Brasil ainda aposta em negociar tarifas com os EUA, mas se prepara para retaliar

País deve manter mesma estratégia negociadora adotada quando Trump anunciou tarifa de 25% sobre aço e alumínio; governo e oposição se articulam no Congresso para possíveis retaliações

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BRASÍLIA - O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguarda, de forma apreensiva, os anúncios de tarifaço amplo que devem ser feitos nesta quarta-feira, 2, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na data intitulada pelo americano de “Liberation Day” (Dia da Libertação). Integrantes do Executivo brasileiro afirmam que o País seguirá insistindo na negociação em relação às possíveis novas tarifas, mas, paralelamente, o governo e a oposição se articulam no Congresso para preparar a legislação nacional em caso de eventuais retaliações.

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Interlocutores da gestão brasileira relataram ao Estadão/Broadcast que, até o início desta semana, ainda esperavam uma definição do que virá da Casa Branca. No setor privado, o clima é também de incerteza sobre o que o republicano irá anunciar, ambiente municiado também pelas vagas informações divulgadas até agora pelo governo americano.

Na semana passada, diplomatas do País foram aos Estados Unidos para uma rodada de conversas sobre as tarifas anunciadas por Trump e aproveitaram para fazer uma sondagem sobre o anúncio desta quarta. Uma pessoa a par das conversas afirmou à reportagem que ninguém está seguro do que virá e que é preciso esperar.

Integrantes do governo Lula defendem diálogo, mas não garantem sucesso nas tratativas com os Estados Unidos Foto: Ricardo Stuckert/PR

Até o momento, integrantes do governo Lula afirmam que não houve uma sinalização de que o Brasil estará ou não no novo pacote. Caso o País seja incluído, deverá ser mantida a mesma postura adotada desde o anúncio da tarifa de 25% sobre a exportação de aço e alumínio brasileiros para o mercado americano: a de negociação.

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Desde fevereiro, quando Trump anunciou as tarifas sobre alumínio e aço, o Brasil aposta na construção de diálogo entre representantes de ambas as nações para chegar a uma “solução satisfatória” sobre a questão. Nas últimas semanas, o foco está sendo conversas no nível técnico. Por enquanto, a lógica brasileira é negociadora, uma vez que o País vê argumentos consistentes para mostrar que, do ponto de vista do interesse da política externa de Trump e do setor privado americano, as tarifas sobre o aço brasileiro não são benéficas.

Na expectativa do governo Lula em relação ao anúncio desta quarta, o relatório anual sobre barreiras comerciais divulgado na segunda-feira, 31, pela gestão americana, reforçou a relevância que o etanol tem e terá nas negociações comerciais com o Brasil. Embora não tenha inovado nas críticas tradicionalmente feitas ao Brasil, o documento dá pistas sobre a argumentação que os Estados Unidos poderá lançar caso inclua o País no tarifaço amplo.

O setor privado espera que o Executivo brasileiro não mude o tom nesta quarta-feira se o País for atingido diretamente pelo anúncio do republicano. A avaliação das empresas, segundo representantes, é que o Brasil precisará ter frieza para reagir, antes analisando os impactos e depois partindo para a negociação com os Estados Unidos. Se for muito duro de imediato, corre o risco de ficar sem os canais de diálogo aprofundados recentemente.

Trump tem se mostrado irredutível em estabelecer exceções para a tarifa do aço e do alumínio, postura diferente de seu primeiro mandato, quando aceitou um acordo de cotas de exportação pelo Brasil que evitou a sobretaxa sobre a siderurgia local em 2018. Essa postura, inclusive, pode se manter sobre os anúncios de hoje. Dessa forma, tanto a base da gestão Lula quanto a oposição começaram a se articular no Congresso Nacional para preparar a legislação brasileira sobre possíveis retaliações que poderiam ser adotadas.

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Às vésperas da aplicação das tarifas recíprocas prometidas pelo presidente dos Estados Unidos, o Senado brasileiro aprovou o “PL da Reciprocidade”, projeto de lei que estabelece critérios para que o Brasil responda a “medidas unilaterais” adotadas por países ou blocos econômicos que afetem a competitividade internacional do País. O projeto permite que o governo possa aplicar contramedidas quando seus produtos sofrerem retaliações desmedidas de outros países.

Apesar de o Brasil defender o diálogo, integrantes do governo Lula não garantem o sucesso nas tratativas com os Estados Unidos. Uma pessoa a par das conversas afirmou que o governo pode fazer a “melhor negociação do mundo”, mas, ainda assim, a palavra final será da Casa Branca, que pode ter outras ideias.