Muitas das reservas de minério de ferro e cobre mais ricas do mundo são anteriores à ruptura do último supercontinente, Pangéia, há cerca de 200 milhões de anos. Posteriormente, as mudanças tectônicas espalharam os dois metais favoritos da economia global pela superfície da Terra. Uma grande quantidade de ferro foi parar no que hoje são a Austrália e o Brasil. Prodigiosas camadas de cobre pré-pangeia se estabeleceram em lugares como a África Central.
Em tempos mais recentes − extremamente recentes, geologicamente falando −, o setor de mineração formado para escavar essa antiga recompensa vem passando por sua própria versão de deriva continental. Seu modelo de negócios está se dividindo, dizem os chefes ocidentais. De um lado estão gigantes multinacionais como a BHP, a Rio Tinto e a Vale. Elas têm como objetivo maximizar os retornos sobre o capital que colocam para trabalhar, ao mesmo tempo em que adotam uma abordagem cautelosa em relação aos riscos. Do outro lado, estão os rivais chineses, que são muito mais agressivos. À medida que o minério de ferro e o cobre se tornam mais escassos, isso pode significar problemas para as empresas ocidentais.

Os minerais críticos que recebem mais atenção tendem a ser coisas como lítio, usado em baterias, e metais de terras raras com nomes exóticos, como vanádio, que são usados em eletrônicos. Eles são a razão pela qual Donald Trump cobiça a Groenlândia e o acesso às riquezas subterrâneas da Ucrânia, que ele exigiu em troca da ajuda americana para negociar a paz com a Rússia. O minério de ferro e o cobre, que representam talvez metade do valor de todos os metais extraídos em todo o mundo, não provocam tais ataques.
As terras raras e o lítio são comuns, mas difíceis e sujos de extrair. Com algumas fábricas domésticas, os Estados Unidos poderiam “resolver seu problema de terras raras”, avalia um executivo de mineração, a um custo de talvez US$ 20 bilhões a US$ 40 bilhões (R$ 114 bilhões e R$ 224 bilhões) − uma partícula de poeira na pilha que é o orçamento federal de US$ 7 trilhões (R$ 40 trilhões) por ano. Os dois grandes metais básicos, por outro lado, sempre foram difíceis de encontrar e estão se tornando cada vez mais difíceis à medida que os depósitos conhecidos são retirados.
Durante boa parte das últimas quatro décadas, as gigantescas mineradoras ocidentais fizeram a maioria da escavação. Eles foram estimulados pela globalização, que estava emergindo como a força mais poderosa que moldava a era que alguns geólogos batizaram de antropoceno. A ascensão do Japão na década de 1980 e da China a partir dos anos 2000 impulsionou a demanda por cabos de aço e cobre. Entre 2010 e 2014, quando a China ficou obcecada com a construção e os preços dos metais subiram, a BHP, a Rio Tinto e a Vale investiram, juntas, US$ 200 bilhões (R$ 1,1 trilhão) em investimentos de capital.
Isso deixou os gigantes dos metais básicos expostos quando os preços despencaram. De 2015 a 2019, os lucros anuais coletivos antes dos impostos do trio foram, em média, de US$ 30 bilhões (R$ 171 bilhões), em comparação com quase US$ 60 bilhões (R$ 342 bilhões) nos cinco anos anteriores. Em um determinado momento, no início de 2016, as três valiam menos do que o valor contábil de seus ativos. Os retornos sobre esses ativos tinham acabado de se tornar negativos, abaixo dos 15–25% registrados em meados de 2011. O valor de mercado combinado das três caiu de mais de meio trilhão de dólares em 2011 para pouco mais de US$ 100 bilhões (R$ 571 bilhões) cinco anos depois.
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O descontentamento dos investidores com a indisciplina do capital forçou as mineradoras a pensar cuidadosamente sobre onde colocar seu dinheiro. Cada projeto agora é examinado quanto ao seu potencial de maximização de lucros. Os gastos de capital foram controlados. Os lucros se recuperaram. As capitalizações de mercado não voltaram aos altos patamares do início da década de 2010, mas não estão mais no chão.
À medida que as empresas ocidentais se tornaram menos aventureiras, as rivais chinesas controladas pelo Estado se tornaram mais. Parte disso tem a ver com a maior tolerância chinesa em relação a jurisdições duvidosas. Empresas listadas em bolsa, mas controladas pelo Estado, como a Zijin Mining e a CMOC, entraram na República Democrática do Congo (RDC), devastada por conflitos, ansiosas para colocar as mãos no cobre da África Central, bem como nas maiores reservas conhecidas de cobalto do mundo (que também é importante para a fabricação de baterias). Um consórcio liderado pela China fez o mesmo com uma grande parte do gigantesco projeto de minério de ferro Simandou, na Guiné, que já foi detido pela Vale (a Rio Tinto mantém uma participação).
É verdade que as empresas chinesas tendem a ser menos limitadas do que as empresas ocidentais por preocupações com direitos humanos, vandalismo ambiental e corrupção. Para nivelar o campo de atuação e “promover a segurança econômica e nacional americana”, Trump ordenou que seu Departamento de Justiça parasse de aplicar a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior. No entanto, os chineses têm duas vantagens ainda maiores. A primeira, compartilhada com o restante do setor chinês, é uma atitude despreocupada em relação aos lucros. A margem operacional de 11% da Zijin é menos da metade da margem da Rio Tinto e da Vale, e um terço da margem da BHP. A Jiangxi Copper consegue 2%. Apesar disso, elas desfrutam de um custo de capital mais baixo, graças ao seu patrocinador estatal.
Sem compromisso financeiro
O desprezo pelo resultado final permite que os chineses se movam mais rapidamente − sua segunda vantagem. A CNMC, uma mineradora chinesa totalmente estatal, levou menos de quatro anos para desenvolver a mina de cobre e cobalto Deziwa na RDC, desde a assinatura de um contrato de joint venture com um parceiro congolês até os primeiros embarques de minério. Em comparação, a papelada para a planejada mina de cobre Resolution da BHP no Arizona foi apresentada pela primeira vez em 2013, sem previsão de término.
Mesmo em lugares menos burocráticos do que os Estados Unidos, as empresas ocidentais podem levar três vezes mais tempo para colocar as minas em funcionamento do que suas rivais chinesas, admitem os chefes. Isso ocorre porque a BHP e seus pares precisam manter seus acionistas satisfeitos, o que significa uma diligência minuciosa para justificar cada projeto com base em seus próprios méritos. Os chineses preferem uma abordagem de copiar e colar que pode resultar em operações menos otimizadas. Entretanto, elas começam a produzir resultados muito mais cedo.
A velocidade era menos importante quando as taxas de juros mínimas faziam com que o dinheiro no futuro valesse quase tanto quanto o dinheiro de amanhã. Com o aumento das taxas de juros, o valor da agilidade também aumentou. Os chefes de mineração não devem sacrificar a prudência. Mas talvez precisem acelerar suas decisões sedimentares.
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