Dólar fecha pela 1ª vez em queda após as intervenções no câmbio; BC anuncia novos leilões na sexta

Depois de a moeda ter atingido R$ 6,30 na manhã desta quinta-feira, 19, o Banco Central fez o maior leilão desde o início das intervenções, e a cotação fechou em R$ 6,12, queda de 2,27%

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Pela primeira vez desde o início da série de intervenções no câmbio, o dólar fechou em queda, de 2,27%, a R$ 6,1237, nesta quinta-feira, 19. Para isso, porém, o Banco Central teve de fazer um segundo leilão pela manhã, no valor total de US$ 5 bilhões, depois de a moeda americana ter atingido a casa dos R$ 6,30 — mais do que o fechamento recorde da véspera (R$ 6,2657), mesmo depois de um primeiro leilão de US$ 3 bilhões, o primeiro do dia.

PUBLICIDADE

À noite, o BC anunciou que fará um novo leilão no mercado à vista, de US$ 3 bilhões, nesta sexta-feira, 20, das 9h15 às 9h20.

Conforme o comunicado do BC, “cada ‘dealer’ de câmbio poderá enviar até três propostas que deverão conter o volume pretendido e o diferencial, com até seis casas decimais, a ser adicionado ou diminuído da taxa de venda USDBRL do boletim de fechamento Ptax do dia do leilão”.

Também está previsto um leilão com compromisso de recompra, de US$ 4 bilhões.

Publicidade

Com os leilões desta quinta-feira, o tamanho da intervenção do BC no câmbio, em um contexto de desconfiança do mercado em relação ao controle de gastos do governo, somada à influência de fatores externos e sazonais, já chega a US$ 20,7 bilhões.

Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, ça-feira, 16, o BC já havia injetado US$ 12,760 bilhões no mercado, em sete leilões à vista ou com compromisso de recompra (leilão de linha), na maior intervenção em um único mês desde março de 2020.

Moeda americana vem atingindo patamares recordes Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou a disparada da cotação da moeda americana, e disse que o câmbio é flutuante e que deve se acomodar à frente. Segundo o ministro, as previsões de grandes instituições financeiras para a inflação indicam uma melhora do cenário. “A previsão de inflação para o ano que vem, a previsão de câmbio para o ano que vem, até aqui, nas conversas com as grandes instituições, são melhores do que as que os especuladores estão fazendo”, disse.

Indagado sobre a possibilidade de o Brasil estar sofrendo com uma especulação contra o real, o ministro afirmou que o ideal é “olhar os fundamentos”. Segundo ele, movimentos especulativos são coibidos com intervenções do Banco Central e do Tesouro Nacional, ele destacou, citando os leilões de recompra de títulos anunciados pelo Tesouro.

Publicidade

Questão fiscal é a lição de casa

Para analistas, no entanto, a grande questão que precisa ser pelo menos endereçada é a fiscal. Segundo Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, em artigo para o Estadão, para que o dólar retorne a níveis mais baixos, é importante que os investidores percebam que a trajetória fiscal brasileira é sustentável. “Não significa que a dívida deve parar de subir amanhã, mas é essencial que sejam adotadas medidas que deem a clareza de que a dívida não vai crescer indefinidamente.”

Segundo ele, tem ficado cada vez mais evidente que a política monetária brasileira não está funcionando em seu modo habitual. “Geralmente, uma alta de juros atrai capital externo e faz o dólar cair, puxando para baixo o preço dos produtos importados, com impacto na inflação.”

Mas essa dinâmica, agora, não tem funcionado, diz. “Num contexto de dívida elevada, a alta de juros faz aumentar rapidamente o déficit público nominal, piora a trajetória da dívida, gera aversão ao risco e pressiona o dólar.”

A avaliação do economista é que ainda é muito cedo para dizer em que patamar o dólar vai se estabilizar. “Mas, se o câmbio seguir nos níveis atuais, continuaremos assistindo a uma escalada da inflação e a um Banco Central pressionado a manter os juros elevados por mais tempo. O melhor caminho possível para reverter esse cenário está na política fiscal, idealmente por meio de corte de gastos. O pacote de contenção de despesas vai na direção certa, mas medidas adicionais precisam ser implementadas.”

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.