Brasil perde relevância entre investidores que buscam emergentes enquanto Ásia ganha espaço; entenda

Com cenário de incerteza. gestores globais colocam economia brasileira em segundo plano e reforçam a aposta em Índia e Taiwan

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Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Por Luiz Guilherme Gerbelli e Thais Porsch (Broadcast)

Ao longo dos últimos anos, o Brasil tem visto a sua relevância encolher entre os países emergentes como destino de investimentos internacionais. Gestores de recursos têm redirecionado sua atenção para a Ásia, em especial Índia e Taiwan. Um termômetro que aponta para essa perda de relevância do Brasil é o índice Morgan Stanley Capital International (MSCI) Emerging Markets (mercados emergentes), que vem caindo consistentemente. No último rebalanceamento do índice, em novembro, a participação do Brasil foi de 4,5%. No auge, no fim de 2009, o País chegou a responder por 16,3%.

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Composto por papéis de companhias de 24 países, o MSCI serve de referência na estratégia de alocação de recursos para investidores, gestores de ativos e tomadores de decisão financeira em todo o mundo. Na prática, a queda da representatividade no índice significa redução do potencial de receber investimentos (o que o Brasil não pode prescindir), explica Michel Frankfurt, chefe da corretora de ações do Scotiabank.

O MSCI de mercados emergentes é construído com base no valor de mercado das empresas ajustado pela quantidade de ações disponíveis para os investidores comprarem. Os papéis de companhias de países com controle de capital, como é o caso da Argentina, não são contabilizados. Da América Latina, México, Chile, Peru e Colômbia fazem parte do índice.

O Brasil ainda é a quinta economia com mais relevância na composição do índice de emergentes. No rebalanceamento de novembro, a China seguia na liderança com 26,99%, seguida por Índia (19,93%), Taiwan (18,88%) e Coreia do Sul (9,73%).

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“O Brasil tem corrido o risco de ser mais ignorado pelos investidores globais. Quando (essa participação) chega próximo de 4%, se transforma num tamanho em que o investidor já começa a poder deixar (o país) de lado, não precisa prestar tanto atenção e ter times dedicados para olhar o mercado”, diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos.

Assim como a brasileira, a economia chinesa já teve uma representatividade maior - já alcançou 40%. No início dos anos 2000, o gigante asiático chegou a crescer acima de dois dígitos por vários anos, impulsionando a atividade econômica global. Hoje, porém, tem dificuldade para entregar a meta de crescimento de 5%.

“A dúvida não é se a China vai subir, mas sim o quanto ela vai cair daqui para frente. Quem está se beneficiando disso é a Índia”, afirma Michel Frankfurt.

A Índia tem se beneficiado de um crescimento consistente. Os dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que a economia indiana deve crescer 7% em 2024 e manter um ritmo de alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,5% nos próximos cinco anos. Em 2011, a relevância indiana no índice de emergentes era de aproximadamente 6%. Até 2020, sua participação não chegava a 10%. E Taiwan, outro polo de atração de capitais, se destaca pelo fortalecimento das companhias de tecnologia.

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“A Índia é um grande destaque de crescimento este ano. É uma economia que tem um crescimento muito forte e robusto”, afirma Marianna da Costa, economista chefe da Mirae Asset.

Dentro do MSCI de mercados emergentes, as ações do setor de tecnologia já respondem por quase 25% do índice. “As empresas de tecnologia performaram muito bem, e a Ásia tem empresas relevantes”, diz Ferreira. “Tem muito a ver com o que o investidor está buscando e onde está o crescimento.”

O que explica a queda do Brasil?

A perda de participação brasileira foi influenciada tanto por fatores externos quanto internos.

No lado externo, o menor crescimento da China contribuiu para uma queda do patamar dos preços das commodities em relação ao pico registrado na virada da década passada. O Brasil é um grande exportador de produtos básicos, como soja, petróleo e minério de ferro. Portanto, o comportamento do valor das commodities sempre tem um impacto na Bolsa de valores brasileira e no câmbio.

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Desempenho das ações brasileiras em dólar tem tido performance fraca  Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

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“O crescimento do Brasil para o seu pico foi resultado do boom das commodities, que reforçou o avanço da Bolsa brasileira e também o câmbio nesse período”, diz José Maria da Silva, coordenador de alocação e inteligência na corretora Avenue. “A reversão desse ciclo levou, consequentemente, à queda da Bolsa e à desvalorização cambial, que impactaram o peso do Brasil (no índice).”

Como fator interno, há uma grande incerteza com relação às contas públicas do País. E essa dúvida só cresceu depois da apresentação do pacote de contenção de gastos e do projeto de isenção do Imposto de Renda para as pessoas que ganham até R$ 5 mil. As medidas foram consideradas aquém do que o País precisa para controlar o aumento da dívida pública.

Além disso, o País pode ter uma perda bilionária na arrecadação com a mudança no IR, embora a equipe econômica tenha apontado a taxação de brasileiros que ganham mais de R$ 50 mil por mês como uma contrapartida.

O grande nó é que a leitura do pacote fiscal também foi política, e a avaliação é a de que a equipe econômica saiu derrotada com o projeto de isenção de IR num momento em que o Brasil precisa de um ajuste das contas públicas para garantir a sobrevivência do arcabouço fiscal e impedir o crescimento do endividamento - considerado alto para uma economia emergente.

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Na quarta-feira, 4, uma pesquisa elaborada pela Genial/Quaest mostrou que 61% dos entrevistados apontaram que ministro da Fazenda, Fernando Haddad, perdeu força desde o início do mandato. Em março, apenas 14% tinham essa impressão. A reprovação do presidente Lula no mercado financeiro subiu de 64% para 90%.

A pesquisa da Genial foi realizada entre 29 de novembro e 3 de dezembro. Foram feitas 105 entrevistas com gestores, economistas, analistas e operadores (traders) de fundos de investimento sediados em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O resultado do anúncio do pacote, esperado pelo mercado para reduzir as incertezas, foi o aumento da volatilidade. No momento de maior ruído, o dólar chegou a ultrapassar a marca de R$ 6,10 - o maior patamar já alcançado pela moeda americana -, os juros futuros dispararam e a Bolsa continua registrando a saída de recursos estrangeiros - já foram mais de R$ 30 bilhões neste ano.

“Nos últimos 10 anos, o Ibovespa subiu 150% em reais. O problema é que a nossa moeda depreciou demais nesse período”, afirma Ferreira, da XP Investimentos. “Quando a gente converte o desempenho das ações brasileiras para dólar, a performance foi muito mais fraca do que a em reais. Para o investidor estrangeiro, o que conta é a performance em dólar. É o que ele leva para casa no fim do dia.”

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Segundo o chefe da corretora do banco UBS BB, Marcelo Okura, no curto prazo, os investidores não esperam que haja um catalisador positivo. Não é uma percepção de ficar de fora do Brasil, mas eles não têm tanto interesse nesse momento em relação a outros mercados em que eles conseguem um retorno mais favorável. “O que os investidores podem enxergar como um motivo para voltar a ter mais interesse no País é o começo da discussão política no último trimestre de 2025.”

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