Descarbonização da indústria no Brasil custará ao menos R$ 40 bilhões até 2050, mostra estudo da CNI

Material será divulgado nesta segunda-feira na Conferência do Clima (COP 28)

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Foto do author Caio Spechoto
Atualização:

Estudo produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que serão necessários ao menos R$ 40 bilhões adicionais para descarbonizar o setor até 2050 no Brasil. O Estadão/Broadcast teve acesso exclusivo ao material, que será divulgado nesta segunda-feira, 4, na Conferência do Clima, em Dubai.

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A CNI faz sugestões para acelerar o processo de descarbonização - ou seja, de redução de emissões de gases do efeito estufa para conter as mudanças climáticas e cumprir acordos internacionais - incluindo maior ação governamental para aumentar o acesso a crédito. Também aplica críticas antigas do setor produtivo, como ao chamado “Custo Brasil”.

“O custo adicional de descarbonização para a economia brasileira, considerando os dados obtidos em conjunto com segmentos industriais neste estudo, seria de US$ 8 bilhões de dólares, ou cerca de R$ 40 bilhões até 2050″, afirma o estudo. “Por custo adicional de descarbonização entende-se o custo de investimento total na tecnologia de baixo carbono subtraído do custo de investimento total da tecnologia business as usual”, diz a CNI.

O documento ressalva que alguns setores industriais não consideraram, nas contas, o custo de investimentos indiretos para aumentar a disponibilidade de energia limpa e de infraestrutura. “Assim, esse valor potencial poderá ser significativamente maior, mesmo porque ainda existe a necessidade de melhor refinamento dos números destinados aos investimentos setoriais em mitigação”, afirma o documento lido pela reportagem.

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Usina de Hidrogênio Verde de Santa Catarina, localizada no Laboratório Fotovoltaica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no Sapiens Parque, em Florianópolis. Serão necessários R$ 40 bilhões adicionais para descarbonizar a indústria até 2050 no Brasil  Foto: FELIPE RAU /ESTADÃO

A CNI defende subsídios para a incorporação de novas tecnologias nos segmentos industriais onde a redução das emissões de gases de efeito estufa é mais difícil. “Apesar das várias possibilidades de financiamento, ainda existem barreiras no cenário nacional para sua efetivação, como as dificuldades de acesso. Além disso, a indústria hard to abate [como petróleo e aço] precisará de implementação de tecnologias subsidiadas, como têm sido as políticas de descarbonização nas maiores economias do globo”, afirma o estudo produzido pela entidade.

“É imperativo que o governo desempenhe um papel ativo no financiamento dessa transição profunda. Isso pode ser feito por meio de uma participação ativa do BNDES no papel de financiador da transição, da criação de fundos públicos específicos, da facilitação do acesso ao crédito e da formação de parcerias público-privadas”, diz o estudo.

A entidade defende, no texto, a criação de um mercado de carbono no Brasil e de “offsets florestais” - a possibilidade de empresas compensarem parte de suas emissões financiando reflorestamento e outras atividades que retirem carbono da atmosfera.

“Em um cenário de abundância e baixo custo desses offsets no Brasil, a indústria pode efetivamente reduzir sua pegada de carbono e se alinhar às metas climáticas globais de uma maneira economicamente viável. Essa estratégia, quando bem implementada, representa uma solução eficaz e custo-efetiva que beneficia não apenas a indústria e a economia, mas também a biodiversidade e a comunidade local”, afirma a entidade.

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A CNI recomenda, no documento, “criar marcos regulatórios modernos e harmonizados, principalmente no que tange à estratégia de longo prazo e as medidas necessárias para a descarbonização da indústria”.

Também fala em “criar condições e regulação apropriada para redução dos riscos do setor financeiro frente ao financiamento climático (exemplo dos mecanismos de garantia), assim como destravar e/ou facilitar o acesso a financiamento, capital e recursos alternativos” e “incentivar instrumentos financeiros e fiscais, como tarifas feed-in, empréstimos, títulos verdes e classificações e padrões do mercado de títulos, incluindo padrões ESG”, entre outros pontos.

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