Bolsonaro usa humorista para evitar responder sobre PIB fraco

Ao lado de Carioca, que usava uma réplica da faixa presidencial, o presidente perguntou: 'O que é PIB?'; encenação foi transmitida ao vivo pelas redes sociais

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Foto do author Julia Lindner

BRASÍLIA - Após resultado fraco do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, com crescimento de apenas 1,1% no ano, o presidente Jair Bolsonaro escalou um humorista para responder perguntas da imprensa sobre o ritmo da atividade econômica nesta quarta-feira, 4. O primeiro PIB de Bolsonaro é pior do que o último do ex-presidente Michel Temer.

"PIB? O que é PIB? Pergunta para eles (jornalistas) o que é PIB", disse Bolsonaro ao humorista Márvio Lúcio, conhecido como Carioca, da TV Record. Em seguida, um jornalista reforçou que a pergunta era dirigida para o presidente, e não para o humorista. "Paulo Guedes, Paulo Guedes", reagiu Carioca. "Posto Ipiranga", sugeriu Bolsonaro ao humorista, rindo.

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Vestido como Bolsonaro, inclusive com uma réplica da faixa presidencial, Carioca usou a estrutura da Presidência para oferecer bananas aos jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada - nenhum jornalista aceitou. O humorista que popularizou o apelido "mito" também pediu para ser questionado pelos profissionais como se fosse o presidente, o que não ocorreu.

Depois, o próprio Bolsonaro apareceu e quis participar da encenação que foi combinada um pouco antes. Carioca participou de um café da manhã no Alvorada que reuniu o presidente, ministros e parlamentares do PSD. Na conversa com o humorista, Bolsonaro afirma ser "agredido" pela imprensa epede que ele "fale em seu lugar" em frente à residência oficial. "É impressionante que eles (imprensa) ficam me agredindo. Todo dia eles estão lá fora. Estou há duas semanas sem falar com eles. Fala no meu lugar. Vou te dar a palavra", disse Bolsonaro.

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O vídeo do café da manhã de Bolsonaro com o humorista foi divulgada pelo site Folha do Brasil, que publica notícias favoráveis ao governo. Na conversa, em tom de piada, Bolsonaro fala sobre política externa e faz piada com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. "Quem é o único gordo da Venezuela?", questiona após ser questionado se conhece o venezuelano.

O humorista Carioca vestido com faixa presidencial oferece banana para jornalistas na portaria do Palácio da Alvorada. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Frustração

O resultado do PIB de 2019 é menos da metade do projetado inicialmente pelos economistas. Em dezembro de 2018, às vésperas da posse do presidente Jair Bolsonaro, analistas do mercado financeiro renovaram a aposta na retomada e projetaram crescimento de 2,55%.

Foi o terceiro ano seguido de fraco crescimento da economia brasileira. Em 2017 e em 2018, a primeira divulgação do PIB mostrou expansão de 1,1%. Posteriormente, os dados foram revisados para 1,3%. Em 2015 e 2016, houve queda no PIB. 

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Em nota, o Ministério da Economia afirmou que a composição do PIB de 2019 indica "melhora substancial", com "aumento consistente do crescimento do PIB privado e do investimento privado".

Quando indagado por jornalistas sobre riscos na negociação com o Parlamento em relação ao Orçamento impositivo ou sobre o resultado aquém do esperado do PIB, Bolsonaro terceirizou as respostas ao humorista. Tudo foi transmitido ao vivo na conta oficial do presidente da República nas redes sociais.

O humorista chegou em um carro oficial da Presidência e contou com a ajuda do secretário especial de Comunicação, Fabio Wajngarten, para sair do veículo. Ele ficou posicionado no mesmo local que Bolsonaro usa normalmente para responder perguntas da imprensa. A área é restrita.

Antes da chegada de Carioca, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, responsável pela Secom, desceu de outro carro e foi a pé acompanhar todo o ato.

Na terça-feira, o governo federal divulgou a reedição de uma cartilha sobre a proteção de jornalistas e comunicadores no Brasil. Elaborado pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, chefiado por Damares Alves, o texto traz uma nova edição do documento, lançado no governo de Michel Temer, e prevê que "as autoridades públicas têm a obrigação de condenar veementemente agressões contra jornalistas". O manual diz ainda que "os agentes do Estado não devem adotar discursos públicos que exponham jornalistas".  

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