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BC resiste a pressões do governo, mantém juro a 13,75% pela 5ª vez seguida e não descarta nova alta

Em nota, Copom afirma que ‘não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado’; estabilidade da Selic era esperada pelo mercado

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Foto do author Célia Froufe
Foto do author Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA – Em meio às pressões do governo Lula pela queda nos juros, mas ainda no escuro em relação à proposta da equipe econômica de novo arcabouço fiscal para o País, o Banco Central seguiu o plano de voo e manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida.

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O comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) não trouxe nenhuma menção ao início de um ciclo de redução dos juros. Em um texto curto, o comitê destacou a deterioração das expectativas de inflação para prazos mais longos e voltou a citar a possibilidade inclusive de voltar a aumentar a Selic.

O órgão enfatizou que incertezas forçam o BC a continuar vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. Diferentemente do comunicado anterior, porém, a autoridade monetária não citou dessa vez a possibilidade de estacionar a Selic por mais tempo que o previsto em seu cenário de referência.

“O comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, afirma o comunicado.

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A segunda manutenção da Selic pelo Copom neste ano era consenso no mercado financeiro diante da estratégia anunciada pelo órgão de estabilidade da taxa por um período “suficientemente prolongado”. Os juros estão no maior nível desde janeiro de 2017. Conforme pesquisa do Estadão/Broadcast, todas as 45 instituições financeiras consultadas esperavam a estabilidade em 13,75% ao ano.

Além das reiteradas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT à condução da política monetária sob o comando de Roberto Campos Neto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não perde a oportunidade de atacar o “maior juro real do mundo”.

Após a volta parcial da tributação sobre a gasolina no começo de março, a equipe econômica dobrou a cobrança por uma sinalização do Copom sobre o início de um ciclo de queda na Selic. O comitê que reúne os diretores do BC até citou a reoneração dos combustíveis como responsável por reduzir a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo, mas disse permanecerem alguns fatores de risco: a maior persistência das pressões inflacionárias globais; a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e uma desancoragem duradoura das expectativas de inflação para prazos mais longos.

“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”, afirmou a nota divulgada após o encontro.

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O mercado segue ansioso por mais detalhes sobre a proposta da nova regra fiscal, cuja apresentação Haddad prometeu para esta semana, mas Lula adiou para abril. As incertezas têm elevado as expectativas de inflação para 2023 e 2024, mas também para prazos de 2025 e 2026, fora do horizonte relevante do Copom.

Como mostrou o Estadão, Lula adiou a divulgação do novo arcabouço fiscal para definir o tamanho do aumento nos gastos com saúde e educação.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, esteve sob forte pressão do governo Lula Foto: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

No último Boletim Focus, as projeções eram de 5,95% para 2023, bastante acima do teto da meta de 4,75%, o que aponta para três anos seguidos de descumprimento pelo BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022.

Para 2024, a previsão de mercado é de 4,11%, bem mais alta do que o alvo central de 3,00%, mas aquém do limite superior de 4,50%. Para 2025 e 2026, as projeções estavam em 3,90% e 4,00%%. A meta para 2025 é de 3,00% e, para 2026, o objetivo inflacionário ainda não foi definido.

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Entenda o impacto

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O Copom calibra a taxa de juros para o controle da alta de preços. Quanto maior a inflação, menor é o poder de compra das pessoas, principalmente das que recebem salários menores.

O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.

Juro real

Mesmo com a estabilidade da taxa Selic pela quinta reunião consecutiva, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 6,94% ao ano.

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Em segundo lugar na lista que considera as economias mais relevantes, aparece o México (6,05%), seguido do Chile (4,92%). A média dos 40 países avaliados é de -1,92%.