Grandes bancos veem na crise do Master chance de rever as regras de fundo que protege investidores

Medida muito pesada por parte da autoridade monetária poderia atrapalhar o financiamento dos bancos médios; tema foi tratado em reunião com Galípolo

Foto do author Mariana Carneiro

BRASÍLIA - O caso do Banco Master, que se notabilizou em vender CDBs prometendo um retorno bem acima dos praticados no mercado, acelerou as discussões sobre a revisão do uso do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Bancos médios − não apenas o Master −, têm usado como estratégia captar dinheiro no mercado usando a propaganda de que o seguro pode ser acionado caso a instituição financeira quebre. O FGC protege investidores até o limite de R$ 250 mil por CPF.

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Esse tipo de estratégia aumentou a relevância dos CDBs como fonte de financiamento para essas instituições. O problema é que são os depósitos feitos por correntistas nos grandes bancos que pagam a conta.

Na reunião deste sábado, 4, com os principais executivos dos três maiores bancos do País (Itaú, Bradesco e Santander), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, também tratou do assunto, para além das soluções do Master.

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O argumento dos banqueiros com Galípolo é a necessidade de se criar regras para evitar que casos como este se repitam, com desincentivos à tomada exagerada de risco pelos bancos em operações de captação − o Master, por exemplo, oferecia CDBs a uma taxa de 140% do CDI, o que representa 20% ao ano com o atual nível da Selic. Os grandes bancos não chegam a ultrapassar 100%.

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O problema é que uma medida muito pesada por parte da autoridade monetária poderia atrapalhar o financiamento dos bancos médios, asfixiando competidores em um mercado já concentrado nos grandes bancos.

Um dos participantes da reunião disse, sob reserva, que é preciso encontrar um equilíbrio. “Querem ajudar a pagar a conta ou apenas serem convidados para o jantar? O pessoal se beneficia, mas não quer ajudar a pagar a conta”.

O balanço do Banco Master mostra que há R$ 49 bilhões em CDBs lançados no mercado, dos quais R$ 7,6 bilhões com vencimento previsto no primeiro semestre deste ano.

O valor representa praticamente a metade do total disponível no FGC, de R$ 107 bilhões, e é mantido por todas as instituições financeiras por meio de uma contribuição de 0,01% dos depósitos bancários. O custo é repassado ao cliente final na composição do chamado spread bancário.

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Instituições do mesmo porte do Master, chamadas de S3 na classificação do BC, têm o total de R$ 588 bilhões em CDBs no mercado, segundo dados do FGC de janeiro deste ano.

Por serem menos conhecidos, os bancos menores oferecem a investidores uma remuneração mais alta do que os grandes bancos para atrair atenção. Com o crescimento das plataformas de investimentos, esses títulos passaram a ser oferecidos em larga escala, o que contribuiu para o crescimento desse tipo de captação.

Não se chegou a uma decisão na reunião deste sábado, mas o BC terá de arbitrar uma medida que colocará em lados opostos os grandes bancos e os médios.

Uma das propostas feitas pelos grandes bancos antes do caso Master estourar é que o Conselho Monetário Nacional altere as exigências para as instituições que usam o CDB em patamares muito superiores ao seu patrimônio. A ideia é aumentar a contribuição dessas instituições em quase dez vezes e ainda obrigá-las a manter em seus balanços títulos públicos, o que desencorajaria operações mais arriscadas de financiamento.

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