O Banco Master, que na sexta-feira, 28, formalizou acordo para vender uma fatia de seu patrimônio ao Banco de Brasília (BRB), numa transação estimada em cerca de R$ 2 bilhões, tem alguns bilhões de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) a vencer no curto prazo, apesar de focar suas captações em pessoas físicas com prazos que chegaram a variar entre cinco anos e oito anos.
Os números do balanço de 2024, publicado ao anoitecer desta terça-feira, 1º, informam que o patrimônio líquido do Master encerrou o ano em R$ 4,7 bilhões, alta de 104% no ano, e que os ativos totais terminaram dezembro em R$ 63 bilhões, expansão de 75%. Porém, mostram também a existência de R$ 7,6 bilhões em papéis vencendo apenas de janeiro a junho de 2025. Ao todo, neste ano, os compromissos chegam a R$ 12,4 bilhões.
O acordo de venda ainda depende da análise do Banco Central, e pessoas envolvidas na negociação não descartam que o BTG Pactual ainda possa entrar no negócio, embora o Master, ao ser procurado para comentar essa possibilidade, não se manifestou.
O total de depósitos a prazo do banco chegou a R$ 49 bilhões, sendo a grande maioria composta por CDBs do Master, do Voiter e da fintech will bank — esses dois últimos foram comprados no ano passado.
O total de depósitos deu um salto em relação a 2023, quando estava em R$ 30 bilhões, que por sua vez já mostrava expansão acelerada em relação a outros períodos. Os dados mostram o rápido avanço do banco na captação de recursos com títulos vendidos à pessoa física. Em 2020, o total dos depósitos a prazo estava em R$ 5 bilhões.

Em meio a esses compromissos de curto prazo, o banco de Daniel Vorcaro foi esbarrando em dificuldades para diversificar seu funding (captação de recursos para bancar as operações), por conta das notícias negativas sobre o banco que começaram a vir a público.
Ao mesmo tempo, começou a sentir pressão sobre sua operação, com o aperto das normas pelo Banco Central para reduzir a dependência da captação via CDBs, seguido de restrição à distribuição desses papéis por plataformas de investimento.
Diante disso, o Master tentou vender letras financeiras no mercado a gestoras, sem sucesso, e chegou então aos fundos de previdência de servidores estaduais e municipais. Levantou mais de R$ 800 milhões por esses canais, depois de ter uma operação rejeitada pelos gestores da Caixa Asset.
Para sustentar suas operações de crédito no segmento de empresas sem liquidez, portanto, o banco foi alongando os prazos de captação dos CDBs, oferecendo taxas de retorno acima de outros bancos, que superam os 140% do CDI. Por isso, o problema aqui é diferente de uma crise clássica de liquidez, já que o financiamento do banco se dava com títulos de vencimento mais longo.
Apesar de se apoiar em vencimentos mais longos, o banco se deparou a uma situação de dificuldades para liquidar e honrar compromissos, à medida que CDBs captados no passado foram vencendo e a capacidade de captação foi ficando mais limitada.
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A Moody’s, em outubro passado, já alertava para a necessidade de diversificação da captação de recursos pelo banco. “O funding (captação) é o desafio principal”, disse o vice-presidente e analista sênior da Moody’s, Lucas Viegas, ao Estadão/Broadcast naquele momento.
Para isso, a receita seria montar uma franquia de depósitos com clientes próprios e ter um diálogo com as gestoras que outros bancos já têm. “Esses relacionamentos têm de ser criados, não acontecem da noite para o dia.”
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, no ano passado, Vorcaro havia sinalizado a intenção de buscar novas frentes de captação. “A ideia é trazer capital estrangeiro, seja para título do banco, seja, no futuro, para participação acionária”, disse. Ele esperava emitir US$ 1 bilhão em títulos no exterior em 2025, volume que normalmente é acessado por grandes bancos.