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Brasil precisa de transformação produtiva para disseminar inovação, diz economista-chefe da Fiesp

Igor Rocha afirma que País tem uma posição ‘bastante singular e positiva’ em relação à transição verde e precisa aproveitar suas vantagens naturais para liderar setores estratégicos

Por Diego Lazzaris
Foto: Everton Amaro
Entrevista comIgor RochaEconomista-chefe da Fiesp

O Brasil tem a oportunidade de desenvolver uma economia mais sustentável que atraia recursos e estimule o crescimento do emprego e da renda, se souber aproveitar suas vantagens naturais para liderar em setores estratégicos de inovação e tecnologia. A avaliação é do economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, que participou nesta terça-feira, 23, do Fórum Estadão Think - A Indústria no Brasil Hoje e Amanhã, realizado na sede da Fiesp, na Avenida Paulista.

“Precisamos fazer uma transformação produtiva nos nossos setores e na nossa economia, especialmente para conquistar mercados com setores de média tecnologia, que são intensivos em inovação e tecnologia, além de promover a disseminação de inovações para o restante da economia”, afirma Rocha. Segundo ele, nesse sentido, o Brasil tem uma posição “bastante singular e positiva, principalmente em relação à sustentabilidade e à transição verde”.

“O País está sendo colocado no centro das instituições globais como uma economia com um potencial fantástico, dadas, obviamente, suas dotações naturais que atraem esse tipo de capital”, diz.

Para o economista, o custo elevado do crédito e a carga tributária extremamente alta no País penalizaram na última década a indústria brasileira. A reforma tributária aprovada pelo Congresso traça, portanto, um cenário positivo para o futuro do setor. “No futuro, podemos realizar revisões nesses tratamentos diferenciados introduzidos pela reforma tributária, buscando criar um ambiente tributário mais justo e isonômico entre os setores”, defende.

Rocha diz que a insegurança jurídica ainda gera dificuldades para o investimento de longo prazo, devido às imprevisibilidades. Segundo ele, embora o período de adaptação à reforma tributária seja longo, as mudanças também poderiam ajudar reduzir a judicialização tributária.

Leia, a seguir, trechos da entrevista com o economista.

Indústria teve uma queda bastante acentuada na participação do PIB nas últimas décadas no Brasil Foto: Werther Santana/Estadão

Como fazer com que a indústria volte a ganhar competitividade e protagonismo na economia brasileira?

De fato, a indústria teve uma queda bastante acentuada na participação do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos 30 anos, e isso se deve a uma conjunção de fatores. Um dos principais motivos é o custo do crédito, que é muito elevado no setor industrial. Outro ponto é a questão tributária. A indústria, sobretudo a de transformação, tem uma carga tributária extremamente elevada quando comparada a outros setores. Nesse sentido, a reforma tributária é muito positiva porque trará mais transparência, evidenciando claramente quais setores pagam muito, quais pagam pouco e quais nada pagam. No futuro, podemos realizar revisões nesses tratamentos diferenciados introduzidos pela reforma tributária, buscando criar um ambiente tributário mais justo e isonômico entre os setores. Assim, aqueles que forem mais competentes poderão performar melhor, sem as distorções que muitas vezes fazem parecer que o setor A, B ou C é mais competente que o D, E ou F, sem uma análise adequada dos fatores por trás disso.

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A burocracia e a insegurança jurídica também são vistas como entrave para o desenvolvimento da indústria. Como melhorar isso?

Toda a incerteza, por mais que seja de curto prazo, gera uma dificuldade para o investimento de longo prazo, porque a imprevisibilidade traz insegurança. A insegurança jurídica é um dos componentes do chamado ‘custo Brasil’ que os empresários frequentemente mencionam. Existem outros fatores, mas a insegurança jurídica é um dos mais comumente abordados. Isso é muito custoso para as empresas. Quando você está planejando um investimento, como fábricas e plantas industriais, que geralmente envolvem volumes de investimento bastante vultuosos, a falta de clareza e segurança jurídica cria um ambiente muito adverso para o investimento produtivo. A famosa frase ‘no Brasil, até o passado é incerto’ reflete bem essa situação, tornando o ambiente ainda mais desafiador para quem quer investir. Sem dúvida, a reforma tributária também ajuda a melhorar a segurança jurídica, e se espera que reduza a judicialização tributária. Embora o período de adaptação seja longo, essa mudança é um fator positivo. Hoje, a insegurança jurídica afeta diversas formas de investimento, e alguns pesquisadores apontam que isso também influencia as altas taxas de juros no Brasil.

Existem setores específicos que poderíamos focar para aumentar a competitividade da indústria?

Precisamos fazer uma transformação produtiva nos nossos setores e na nossa economia, especialmente para conquistar mercados com setores de média tecnologia, que são intensivos em inovação e tecnologia, além de promover a disseminação de inovações para o restante da economia. Nesse sentido, o Brasil tem uma posição bastante singular e positiva, principalmente em relação à sustentabilidade e à transição verde. Temos setores de energias renováveis, como a eólica, incluindo a potencialidade do vento do mar, além do hidrogênio verde e a exploração da eólica offshore. O Brasil pode, sem dúvida, atrair muito capital para essa agenda. O País está sendo colocado no centro das instituições globais como uma economia com um potencial fantástico, dadas, obviamente, suas dotações naturais que atraem esse tipo de capital. A entrada desses recursos pode fomentar significativamente o crescimento do emprego e da renda no País. É uma oportunidade para desenvolvermos uma economia mais sustentável e competitiva globalmente, aproveitando nossas vantagens naturais para liderar em setores estratégicos de inovação e tecnologia.

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