funcionando em seu modo habitual. Geralmente, uma alta de juros atrai capital externo e faz o dólar cair, puxando para baixo o preço dos produtos importados, com impacto na inflação.

Essa dinâmica não tem funcionado. Num contexto de dívida elevada, a alta de juros faz aumentar rapidamente o déficit público nominal, piora a trajetória da dívida, gera aversão ao risco e pressiona o dólar.

Ainda é muito cedo para dizer em que patamar o dólar vai se estabilizar, mas, se o câmbio seguir nos níveis atuais, continuaremos assistindo a uma escalada da inflação e a um Banco Central pressionado a manter os juros elevados por mais tempo. O melhor caminho possível para reverter esse cenário está na política fiscal, idealmente por meio de corte de gastos. O pacote de contenção de despesas vai na direção certa, mas medidas adicionais precisam ser implementadas.

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Análise por Felipe Salles

Economista-chefe do C6 Bank

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