BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro tentou justificar nesta quarta-feira, 12, a inflação de 2021, que fechou o ano acima de 10%, fazendo comparação com o resultado de 2015, no pior momento da alta de preços do ex-governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
O IPCA, o índice oficial de inflação, terminou o ano passado em 10,06%, 4,81 pontos porcentuais acima da banda superior do objetivo a ser perseguido pelo BC (5,25%) – o maior desvio em quase 20 anos. A última vez que o teto da meta havia sido rompido, em 2015, a distância havia sido de 4,17 pontos porcentuais, quando o IPCA registrou alta de 10,67%. "Se eu não me engano, em 2014, 2015, a inflação foi de 10% também. Me aponte qual crise aconteceu nesses dois anos. Não teve crise nenhuma. Nós tivemos aqui a questão do covid. Com a política do ‘fique em casa’, a cadeia produtiva sofreu solavancos. E a inflação é uma questão natural", disse Bolsonaro àGazeta Brasil, um site que o apoia.
Bolsonaro disse que a inflação é resultado da pandemia de covid-19 e da “política do fique em casa”, em referência às medidas de isolamento social para tentar controlar a disseminação do coronavírus. Essa explicação, porém, não bate com os argumentos apresentados pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que, na terça-feira, 11, justificou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, por que não conseguiu entregar a inflação abaixo da meta estipulada pelo governo.
Segundo Campos Neto, a alta de preços no Brasil em 2021 está relacionada a um fenômeno global, de forte aumento dos preços de commodities (produtos básicos, como petróleo, alimentos e minério) e falta de insumo. Também pesou a nova bandeira tarifária na conta de luz, por causa da crise de escassez hídrica.
Combustíveis
Bolsonaro disse também que não tem controle sobre a política de preços da Petrobras. Na terça, a estatal anunciou o primeiro reajuste dos combustíveis em 77 dias. A partir desta quarta-feira, 12, a gasolina fica R$ 0,15 mais cara e o diesel, R$ 0,27.
“O combustível encareceu no mundo todo”, afirmou o chefe do Executivo, ao ser questionado se o aumento do preço da gasolina poderia “cair como uma bomba” em ano eleitoral.
Durante seu governo, Bolsonaro coleciona uma série de atritos com a Petrobras. Em dezembro de 2021, a empresa precisou informar que não antecipa decisões de reajuste após o presidente dizer que a estatal anunciaria uma redução nos preços dos combustíveis ainda naquele mês.
Em novembro do ano passado, a Petrobras também se pronunciou após Bolsonaro afirmar que havia entrado em contato com a equipe econômica para privatizar a estatal. Em nota, a empresa informou que havia consultado o Ministério da Economia sobre a existência de estudos sobre sua privatização, mas que a resposta foi negativa.
No começo de 2021, Bolsonaro demitiu o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que foi substituído pelo general Joaquim Silva e Luna. Em entrevista ao Estadão, Silva e Luna disse que a Petrobras não pode fazer política pública. Segundo ele, quem regula os preços dos combustíveis é o mercado.
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