A duas semanas do ano novo, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) se prepara para receber um título nada invejável: o Ibovespa caminha para fechar 2013 com o pior desempenho entre os principais índices do mundo. Em ano de frustração com o crescimento, intervencionismo do governo, alta do juro e protestos nas ruas, o índice da bolsa brasileira acumula queda de 17%. É, de longe, o pior resultado entre as bolsas do G-20.Levantamento feito pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, com as bolsas de valores das 20 maiores economias do mundo revela que o mercado brasileiro teve desempenho muito pior do que outros emergentes e foi na contramão da alta registrada nas economias ricas. Com problemas domésticos crescentes e preocupações com a mudança da economia nos Estados Unidos, a cautela foi a palavra de ordem e investidores diminuíram a exposição à renda variável no Brasil.Com isso, o índice Bovespa, que começou o ano na casa dos 62 mil pontos, se equilibra para não voltar novamente à casa dos 49 mil pontos. Em dólar, o tombo é ainda maior e chega a 28%.Mesmo após este ano negativo, analistas dizem que o pior ainda pode estar por vir. A retirada does estímulos à economia americana deve gerar uma nova onda de venda de ações nos mercados emergentes. "A diminuição do relaxamento quantitativo nos EUA provavelmente vai gerar novo impacto desproporcionalmente negativo nas ações emergentes em 2014", dizem os analistas do banco Morgan Stanley. Em 2013, a segunda pior bolsa do G-20 até agora é da Turquia, país que também sofreu com a desaceleração da economia e protestos populares. No acumulado do ano até a última sexta-feira, o índice BIST 30 da Bolsa de Istambul registrava queda de 5,3% - menos de um terço do tombo visto em São Paulo.Todas as demais bolsas que registram desvalorização estão em mercados emergentes. O ritmo, porém, é menor que o visto no Brasil: o RTS da Rússia perdeu 4,3%, o Jakarta Composite da Indonésia recuou 2,5%, o IPC do México caiu 2,3%, o Shanghai Composite de Xangai cedeu 1,8% e o índice Kospi da Coreia do Sul acumulou desvalorização de 1,6%. A frustração dos investidores pode ser explicada, na maioria dessas economias, pelo crescimento abaixo do esperado.Recuperação. Nos países ricos, o clima é diferente e as bolsas registraram expressiva valorização. A liderança é do Nikkei 225 da Bolsa de Tóquio, que tem alta de 48% no ano. O salto acontece como reação à nova política econômica do governo Shinzo Abe, que promete acabar com a deflação e alavancar exportações.Wall Street seguiu a mesma linha e tem números exuberantes diante da aceleração dos EUA: Nasdaq subiu 34%, S&P 500 ganhou 27% e o Dow Jones já avançou 23%. Mesmo com a cautela gerada pela perspectiva de mudança na política monetária dos EUA, investidores voltaram a comprar ações com a crença de que a economia decolará e empresas vão surfar essa onda. Na Europa, o resultado também é positivo: a Bolsa de Frankfurt ganhou 19%, Paris ganhou 16,5% e Londres subiu 14%.Um pouco alheio ao movimento nos emergentes, o índice Merval, de Buenos Aires, teve alta de 86% em pesos ou 42% em dólares. O movimento, porém, não empolga investidores e muitos mantêm a Argentina no grupo de países que, assim como o Equador ou Venezuela, têm trazido mais dor de cabeça do que razão para comemorar.
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