BRASÍLIA – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou nesta quarta-feira, 19, a taxa básica de juros (Selic) em um ponto porcentual, de 13,25% para 14,25% ao ano – seguindo o plano de voo para conter a inflação sinalizado em dezembro e reforçado na reunião anterior, em janeiro. A decisão foi unânime.
Com a decisão, o Copom colocou os juros no mesmo patamar registrado na crise econômica deflagrada no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment em agosto de 2016. Trata-se do maior nível nominal dos juros desde outubro de 2016, já com Michel Temer na presidência.
O Copom já sinalizou que esse patamar deve ser superado na próxima reunião, em maio, com uma nova elevação da taxa, porém em ritmo menor. “Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”, diz o comunicado.
A partir da reunião seguinte, de junho, a magnitude total do ciclo será ditada pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica de inflação”.
O colegiado atribuiu a elevação da taxa de juros nesta quarta ao cenário mais recente, que é marcado por projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Isso, conforme a cúpula do BC, exige uma política monetária mais contracionista.
“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo, ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento”, pontuou a cúpula da instituição.
O comitê repetiu que acompanha “com atenção” os impactos de desenvolvimentos recentes na política fiscal sobre a política monetária e os preços dos ativos financeiros.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, afirmou o comitê, repetindo um trecho que já constava no comunicado anterior, de janeiro.

Esta é a quinta alta seguida da Selic, sendo a terceira de um ponto porcentual.
Desde setembro, o BC já aumentou a Selic em 3,75 pontos – o segundo maior ciclo de alta dos últimos 20 anos, empatado com os ciclos finalizados em março de 2005 e abril de 2014 e perdendo apenas para a alta de 11,75 pontos entre março de 2021 e agosto de 2022, que ocorreu após o fim da pandemia.
Riscos para a inflação
O Copom voltou a citar três riscos para cima e apenas dois para baixo no seu balanço de riscos para a inflação.
“Persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação”, informou o comitê no comunicado.
Como riscos para cima, o colegiado voltou a citar a desancoragem das expectativas de inflação por tempo mais prolongado; uma maior resiliência da inflação de serviços e a conjunção de políticas econômicas interna e externa que tenham impacto inflacionário maior do que o esperado – por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Como riscos de baixa, o comitê mencionou uma eventual desaceleração da economia doméstica mais forte do que o esperado; e um cenário menos inflacionário para economias emergentes, decorrente do que classificou como “choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.”
Desafio Trump
O Copom avaliou que o ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos – em referência ao “tarifaço” promovido pelo presidente Donald Trump.
“Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed (banco central dos EUA) e acerca do ritmo de crescimento nos demais países”, pontuou o colegiado.
Os bancos centrais das principais economias, conforme o BC brasileiro, permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia ainda que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Juros reais
Apesar da alta de um ponto na Selic, o Brasil caiu da segunda para a quarta posição no ranking dos maiores juros reais (descontada a inflação) elaborado pelo site MoneYou, com 8,79%. O País fica atrás da Turquia (11,90%), Argentina (9,35%) e Rússia (8,91%), e à frente de Indonésia (6,48%).
O BC calcula que a taxa real neutra de juros do Brasil – que não estimula, nem deprime a economia – é de 5,0%.
Projeções de inflação
O Copom diminuiu a sua projeção para a inflação acumulada em 12 meses até o fim do terceiro trimestre de 2026, horizonte relevante da política monetária. A estimativa caiu de 4,0% para 3,9% no cenário de referência, distanciando-se do teto da meta, de 4,50%.
É a primeira redução na projeção do Banco Central para o IPCA no horizonte relevante desde que a métrica começou a ser divulgada, em julho de 2024.
Apesar da redução, a estimativa ainda indica que a trajetória da taxa Selic embutida no relatório Focus - com alta dos juros a 15% no fim do ciclo, em junho, e sem cortes ao longo de 2025 - seria insuficiente para fazer a inflação convergir ao centro da meta, de 3%, no período de seis trimestres observado pelo Banco Central (BC).
“O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”, destaca o comunicado do Copom.
Desde a última reunião, de janeiro, a cotação do dólar usada pelo comitê nas suas projeções caiu de R$ 6,0 para R$ 5,80. As medianas do Focus para o IPCA de 2025 e 2026 subiram de 5,50% para 5,66% e de 4,22% para 4,48%, respectivamente, mas diminuíram o ritmo de alta.
A projeção do Copom para o IPCA acumulado em 2025 passou de 5,2% para 5,1%.
Todas as estimativas levam em conta a evolução da taxa de câmbio conforme a paridade do poder de compra (PPC), a trajetória de Selic embutida no relatório Focus e o preço do petróleo seguindo a curva futura por aproximadamente seis meses, passando a aumentar 2% ao ano posteriormente.
Também nesse cenário de referência, o Copom ajustou as suas projeções para a inflação de preços livres em 2025 (5,2% para 5,4%) e manteve a projeção para o terceiro trimestre de 2026 (3,8%). A projeção para os preços administrados passou de 5,2% para 4,3% este ano e de 4,6% para 4,2% no horizonte relevante