Análise | Sozinho contra a inflação e com dólar na máxima, BC vai acelerar a alta dos juros; veja 6 motivos

Risco fiscal, estímulo ao consumo e piora do cenário externo estão entre as causas que levarão a Selic para a casa de 12%

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Foto do author Alvaro Gribel

BRASÍLIA - O Banco Central não terá alternativa a não ser acelerar o ritmo de alta da taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira, 11. A dúvida no mercado é se o aumento será de 0,75 ponto ou 1 ponto percentual, o que levaria a Selic para 12%, no primeiro caso, ou a 12,25%, no segundo.

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Há seis motivos principais que levarão a essa aceleração dos juros. Veja abaixo:

1) O Banco Central se vê praticamente sozinho no combate à inflação, já que a política fiscal do governo Lula tem sido incapaz de transmitir confiança de que irá controlar o crescimento da dívida pública. Desde o início deste mandato, a dívida bruta saltou de 71,68% do PIB, em dezembro de 2022, para 78,6% em outubro de 2024, e a tendência é de que continue crescendo.

Sede do Banco Central em Brasília Foto: Rmcarvalhobsb /Adobe Stock

2) O pacote fiscal anunciado no início do mês também veio acompanhado da promessa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Se a medida vai ajudar no reequilíbrio distributivo, também vai estimular o consumo - o que é ruim para a inflação - já que essa faixa de renda tende a gastar mais, em comparação aos mais ricos, que serão taxados com imposto mínimo para compensar a renúncia fiscal.

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3) Com o dólar operando na sua máxima nominal histórica, acima dos R$ 6,00, o Banco Central precisa estar atento aos “efeitos secundários” da valorização da moeda americana. Quanto mais aquecida estiver a economia brasileira, maior a chance de repasse do dólar para produtos e até serviços consumidos no Brasil.

4) Como mostraram indicadores divulgados esta semana, a inflação corrente está acima do teto da meta, em 4,87% em 12 meses até novembro, e as projeções de inflação também estão “desancoradas”, com aumento nas projeções para os anos de 2024, 2025, 2026 e até 2027. Com o quadro pior no presente, mas também no futuro, a receita é juros mais altos.

5) A economia está crescendo fortemente, com desemprego nas mínimas históricas (6,2% no trimestre encerrado em outubro). Nesta quarta-feira, o IBGE divulgou a pesquisa mensal de serviços, com crescimento de 1,1% em outubro, atingindo um novo recorde da série. Após o dado, o Bradesco colocou a projeção para o PIB deste ano, hoje em 3,5%, em viés de alta. Crescimento forte e desemprego baixo representam pressão sobre os preços.

6) O cenário externo está muito mais incerto depois da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Pelo menos duas das principais promessas de campanha do candidato têm impacto inflacionário: a deportação de imigrantes ilegais e aumento de barreiras comerciais para outros países. Com perspectiva de inflação mais alta por lá, o Fed deve reduzir menos os juros em 2025. Isso tende a atrair capital para os EUA, desvalorizando moedas de países emergentes como o Brasil.

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Os juros mais altos são o pior dos remédios, porque devem impactar o crescimento do PIB, via postergação de investimentos e piora no mercado de trabalho. Mas a inflação descontrolada é uma doença muito mais grave que precisa ser prontamente combatida pela política monetária.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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