BRASÍLIA - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) vão colocar R$ 5 bilhões no desenvolvimento de negócios que visem à transformação de minerais estratégicos com foco em transição energética e descarbonização. O objetivo é financiar via crédito e entrar com participações acionárias em empresas que investem ou planejam investir em áreas para desenvolvimento de cadeias como de lítio, terras raras, níquel, grafite e silício.
O edital de chamada pública para as duas instituições receberem planos de negócio que vão nessa direção será lançado nesta terça-feira, 7, com seleção programada para ser divulgada em junho, segundo plano antecipado ao Estadão/Broadcast.
Os mineiras estratégicos são chamados assim porque têm papel relevante na economia, sendo base em diversas produções e desenvolvimento tecnológico. Com a transição energética, o uso de alguns deles se tornou ainda mais crucial, como é o caso do lítio, usado nas baterias. O Brasil já possuiu uma matriz energética limpa em comparação com o restante do mundo, por isso a aposta na exploração e transformação desses minérios aqui se tornou também um interesse de outras economias.
A expectativa é de que os recursos também mobilizem investimentos para a fabricação de componentes como células de baterias, células fotovoltaicas e ímãs permanentes. O apoio vai abranger plantas em escala industrial, plantas piloto ou de demonstração, e pesquisas e estudos necessários para a viabilização de novas capacidades industriais, a depender do estágio dos projetos e tecnologias envolvidas.
Ao Estadão/Broadcast, o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon, afirmou que, com as ações, o banco e a Finep querem investir na agregação de valor na mineração, setor do qual o “mundo está atrás”. “E o Brasil tem um grande potencial porque tem vários dos minerais importantes para a transição energética e a descarbonização da indústria. Queremos com essa chamada atrair e antecipar investimentos para o País”, disse.
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O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, espera atrair na chamada empresas de diferentes elos da cadeia produtiva. “Mineradores e detentores de tecnologias e experiência em materiais transformados e componentes manufaturados dentro e fora do País poderão constituir parcerias e contar com as melhores opções de financiamento às indústrias no Brasil”, disse Mercadante.
Gordon prevê que as interessadas trabalhem inclusive em cooperação, contemplando um mix de empresas de diferentes portes e atividades distintas, entre desenvolvedores de tecnologia e produtores. Para ter acesso ao financiamento, as empresas precisarão apresentar planos de negócio e apontar quanto demandam de recursos e os instrumentos de investimento esperados - por exemplo, o Fundo Clima ou o programa “Mais inovação”, parceria de crédito entre BNDES e a Finep cujo custo é baseado na Taxa Referencial (TR). Recursos não reembolsáveis também são uma alternativa.
“Vão querer crédito, recursos para desenvolver tecnologia, vão querer equity (participação na empresa)? E vamos fazer alguns eventos com as empresas para promover e permitir que elas possam se conhecer entre elas, se conectar”, disse Gordon. A expectativa é de que a chamada possa alavancar nos próximos anos investimentos em um volume de cinco a dez vezes o orçamento disponibilizado na chamada.
De acordo com o BNDES, no Brasil estão a maior reserva e maior produção mundial de nióbio, segunda maior reserva de grafite natural, terceira maior reserva de níquel, terceira maior reserva de terras raras, entre outros, além de ser responsável também pela quinta maior produção de lítio e terceira maior produção de silício.
Para o presidente da Finep, Celso Pansera, o País está bem posicionado para atrair investimentos em refino, metalurgia e oferta de materiais transformados, o que deve impactar o setor mineral, elétrico e a eletrificação da economia. “Esta chamada visa desenvolver cadeias de minerais estratégicos essenciais para a transição energética e descarbonização, além de mobilizar investimentos para a fabricação e reciclagem de produtos que utilizam esses insumos”, disse.
Após o lançamento da seleção pública que acontece nesta terça, o prazo para apresentação dos Planos de Negócios vai de 13 de janeiro a 30 de abril. Em 12 de junho deve ser publicado o resultado da chamada, com a estruturação dos planos de suporte prevista até 25 de julho.
O diretor de Desenvolvimento do BNDES avalia que o projeto complementa dentro da cadeia produtiva a parceria do banco e da Vale. Em outubro, eles anunciaram um consórcio que irá administrar o fundo de investimento focado na pesquisa de minerais críticos que têm potencial para serem explorados no Brasil, uma etapa anterior à transformação. “É tudo parte da agenda da Nova Indústria Brasil (NIB), que atua para o País agregar mais valor em suas cadeias”, disse Gordon.
O orçamento da nova chamada integra a carteira de investimentos da NIB até 2026. Com R$ 259 bilhões do BNDES, o plano conta com R$ 506,71 bilhões para projetos da chamada “neoindustrialização”, que somam a participação também da Finep, BNB, Banco do Brasil, BASA e Caixa. O BNDES conta ainda com cerca de R$ 8 bilhões reservados para aplicar em participações de empresas, de onde saíram parte dos recursos da parceria com a Vale.
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