Americanas: Bradesco, Itaú e Santander se revoltam com explicações de trio acionista bilionário

Em nota pública, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles sugerem que as instituições não teriam se atentado ao rombo contábil e teriam parte da culpa

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Foto do author Matheus Piovesana
Atualização:

A manifestação do trio de acionistas de referência da Americanas – Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles – causou indignação nos maiores bancos privados do País, ao tentar responsabilizar os próprios credores pelos problemas contábeis da empresa.

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Segundo executivos que acompanham o caso, o posicionamento até aqui dos acionistas de referência da Americanas enfureceu os bancos credores da varejista, que começam a falar nos bastidores em possíveis retaliações. Algumas instituições já teriam começado a reduzir o crédito a outras empresas sob controle do trio, como a Ambev.

No domingo, Lemann, Sicupira e Telles emitiram uma nota pública em que se posicionaram pela primeira vez desde o começo da crise. Um trecho em particular incomodou os bancos: o que sugere que as instituições não teriam se atentando ao rombo contábil, ou seja, teriam parte da culpa.

“Ela (auditoria PwC), por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade”, afirmou o trio da nota do fim de semana.

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A crise nas Americanas se tornou pública depois que o ex-CEO Sergio Rial – que estava no cargo havia pouco menos de dez dias no cargo – divulgou que foram identificadas “inconsistências” nos balanços dos últimos anos. A Americanas tem uma dívida declarada de R$ 43 bilhões.

O Bradesco manifestou publicamente rejeição ao que chamou de narrativas que atribuem aos bancos a responsabilidade sobre eventuais práticas irregulares adotadas por empresas que fazem negócios com o banco.

Ex-CEO da empresa, Sergio Rial, divulgou que foram identificadas “inconsistências” nos balanços dos últimos anos. A Americanas tem uma dívida declarada de R$ 43 bilhões Foto: Taba Benedicto/Estadão

“Não compactuamos com alegações que buscam criar narrativas para atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa e, assim, desviar a atenção do problema central, ou seja, a falta de consistência dos números das demonstrações financeiras e as responsabilidades dos seus dirigentes sobre tal fato”, afirmou o banco, em nota divulgada na tarde desta terça-feira, 24.

A instituição disse ainda que a governança contábil das empresas é responsabilidade exclusiva de seus administradores, o que inclui o conselho de administração. “O Bradesco cumpre rigorosamente as diretrizes normativas e atua de acordo com as melhores práticas de mercado”, afirmou o banco. O Bradesco é, segundo fontes, o banco com o maior volume de empréstimos à Americanas, embora não seja o que está relativamente mais exposto à empresa.

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O Itaú Unibanco divulgou nota dizendo que as chamadas cartas de circularização, que são encaminhadas pelos auditores que aprovavam as demonstrações financeiras da companhia, são apenas um instrumento de apoio às auditorias na verificação de informações contábeis fornecidas pelas companhias. Além disso, disse que é “leviana” a tentativa de atribuir aos bancos responsabilidades sobre práticas irregulares de empresas.

Bradesco é, segundo fontes, o banco com o maior volume de empréstimos à Americanas Foto: Werther Santana/Estadão - 12/05/2021

O Itaú Unibanco esclarece que a elaboração e aprovação das demonstrações financeiras que espelhem a realidade da companhia são responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa, incluindo sua diretoria e seu conselho, e sem nenhuma influência dos bancos ou outros credores”, disse o banco, em nota à imprensa.

“Os saldos das operações também sempre foram reportados no Sistema Central de Risco, mantido pelo Banco Central. Dessa forma, é leviana a tentativa de atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa.”

Ações na Justiça

Nesta terça-feira, o Santander pediu à Justiça a suspensão da recuperação judicial obtida semana passada pela varejista. O banco argumenta que o “pior já aconteceu”, e alega que a Justiça do Rio não seria o foro apropriado para julgar o caso – que deveria transcorrer em São Paulo, onde a maior parte das decisões da rede é tomada.

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O Santander também pediu que a Justiça ouça os depoimentos de membros do conselho de administração da varejista e dos ex-CEOs Miguel Gutierrez e Sérgio Rial. O mesmo pedido inclui Sicupira e Paulo Alberto Lemann, representante de Lemann no conselho.

Em movimento semelhante, o Safra, que tem R$ 2 bilhões em linhas de crédito com a varejista, também recorreu à Justiça questionando os termos da recuperação. O banco alegou que seria necessária uma perícia mais detalhada para saber as condições reais da Americanas e que a companhia não apresentou os três últimos balanços – um dos requisitos em um processo de recuperação judicial.

Neste caso, porém, o pedido acabou sendo negado na segunda-feira pela desembargadora Leila Santos Lopes, que barrou ainda pedido do Safra para não ter de devolver R$ 95 milhões da companhia mantidos em contas no banco, e que haviam sido retidos para fazer frente à liquidação de dívidas da empresa.

Na decisão em que aceitou o pedido de recuperação judicial, a Justiça do Rio determinou que os bancos que haviam retido dinheiro da companhia para fazer frente ao vencimento antecipado de dívidas devolvessem os recursos em até seis horas, sob pena de multa de 10% dos valores. O Safra era um dos bancos atingidos pela sentença.

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