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BNDES passa de criador de 'campeões nacionais' a 'banco de investimentos'

Mudança de foco do banco, que passou a participar de mais negócios, mas com menos liberação de recursos, é elogiada no mercado

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Foto do author Cristiane Barbieri

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deixou de ser um criador de campeões nacionais para se transformar em um banco de investimentos. Com o que chama de "fábrica de projetos", entrou em geração de negócios, fusões e aquisições, projetos de concessão, em vez de fazer apenas empréstimos - e virou unanimidade entre especialistas. "Como é que dava para priorizar dinheiro em frigorífico, quando o País não tem saneamento?", diz Sergio Lazzarini, professor do Insper, um dos principais críticos ao direcionamento anterior do banco.

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As mudanças começaram na gestão Maria Silvia Bastos, no governo Temer, e intensificaram-se com o banco sob o comando de Gustavo Montezano, indicado na gestão Bolsonaro. Hoje, a instituição de fomento tem no gatilho 120 projetos, que devem resultar em mais de R$ 240 bilhões em investimentos. Entre eles, prestação de serviços de estruturação de desestatização federais, estaduais e municipais. 

Nesse modelo, foram feitas as concessões do lote "Pipa" (Piracicaba-Panorama), o maior contrato de concessão de rodovias do País, e da Cedae, a companhia de saneamento do Rio de Janeiro. Ernesto Lozardo, professor de Economia da FGV-SP, escreveu em artigo no Estadão, na semana passada, que "o BNDES está criando atividade de produção e de consumo onde não existiam".

BNDES tem no gatilho 120 projetos, que devem resultar em mais de R$ 240 bilhões em investimentos. Foto: Wilton Júnior/Estadão

"O investimento em infraestrutura é pífio há décadas", diz Petrônio Cançado, diretor de crédito e garantia do BNDES. "Com a fábrica de projetos, a ideia é dividir o conhecimento do banco com os investidores, ao mesmo tempo em que, do lado do crédito, fazemos operações com cara de mercado, trazendo mais instituições para dividir o risco."

Assim, o banco pode emprestar para mais projetos, mesmo com o balanço menor. Nos últimos dois anos, a área de participações da instituição vendeu R$ 66 bilhões em ações de grandes companhias. Como um todo, o BNDES devolveu R$ 138 bilhões ao Tesouro no período. 

"Ter exposição gigantesca em poucas empresas significa que a instituição está sujeita a uma volatilidade enorme, de acordo com o mercado", diz Fábio Abrahão, diretor de Infraestrutura, Concessões e Parcerias Público Privadas (PPPs) do BNDES. "Além disso, o banco de desenvolvimento tem de desenvolver o País como um todo e não apenas dois ou três (empresários)."

Segundo Cançado, foram colocados em execução projetos estruturados anteriormente pelos próprios funcionários e consultorias que já haviam prestado serviços - com conhecimento de dentro do banco. "Estamos colhendo as frutas que estavam à mão, nas áreas em que o País é mais carente", afirma. "É apenas a ponta do iceberg."

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De acordo com Abrahão, o modelo do banco não está mais ligado a apenas uma gestão pública: os efeitos das concessões e dos investimentos atravessarão várias eleições e mandatos. O projeto de privatização da Cedae, por exemplo, começou a ser desenhado três anos e meio antes do marco regulatório do saneamento, sancionado no ano passado. "Colocamos no contrato vários elementos que, felizmente, foram mantidos no marco", diz ele. "Fizemos essa regulação por contrato porque há uma curva de ativação para estruturar um projeto." Do total investido, 30% serão emprestados pelo BNDES.

A geração de vagas, em função das concessões, também deve se espalhar por anos a fio. O leilão para a concessão do saneamento de Alagoas, por exemplo, deve receber R$ 2,6 bilhões em investimentos, em 16 anos. "É impossível quebrar a cidade inteira em um ano", afirma Abrahão. "A geração de empregos vai se estender ao longo do tempo e estabelecer uma cadeia de fornecedores consigo."

Abrahão discorda que as posições do governo em relação ao meio ambiente e à política externa afastem investidores. Para ele, a cadeia de fornecedores e projetos foi destruída quando foram dadas concessões a construtoras que tinham interesse nas obras, mas não na prestação de serviços. "Estamos tentando trazer de volta o investidor qualificado em várias áreas", diz ele.

Para Lazzarini, o BNDES tem hoje um dos melhores sistemas de monitoramento e avaliação de programas entre as estatais no Brasil e destaca-se até mesmo entre outros bancos de desenvolvimento. "O grupo de técnicos durante a gestão Luciano Coutinho tinha uma visão desenvolvimentista que era quase uma religião, que pouco se preocupava com as evidências e em saber o que acontecia com os empréstimos em benefício do País", diz ele. "A transparência, agora, mudou."