Entenda por que a Bolsa de Tóquio teve recorde de queda e mercados internacionais operam em baixa

Temor de um esfriamento da economia americana acima do esperado leva preocupação a investidores em todo o mundo

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Foto do author Aline Bronzati
Atualização:

NOVA YORK - O temor com um esfriamento acima do esperado na economia americana provoca nesta segunda-feira, 5, uma queda generalizada no mercados financeiros internacionais. Na Ásia, a Bolsa de Tóquio despencou 12,4% e registrou a maior queda, em pontos, de sua história - influenciada também por questões domésticas, como a alta dos juros na semana passada. As bolsas de Taiwan e de Seul também apresentaram baixasa expressivas, acima de 8%. Na Europa, as bolsas operavam no início da manhã em quedas de cerca de 2%.

O pano de fundo desse cenário são os dados mais fracos de emprego nos Estados Unidos, divulgados na sexta-feira, 2. O mercado de trabalho esfriou além do esperado em julho, quando o furacão Beryl atingiu o sul do país, e a avaliação é que isso pode forçar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a começar a reduzir os juros em uma intensidade maior. Bancos como o Citi passaram a prever um primeiro corte de 0,5 ponto porcentual, e não mais de 0,25, enquanto quem ainda não via setembro como a virada de chave na política monetária americana, caso do Bank of America, foi convencido disso.

Bolsa de Tóquio teve maior queda em pontos de sua história Foto: Richard A. Brooks/AFP

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Os EUA geraram 114 mil empregos em julho, abaixo do piso das expectativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que variavam de 135 mil a 225 mil vagas, com mediana de 180 mil. A taxa de desemprego aumentou, o salário médio por hora cresceu abaixo do previsto e os dados de junho e maio foram revisados para baixo.

Os números desencadearam uma reavaliação imediata nas expectativas de Wall Street quanto ao início do corte juros e azedou ainda mais o humor nas bolsas de Nova York, sob o temor de que o Fed tenha demorado muito para acionar a sua tesoura. As chances de uma primeira queda maior em setembro, de 0,5 ponto, passaram de 80%, conforme a plataforma CME Group. Por sua vez, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto, até então majoritária, caiu para cerca de 18%, após o relatório.

“Agora esperamos que o Fed inicie o ciclo com cortes de 50 pontos-base em setembro e novembro, seguidos por reduções de 25 pontos-base em cada reunião subsequente”, disse o Citi, em relatório a clientes.

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Por sua vez, o Bank of America antecipou a sua expectativa de corte de juros, de dezembro para setembro, passando a prever duas reduções de taxas neste ano. “O emprego em julho foi fraco o suficiente para garantir um corte em setembro”, diz o time de economistas do banco americano, liderado por Michael Gapen.

Enquanto o mercado se afunilou para setembro, a intensidade do primeiro corte de juros gera discordâncias e promete ser o novo cabo de força entre Wall Street e o BC americano - e também entre os próprios economistas. De um lado, alguns acham prematuro prever um Fed mais agressivo já na largada, e querem ver mais dados da inflação e do mercado de trabalho nos EUA, outros veem riscos mais iminentes de uma possível recessão no país, o que daria combustível a um corte mais severo.

“Estou altamente cético de que o Fed consideraria um corte de juros de 50 pontos-base em setembro”, disse o economista-chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley, lembrando que o próximo foco de atenção serão novos dados da inflação americana, daqui duas semanas.

A rapidez com que o mercado se moveu para a expectativa de um corte de 50 pontos-base em setembro surpreendeu até gurus de Wall Street. “Estou surpreso com a rapidez com que a narrativa do mercado mudou sobre o que o Federal Reserve deveria fazer”, escreveu o conselheiro econômico da Allianz, Mohamed El-Erian, em seu perfil no ‘X’ (antigo Twitter). “Eu até ouvi alguém mencionar um corte entre as reuniões”, acrescentou.

El-Erian, que já previa uma desaceleração dos EUA mais intensa do que outros economistas, considera “improvável” um primeiro corte de juros de 50 pontos-base. Crítico da demora que o Fed levou para reconhecer o problema da inflação nos EUA, alertou que o Fed não pode errar mais após não ter reduzido os juros na reunião dessa semana, como ele próprio defendia.

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Antes dos números do mercado de trabalho, o presidente do Fed, Jerome Powell, havia dito que uma redução de 50 pontos-base não estaria na mesa dos dirigentes naquele momento. “Não quero dizer, não quero ser realmente específico sobre o que faremos, mas não é algo em que estamos pensando agora”, afirmou ele, a jornalistas, na semana passada, após sinalizar pela primeira vez de forma mais efetiva que um corte de juros pode estar a caminho na reunião em setembro.

Regra de Sahm

Os números de emprego de julho também acenderam o alerta quanto ao risco de acionamento da chamada regra de ‘Sahm’, um indicador de recessão com base no mercado de trabalho. Cunhado pela economista Claudia Sahm, o modelo indica que uma economia está em recessão se a taxa de desemprego subir 0,5 ponto porcentual ou mais na média de três meses sobre o mínimo registrado nos 12 meses anteriores. A leitura da taxa de desemprego de julho empurrou o indicador da Regra de Sahm para alta de 0,53 ponto porcentual.

Segundo o Wells Fargo, cruzar esse limite pode não ser o sinal infalível de recessão como no passado. Para o Citi, a regra de Sahm será acionada só em agosto. O banco vê a taxa de desemprego em contínua alta nos próximos meses, passando dos 5% até o fim do ano, um dos desafios para quem vencer as eleições presidenciais nos EUA, em novembro.

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