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Análise|Boas e más notícias no PIB do primeiro trimestre

No contexto em que a atividade surpreende para cima, com um forte crescimento do consumo das famílias, é necessária ainda mais cautela na condução da política monetária

Por Silvia Matos
Atualização:

Conforme esperado pelo Boletim Macro FGV Ibre, a economia brasileira mostrou um crescimento robusto no primeiro trimestre, com todos os grandes setores contribuindo positivamente para o resultado de 0,8% (trimestre ante trimestre). Mesmo com a ligeira retração da indústria agregada, o destaque positivo é o crescimento da indústria de transformação, após um péssimo desempenho no ano passado.

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Havia algumas dúvidas sobre o resultado que seria divulgado devido ao desempenho da agropecuária. A expectativa era de recuo da produção em relação ao ano passado, principalmente pela menor safra de grãos neste ano. Porém, a intensidade do recuo foi mais moderada do que o esperado, o que gerou uma contribuição bem positiva para o resultado na margem.

Mesmo com alguma incerteza sobre o desempenho da atividade ao longo do ano, o que chamou mais a atenção deste primeiro trimestre do ano foi o expressivo crescimento da demanda interna e a queda da contribuição da demanda externa para o crescimento. Diferente do ano passado, a expectativa é que as importações crescem acima das exportações, e o principal motor para o crescimento deste ano será a demanda interna.

E aqui temos boas e más notícias.

Como esperado, o que chamou mais a atenção dos resultados do primeiro trimestre foi o elevado crescimento do consumo das famílias que avançou 1,5% em relação ao quarto trimestre e de 4,4% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Ou seja, o consumo cresceu em torno de 1% por trimestre desde o segundo semestre de 2021, ritmo superior ao crescimento do PIB, que foi de 0,7%.

O forte crescimento do consumo das famílias é explicado, em grande medida, pelo aumento real da renda disponível bruta. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, desde outubro do ano passado houve uma aceleração no crescimento da renda disponível, que vinha aumentando em um ritmo moderado. Sem dúvida, o pagamento dos precatórios contribuiu para este resultado, principalmente no início do ano, além do desempenho surpreendente do mercado de trabalho. A esses fatores somam-se o aumento real do salário mínimo, bem como o de benefícios sociais e aposentadorias vinculados ao salário mínimo. Tudo isso contribui para um crescimento ainda mais expressivo do consumo das famílias no trimestre.

Crescimento do consumo das famílias é explicado, em grande medida, pelo aumento real da renda disponível bruta Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Além disso, o forte crescimento do investimento é uma excelente notícia. Entretanto, há muitas dúvidas em relação à sustentabilidade da recuperação do investimento. É importante mencionar que este resultado foi influenciado pela forte recuperação da produção de caminhões em relação ao mesmo período do ano anterior, quando houve uma queda expressiva na produção desses veículos. A partir de janeiro de 2023 entraram em vigor as novas regras de emissões da fase P8 do programa de controle da poluição do ar por veículos automotores (Proconve). Com isso, houve uma queda de 37,5% na produção de caminhões em relação a 2022, segundo dados da Anfavea.

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A manutenção da taxa real de juros em patamares elevados deve inibir uma aceleração mais expressiva do investimento neste ano. Por enquanto, esperamos um crescimento de 4,1% após a queda de 3% em 2023.

Nesse contexto em que a atividade surpreende para cima, com um forte crescimento do consumo das famílias, é necessária ainda mais cautela na condução da política monetária. Ainda mais quando as expectativas de inflação para horizontes mais longos estão não apenas acima da meta, mas subindo.

Análise por Silvia Matos

Economista, pesquisadora e coordenadora do Boletim Macro FGV IBRE

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