BRASÍLIA - Para tentar conter a escalada do dólar, o Banco Central já injetou US$ 15,245 bilhões em recursos novos no mercado do câmbio apenas em março. Desde o início deste mês, tem usado de todos os instrumentos disponíveis para garantir que não faltem dólares, atuando nos momentos de estresse nas mesas de negociação que fizeram com que a cotação do dólar chegasse a superar a marca dos R$ 5 durante a última semana. O dólar vem subindo em todo o mundo em meio à busca dos investidores por ativos de proteção. Por trás do movimento, está o avanço da pandemia de coronavírus em todo o mundo, com epicentro na Europa, e as incertezas sobre a duração e a magnitude dos efeitos da doença sobre o crescimento da economia global.
Para piorar, no começo de março, os países produtores de petróleo entraram em uma disputa que levou à forte queda no preço internacional do barril. Por fim, no Brasil, o cenário político conturbado em torno do orçamento impositivo tem servido de estímulo para um dólar ainda mais caro. Somente em 2020 o dólar acumula uma alta de 20% em relação ao real. Considerando apenas as duas primeiras semanas de março, o avanço da moeda americana foi de 7,54%. Esse aumento só não foi maior porque o BC atuou diariamente no mercado, lançando um arsenal de intervenções, muitas delas sem aviso prévio durante os momentos de maior volatilidade da moeda. Nesta sexta-feira, 13, o dólar fechou em R$ 4,8163. Nesta semana, o BC vendeu US$ 7,2 bilhões à vista aos agentes financeiros. Esse tipo de operação significa uma injeção de recursos "na veia", já que os contratos não preveem a recompra desses valores pela autoridade monetária no futuro. Na prática, significa que o governo está "queimando" parte das reservas internacionais para estancar o dólar. Conforme mostrou o Estadão/Broadcast em dezembro, o BC vendeu US$ 28 bilhões à vista ao longo de todo o segundo semestre do ano passado para enfrentar as flutuações da moeda. Somente nesta semana, no entanto, precisou vender um quarto desse valor. Intercalado às vendas de dólares à vista, a autoridade monetária negociou outros US$ 6 bilhões neste mês em novas operações de swap cambial, um tipo de contrato cuja negociação tem efeito equivalente à venda de dólares no mercado futuro. É justamente o mercado futuro de dólar o mais líquido no País e o que costuma conduzir as cotações - inclusive, do dólar à vista. Nesta sexta-feira, o BC ainda vendeu mais US$ 2 bilhões de recursos novos em leilões de linha com recompra. Esse tipo de operação já traz embutida a garantia de que a autoridade monetária irá reaver os montantes negociados em uma data futura. No começo da semana, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, já havia adiantado que instituição utilizaria todo o arsenal de medidas para agir no mercado de câmbio. "Não temos preconceitos contra nenhum instrumento", afirmou em evento em São Paulo. Serra, por outro lado, rechaçou antecipar os volumes que o BC pode desembolsar para corrigir as disfuncionalidades do mercado de câmbio. "Não há definição de lotes", acrescentou. Com isso, as comunicações sobre essas intervenções têm sido pontuais, na véspera dos leilões programados ou instantes antes de leilões extras. Parte do mercado, porém, defende que o BC divulgue um "programa cambial" com cronograma para intervenções e o volume total disponível. A tese é defendida pelo ex-diretor do BC e atual economista-chefe do UBS, Tony Volpon, como um meio de fornecer mais segurança e previsibilidade aos agentes. Já o ex-secretário do Tesouro Nacional e atual diretor do ASA Bank, Carlos Kawall, chega a propor um pacote de US$ 50 bilhões para compras e vendas ou leilões de troca. Mesmo sem um anúncio claro do tamanho do arsenal do BC para agir no câmbio, não faltam recursos no colchão de liquidez da autoridade monetária. As reservas internacionais do Brasil estão na casa dos US$ 361 bilhões. E a posição cambial líquida - que considera também o resultado das operações com swaps - está em torno de US$ 330 bilhões.
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