RIO E SÃO PAULO - A campanha Black Friday em 2023 impulsionou as vendas dos setores varejistas mais aderentes às promoções, ajudando a manter o desempenho do comércio em território positivo em novembro. O volume vendido cresceu apenas 0,1% em relação a outubro, mas seis das oito atividades investigadas registraram expansão no período, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio divulgados nesta quarta-feira, 17, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Tem perfil disseminado, mas muito focado nas atividades influenciadas pela Black Friday”, apontou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
Os avanços ocorreram nas vendas de equipamentos de informática e comunicação (18,6%), móveis e eletrodomésticos (4,5%), vestuário e calçados (3,0%), combustíveis (1,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui lojas de departamento (1,0%) e hipermercados e supermercados (0,1%).
“A Black Friday foi boa, e foi concentrada. E como é resultado ajustado (que desconta as influências sazonais), ela foi melhor do que poderia ter sido em anos anteriores”, disse Santos. “A leitura de novembro de 2022 foi de uma Black Friday bastante fraca.”
Além da Black Friday, que sustentou os principais avanços registrados em novembro ante outubro de 2023, houve influência positiva também do câmbio. A depreciação do dólar em relação ao real ajudou a impulsionar as vendas da atividade de equipamentos de informática e comunicação.
Já o setor de supermercados, que responde por mais da metade das vendas do comércio varejista, não cresce há dois meses, a despeito do aumento na renda real e no número de trabalhadores ocupados.
“O fato de ter tido uma estabilidade em supermercados segurou um avanço maior no varejo”, explicou Cristiano Santos.
O gerente do IBGE acredita que algumas pessoas possam estar direcionando sua renda para o pagamento de dívidas, evitando assim o consumo. Entretanto, houve contribuição negativa também da inflação de alimentos no mês de novembro.
“Supermercados pesam muito no indicador, mas é bom lembrar que essa diminuição no ritmo de hiper e supermercados vem depois do recorde da série”, alertou Santos. “Se não me engano, foi em setembro (de 2023) o ponto mais alto da série de supermercados.”
Os únicos dois setores com perdas em novembro ante outubro foram livros e papelaria (-1,5%) e artigos farmacêuticos e perfumaria (-1,6%).
“O mesmo aconteceu com farmacêuticos. Farmacêuticos tiveram queda agora, mas o recorde da série foi em outubro de 2023″, ponderou.
Santos acrescenta que alguns fatores que podem estimular o consumo estão mais positivos no cenário atual, como o crédito, a massa de salários em circulação na economia e o número de ocupados no mercado de trabalho.
No comércio varejista ampliado – que inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício –, as vendas cresceram 1,3% em novembro ante outubro. O setor de veículos teve expansão de 4,0%, enquanto material de construção avançou 0,4%. Com a reformulação periódica da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), o desempenho do varejo ampliado passou a incluir os dados do atacado alimentício, mas ainda sem informações individuais para essa atividade na série com ajuste sazonal. O IBGE explica que é necessário ter uma série histórica mais longa para uma base de dados consistente que possibilite as divulgações ajustadas sazonalmente.
Baixa volatilidade nas vendas
Na média global, o comércio varejista brasileiro manteve a tendência de estabilidade em novembro, avaliou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE. O pesquisador explica que as vendas mostraram trajetória de crescimento em 2023, mas sem avanços significativos mês a mês, mantendo uma volatilidade muito baixa, com resultados muito próximos de zero, à exceção do crescimento visto em janeiro.
“Estabilidade a gente considera nessa faixa (de variações) entre -0,5% e +0,5%, nesse indicador na margem”, explicou ele. “Essa premissa no ano de 2023, até novembro, é de variações baixas”, acrescentou.
No entanto, Santos frisa que, apesar da estabilidade na série com ajuste sazonal, o varejo acumula crescimento de 1,7% no ano, de janeiro a novembro de 2023.
“O varejo está crescendo acima dos anos anteriores”, apontou.
Caso o desempenho de dezembro faça o varejo encerrar 2023 com expansão semelhante à variação acumulada atualmente de janeiro a novembro, as vendas podem ter o maior crescimento no ano desde 2019, quando houve uma elevação de 1,8%. Nos três anos anteriores, o varejo teve avanços mais modestos: 2022, alta de 1,0%; 2021, 1,4%; e 2020, 1,2%.
No varejo ampliado, o volume vendido acumula um crescimento de 2,6% de janeiro a novembro de 2023.
Para o economista Pedro Crispim, da gestora de recursos G5 Partners , as vendas no varejo em 2024 devem seguir apresentando comportamento volátil nas leituras mensais, mas, por enquanto, todos os fundamentos macroeconômicos indicam que o desempenho do setor neste ano será mais positivo do que em 2023. Ele prevê que houve elevação de 2,0% no varejo restrito e de 2,5% no conceito ampliado em 2023. Em 2024, contudo, o avanço das vendas no conceito ampliado pode ultrapassar os 3,0%, segundo o economista, puxadas tanto por itens ligados ao crédito quanto nos mais dependentes da renda.
“Todo o cenário macro aponta para isso, com queda no juro, ganho de renda real das famílias e mercado de trabalho ainda aquecido”, opinou Crispim.
Apesar do crescimento em novembro, é preciso “cautela” antes de extrapolar o cenário positivo do varejo para os próximos meses, recomendou Rodolfo Margato, economista da corretora XP Investimentos, em comentário. Os indicadores antecedentes da atividade econômica indicam, por ora, que houve estabilidade no Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2023, calculou.
“O varejo deve crescer no curto prazo, mas em ritmo moderado”, previu Margato.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.