O boicote do fornecimento de carne bovina ao Grupo Carrefour no Brasil feito pelos grandes frigoríficos em retaliação à decisão do CEO global da rede francesa CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, de suspender a compra de carne de países do Mercosul, deve provocar um rearranjo “momentâneo” na cadeia de abastecimento dos supermercados, segundo especialistas do mercado varejista ouvidas pelo Estadão.
O Carrefour deve buscar o produto nos frigoríficos menores, que normalmente não têm acesso à maior rede de supermercado do País. E, por sua a vez, os grandes frigoríficos, que encabeçaram o boicote à rede francesa, vão distribuir seu produto nos supermercados concorrentes e em redes de restaurantes.
“A carne deve ficar mais cara nas lojas do Carrefour, mas não acredito que vá faltar”, disse um varejista que prefere o anonimato. O provável encarecimento da carne para o Carrefour deve ocorrer porque os médios frigoríficos não têm escala para abastecer todo o volume de que o Grupo precisa.
Nas contas do mercado, considerando todas as bandeiras (Carrefour, Atacadão e Sam’s Club), calcula-se que a rede seja responsável por 10% do volumes comercializados no varejo.
Com a pulverização das compras, é provável que os custos do Carrefour aumentem e que esse acréscimo seja repassado para o preço final, especialmente neste momento de consumo aquecido, marcado pela entrada da primeira parcela do 13º salário a ser paga até sexta-feira, 29.
Desconto
Há varejistas que acreditam que conseguirão alguma negociação vantajosa com os grandes frigoríficos por conta do boicote à entrega da carne para o Carrefour.
No entanto, especialistas do mercado observam que atualmente os volumes de abates de bovinos estão reduzidos em razão do final da entressafra. Inclusive há frigoríficos em férias coletivas.
Além disso, o preço da arroba (em torno de 15 quilos), na casa de R$ 365, está no maior nível dos últimos anos. Por isso, o momento atual é favorável ao boicote para aumentar a pressão sobre o Carrefour.
Para Álvaro Furtado, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), esse impasse não deve durar muito tempo. “É uma tempestade”, compara.
Na sua avaliação, não faz sentido para os grandes frigoríficos deixarem de fornecer carne para a maior rede de supermercados do País. Furtado diz que deve haver uma rearrumação no abastecimento, mas esse movimento vai refluir.
Oportunidade
Para os médios frigoríficos que normalmente encontram dificuldade para vender para Carrefour por causa das falta de escala e das exigências, o momento atual pode ser uma oportunidade.
Calcula que existam 350 frigoríficos de médio porte no País com S.I.F, Serviço de Inspeção Federal Por esse sistema, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento avalia a qualidade na produção de alimentos de origem animal.
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Vilmar Mousalle, diretor executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado do Rio Grande do Sul, diz que o atual momento abre essa possibilidade para os pequenos frigoríficos entrarem como fornecedores do Carrefour.
O executivo diz que provavelmente esses frigoríficos serão procurados e um ou outro irá fornecer. Mas pondera que, neste momento, ele não dispõe de informações concretas se isso está ocorrendo.
No entanto, Mousalle frisa que tudo depende da consciência dos proprietários desses frigoríficos em relação ao mal que poderão estar fazendo para a cadeia da pecuária. “Pegou mal a afirmação do CEO do Carrefour, repudiamos essa declaração”, diz ele.
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