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Banco Central apresenta cédula de R$ 200, com imagem do lobo-guará

As novas notas já estão circulando em capitais onde BC tem representação; cédula tem o mesmo tamanho da de R$ 20

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Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues

BRASÍLIA - O Banco Central lançou nesta quarta-feira, 2, a nova nota de R$ 200, que tem a imagem do lobo-guará. Serão impressas neste ano 450 milhões de unidades da nota de R$ 200, o que representará um montante de R$ 90 bilhões. As cores predominantes são cinza e sépia

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Escolhido para estampar as novas cédulas de R$ 200, o lobo-guará ficou em terceiro lugar em pesquisa realizada pelo BC em 2001 para definir os animais com ameaça de extinção que poderiam fazer parte de cédulas. A tartaruga marinha ficou em primeiro lugar e passou a estampar a nota de R$ 2, lançada em 2001. O mico-leão-dourado ficou em segundo lugar na votação e foi impresso na cédula de R$ 20 em 2002.

As novas cédulas já se encontram disponíveis em capitais onde BC tem representação. Além disso, o Banco do Brasil deve ajudar a levar as novas notas para as cidades do interior.

Nova nota de R$ 200,com a imagem do lobo-guará. Foto: Raphael Ribeiro/BCB

O mesmo tamanho da cédula de R$ 20

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A diretora de Administração do Banco Central, Carolina de Assis Barros, explicou que a nova cédula de R$ 200 tem o mesmo tamanho da cédula de R$ 20 (142 mm x 65 mm). Até então, todas as cédula da 2ª família do real tinham tamanhos crescentes conforme o valor nominal. 

“Não havia tempo hábil para a adaptação do parque fabril da Casa da Moeda para fabricar uma cédula maior que a de R$ 100. Por ser uma alta denominação de valor, escolhemos uma série de elementos de segurança robustos, incluindo o número que muda de cor, que já é usado na cédula de R$ 20”, explicou.

Entre os elementos de segurança, também há a marca d’água com a imagem do lobo-guará e do valor da nota, quando posicionada contra a luz. A exemplo de outras cédulas, há também um quebra-cabeça que pode ser visto através da nota. Também há textura em alto relevo e chamado fio de segurança.

Maior demanda por papel moeda

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De acordo com o BC, a impressão das notas de R$ 200 busca atender uma maior demanda por papel moeda, surgida entre a população durante a pandemia de coronavírus

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o lançamento da cédula é uma resposta do BC às mudanças provocadas por pandemia de covid-19.

“Um dos desafios foi o aumento expressivo da demanda das famílias por dinheiro desde o começo da pandemia. Outras nações viveram fenômenos semelhantes. Em momentos de incerteza é natural a busca de uma garantia de uma reserva em dinheiro. Os programas de transferência de renda - com a extensão do auxílio emergencial - também contribuem por essa maior demanda por dinheiro em espécie”, afirmou. Segundo Campos Neto, o retorno de cédulas às agencias bancárias também ficou menor durante a pandemia.

Nota de R$ 200 tem o mesmo tamanho da cédula de R$ 20. Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Carolina disse que as projeções do BC indicavam que numerário disponível poderia não atender demanda da população durante a pandemia. “O BC percebeu que estávamos diante de algo inédito desde a criação do real, em 1994. Em épocas de incerteza, dinheiro significa segurança e famílias e empresas fizeram saques para acumular reservas”, afirmou. “Precisávamos agir preventivamente e com responsabilidade. Vivemos em um país heterogêneo, mas o dinheiro em espécie ainda é a base das transações no Brasil.”

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CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Ela revelou que o BC chegou a cogitar a importação de cédulas e moedas, mas não havia capacidade disponível de produção no mercado internacional. “Os cálculos do BC, em uma análise conservadora, estimaram necessidade de R$ 105,9 bilhões em cinco meses, além do programado para o ano. Para gerar maior volume em menos tempo, imprimir cédula de R$ 100 não seria factível, pois a capacidade da Casa Moeda já estava inteiramente contratada para 2020”, acrescentou.  

Segundo Carolina, o custo de produção da nova nota é de R$ 325 por mil cédulas. Para comparação, a cédula de R$ 100 custa R$ 280 a cada mil notas produzidas. “Entendemos que os custos estão equilibrados. Trabalhamos com insumos nacionais e importados, cujos preços estão sujeitos a variação”, completou.

Carolina ressaltou ainda que as cédulas de maior valor já são aquelas em maior volume em circulação no País. Segundo ela, 21% das cédulas no mercado hoje são de R$ 100 e outros 32% se referem às de R$ 50. As de R$ 20 respondem por 12%, as de R$ 10 por 9% e as de R$ 2 por 18%.

Na Europa, nota 'bin landen' deixou de ser fabricada

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Em sua coluna no Estadão, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, criticou o lançamento da nova cédula. Ele cita uma conta de 2015 feita por Kenneth Rogoff, nos Estados Unidos, que mostra que há em circulação uma quantidade gigante de papel moeda correspondente a algo como US$ 4.200 por pessoa (incluindo crianças) e 78% desse valor seria mantido em cédulas de 100. Mas essas cédulas de 100 estariam concentadas no mundo da informalidade ou do crime.

Ao transportar a conta de Rogoff para o Brasil, Franco afirma que se tem algo em torno de R$ 1.098,7 per capita (incluindo crianças) em cédulas, sendo que cerca de metade seria em notas de 100 (cerca 90% em cédulas de 50 e 100), ou seja, muito parecido com o resultado americano. As cédulas de maior não estão acessíveis à maior parte da população.

Na Europa, segundo Franco, uma pesquisa do BCE (Banco Central Europeu) com usuários mostrava que 56% da amostra nunca tinha visto a cédula de 500, apelidada, significativamente, de “bin-laden”, e que deixou de ser fabricada em 2019 (mas não foi recolhida ou desmonetizada).

Além disso, o ex-presidente do BC cita o PIX, novo sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, que entrará em funcionamento em 16 de novembro. A nova ferramenta, que poderá ser utilizada a partir do celular, promete alterar profundamente a forma como as pessoas pagam contas e fazem compras, ao eliminar a necessidade de dinheiro ou cartão, de débito ou crédito.

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Tentativa de barrar o lançamento

Os partidos PSB, Podemos e Rede Sustentabilidade foram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar o lançamento com o argumento de que seria inconstitucional. Para as legendas, o lançamento da nota tem “grave vício de motivação” e pode facilitar a “atuação da criminalidade”.

“O Banco Central não apresentou nenhum estudo ou documento estruturado que trouxesse de forma aprofundada as razões e implicações da medida”, defendem os partidos. “O único arquivo disponibilizado para embasar a decisão foi uma singela apresentação de slides utilizada antes de entrevista coletiva concedida pela Diretora de Administração da autarquia”.

Os dados do BC mostram que, de fato, houve uma elevação do dinheiro em circulação durante a pandemia. No fim de fevereiro – antes do acirramento da crise provocada pela covid-19 – a base monetária somava R$ 303,197 bilhões. Em 14 de agosto, ela já estava em R$ 419,258 bilhões.

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O procurador-geral adjunto do Banco Central, Marcel Mascarenhas, afirmou que o BC avaliará as medidas cabíveis, caso o STF decida a favor de partidos de oposição. "O BC tem muita convicção da juridicidade da solução encontrada e implementada. Temos a expectativa de conseguir convencer o Supremo Tribunal sobre o assunto. Caso sobrevenha alguma decisão em sentido contrário, examinaremos seus efeitos e avaliaremos as medidas cabíveis", afirmou Mascarenhas durante o lançamento da cédula.

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