Brasil tem 500 projetos de infraestrutura em elaboração para serem leiloados; veja mapas

Só neste ano, governo federal planeja realizar 82 leilões de empreendimentos incluídos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI)

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Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli

Apesar da incerteza econômica crescente dos últimos meses, o Brasil tem um longo cardápio de projetos de infraestrutura que pretende transferir para a iniciativa privada com potencial para atrair bilhões em investimentos nos próximos anos.

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Os projetos são, em sua maioria, encampados pela União e pelos Estados, mas há também ativos de municípios na lista. Um levantamento realizado pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) apontou que o País tem cerca de 500 projetos em estruturação para migrar para o setor privado. Ao todo, eles podem garantir R$ 750,5 bilhões em investimentos.

Esse investimento bilionário que pode chegar ao Brasil marca uma mudança de patamar e paradigma na infraestrutura brasileira. Por muitas décadas, a transferência para o setor privado era rechaçada no País. “Agora, os governantes tomaram a decisão política de fazer concessões. Não adianta ter um bom projeto se o governante não decidir fazer a concessão para o setor privado daquele ativo público”, afirma Roberto Guimarães, diretor de planejamento e economia da Abdib.

Investimento privado em infraestrutura bateu recorde em 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No ano passado, a estimativa da Abdib é a de que o investimento em infraestrutura alcançou R$ 259,3 bilhões, o maior valor já registrado pela série histórica da associação, iniciada em 2010.

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Os investimentos privados também bateram recorde e somaram R$ 197,1 bilhões. A associação faz a projeção com base nos dados dos balanços divulgados pelas empresas ao longo do ano. Os dados finais de 2024 ainda serão fechados com base nos últimos números das companhias.

Mais do que uma decisão política de abrir espaço para o setor privado, há ainda outros fatores apontados por especialistas que ajudaram o País a avançar no cenário do investimento em infraestrutura. São eles: a melhora da qualidade dos estudos de viabilidade e estruturação dos projetos, o surgimento das novas fontes de financiamento e o fato de o Brasil ser um dos poucos países com projetos robustos de concessão.

A economia brasileira também lida com uma restrição fiscal importante nos últimos anos, o que ajuda abrir espaço para o setor privado.

“Hoje, temos projetos de concessão com compartilhamento de riscos de demanda, de variação cambial. Isso não existia no passado”, afirma Guimarães.

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Em 2025, o governo federal espera realizar 82 leilões de projetos que estão dentro do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Os investimentos a serem contratados são de R$ 130 bilhões.

Do total de projetos, 42 são federais. O restante é de origem de entes subnacionais. Se essa previsão se confirmar, o resultado de 2025 será o melhor já apurado desde que o PPI surgiu, em 2016. Até agora, o melhor resultado é de 2021, quando foram registrados 66 leilões.

No PPI, há projetos previstos para diferentes áreas: portos e hidrovias, mineração, irrigação, óleo e gás, saneamento, iluminação pública, parques, estruturação de parcerias público privadas (PPP) para a educação infantil, entre outros.

“A nossa expectativa é de que esses projetos devem sair”, diz Cleyton Barros, chefe da assessoria especial para o PPI. “Na nossa avaliação, esse é um resultado da (melhora da) estruturação e modelagem e da conversa ao mercado. O processo de governança estabelecido pelo PPI perpassa todo o ciclo de desenvolvimento dos projetos de infraestrutura para que eles possam sair do papel.”

Em 2025, por exemplo, o Ministério dos Transportes pretende colocar de pé 15 leilões de rodovias. O número é maior do que o do ano passado, quando foram realizados sete leilões, a melhor marca em sete anos, e até acima do previsto pela PPI − são 12 na conta do programa.

O primeiro desses leilões foi realizado no fim de fevereiro. Sem concorrentes e por meio de um consórcio, as gestoras 4UM e Opportunity arremataram a concessão Agro Norte (BR-364/RO). O projeto de concessão da Agro Norte prevê R$ 10,23 bilhões em investimentos durante os 30 anos de contrato.

“O apetite (do investidor) está grande, apesar do juro alto e da preocupação com a inflação e com as contas públicas”, afirma Gesner Oliveira, sócio executivo da consultoria GO Associados.

Há ainda uma grande expectativa por leilões de outros setores, como no saneamento. Estão previstos leilões dos sistemas de Goiás, Rondônia e Paraíba. Fora do PPI, existe a expectativa pelo leilão do sistema de Pernambuco, que deverá ser o maior do País, com investimentos de R$ 18,9 bilhões.

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“O saneamento criou uma agenda regulatória. Há uma institucionalidade para conduzir esses programas de concessão e o mercado entendeu isso”, diz Fernando Vernalha, do Vernalha Pereira Advogados, especialista em investimentos em infraestrutura pública.

A carteira cheia de projetos e a sinalização de que os investidores querem investir no País impõem um desafio importante de manter uma estabilidade macroeconômica. Os juros em alta podem tornar os investimentos mais caros, o que contribui para piorar a atratividade dos projetos.

“Tem uma conjuntura que é mais desafiadora do que era há um ano, em razão dos juros altos e do câmbio volátil”, acrescenta Vernalha. “Mas há mecanismos de mitigação de risco cambial, por exemplo. Ele não é perfeito, mas ajuda a mitigar o risco.”

Hiato do investimento

Embora os números sejam positivos, o Brasil ainda tem um grande caminho a percorrer no setor de infraestrutura. Em 2024, a necessidade de investimentos no setor era de R$ 503 bilhões, segundo a Abdib. “Faltam R$ 201 bilhões por ano”, afirma Guimarães.

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Esse hiato é maior no setor de transporte e logística. O País investiu R$ 63 bilhões no ano passado, mas precisaria de R$ 264,4 bilhões. A segunda maior necessidade de investimento foi observada no setor de telecomunicações. São necessários R$ 88,9 bilhões, mas o País aportou R$ 43 bilhões em 2024.