PEQUIM - Em um movimento que vai na contramão da maior parte das grandes economias mundiais, o Banco Central da China anunciou nesta sexta-feira, 15, que vai afrouxar suas regras para ajudar a promover o crescimento econômico à medida que surtos de coronavírus no país e medidas de quarentena vêm prejudicando as empresas e os consumidores chineses.
O Banco Popular da China, nome oficial do BC chinês, disse que vai reduzir o depósito compulsório para os bancos do país. A medida entra em vigor no dia 25 de abril e permite que os bancos usem um volume maior de seus recursos nas operações de crédito. Com isso, os bancos reduzem a quantidade de dinheiro que precisam manter no Banco Central, onde o rendimento é praticamente nulo.
O BC chinês disse em comunicado que estava agindo “para apoiar o desenvolvimento da economia real e promover a estabilidade dos custos de financiamento”.
A taxa do depósito compulsório do BC chinês já havia sido reduzida em dezembro. Com a decisão desta sexta-feira, a autoridade monetária reduz a taxa em 0,25 ponto percentual para a maior parte dos bancos e em 0,5 ponto para alguns dos bancos menores que fazem mais empréstimos para pequenas empresas em dificuldades financeiras. Com a redução, a taxa de compulsória cairá para uma média de 8,1% para as instituições financeiras da China.
O Banco Central chinês disse ainda que a redução nas reservas obrigatórias pode liberar os bancos para oferecer cerca de US$ 83 bilhões em crédito extra.
Muitos países estão mais preocupados com o combate à inflação do que com o estímulo a suas economias, e estão elevando as taxas de juros de juros no curto prazo para tornar mais custoso para empresas e famílias tomarem empréstimos e gastar. A Coreia do Sul e a Nova Zelândia subiram suas taxas de juros nesta semana. O Federal Reserve (o banco central americano) e o Banco da Inglaterra também subiram as taxas de juros no mês passado. O Banco Central Europeu ainda não elevou as taxas de juros, mas disse na quinta-feira, 15, que poderia interromper as compras de títulos, o que indiretamente poderia ter o mesmo efeito para encarecer o crédito.
Mas enquanto a maior parte do mundo os gastos estão elevados, impulsionando o aumento de preços, isso não está ocorrendo na China. O consumo das famílias está estagnado à medida que muitas das grandes cidades do país impuseram medidas de quarentena. Montadoras de veículos, fabricantes de eletrônicos e empresas de outros grandes setores industriais estão com dificuldades para manter a operação depois que os lockdowns prejudicaram o tráfego de caminhões que abastecem as fábricas com componentes e matérias-primas e transportam os produtos para lojas e portos, para exportação.
O BC chinês não reduziu as taxas de juros nesta sexta-feira, como alguns economistas esperavam. Cortar as taxas de juros poderia dar aos bancos um incentivo para realizar empréstimos apenas para as empresas mais sólidas financeiramente – o que na China são as empresas estatais.
Manter as taxas de juros no nível atual, mas dizer aos bancos que eles podem emprestar mais dinheiro é o sinal mais recente de que o governo chinês quer que o sistema financeiro ofereça mais crédito para pequenas e médias empresas, que têm um papel crucial em estimular a geração de empregos e foram justamente as mais prejudicadas pelos lockdowns e outras medidas para controlar os surtos de coronavírus.
A inflação não é um problema tão grave na China quanto em outros países neste momento. Em março, os preços ao consumidor acumulavam alta de 1,5% nos últimos 12 meses, de acordo com os dados oficiais. A demanda tem sido fraca, especialmente porque muitas famílias não podem sair de casa para fazer compras por causa dos lockdowns, e as lojas se encontram com estoques em alta e com pouca capacidade de aumentar os preços.
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