O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, aproveitou o local de realização do CNN Talks sobre o futuro da indústria para fazer uma analogia com o Brasil. “Fico feliz que estejamos aqui na Faria Lima, símbolo do rentismo, para falar da importância da indústria”, disse o executivo, nesta quinta-feira, 29. O evento realizado pela emissora ocorreu no Solar Fábio Prado, antiga sede do Museu da Casa Brasileira.
Os números apresentados por Josué dão uma ideia de quanto o Brasil pagou de juros em dez anos. Segundo os cálculos da Fiesp, a conta chega a R$ 4,7 trilhões. Mais do que a soma do investimento em saúde (R$ 1,85 trilhão); educação (R$ 1,76 trilhão) e infraestrutura (R$ 830 bilhões), no mesmo período da última década.
“O País não terá futuro se o investidor preferir renda a uma atividade produtiva. A indústria cria. Precisamos ter uma indústria forte. Espero que eles, aqui na Faria Lima, saiam da bolha deles e vejam a importância do setor produtivo. A indústria não é o passado, é o futuro do País”, afirmou Josué.
A mudança de visão sobre a indústria também balizou a fala de Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estados de São Paulo (Ciesp). “Temos de ser mais ousados. Com novos pensamentos e novas conexões. Para isso, precisamos de políticas industriais duradouras para não perder incríveis janelas de oportunidades que estão aí.” Para o executivo, países como a China e até o México, no caso da América Latina, são exemplos de como políticas públicas de Estado, e não de governo, podem dar resultados.
A taxa de juros em padrões elevados, para Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é outro fator que anula uma série de vantagens competitivas que o Brasil pode ter. “Os juros estão artificialmente elevados, o que gera distorções desde a época da estabilização. Quem perde com isso é quase toda a sociedade brasileira, desde famílias a empresas.”
Para Lucchesi, a elevada concentração bancária é uma das explicações para a taxa de juros estar fora do razoável. Enquanto a média no mundo está em 7%, índice usado pelo Peru, por exemplo, no Brasil, o spread (a diferença entre o que as instituições pagam para captar dinheiro e o que cobram quando o emprestam) é de 31% ao ano, lembrou o dirigente da CNI.
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Previsibilidade
Em tese, como afirmou Marco Saltini, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), previsibilidade, continuidade e cuidado com o ambiente de negócios são linhas mestras que grandes políticas industriais, inclusive a das grandes potências, precisam ter. “Tanto o exemplo do Plano Safra, para o agronegócio, quanto o do Proálcool, mais atrás, que também trouxe desenvolvimento tecnológico para a indústria nacional, nos mostram caminhos que nos preparam para sermos competitivos.”
Poucos países têm o território que temos e a fotossíntese que tempos, representada pela disponibilidade de Sol, que pode produzir de duas a três safras no mesmo hectare
Josué Gomes, presidente da Fiesp
O fato de o Brasil ter muito potencial, em várias frentes, além de principalmente possuir material humano de altíssima qualidade, é que classifica o Brasil como “a maior potência verde do planeta”, segundo o presidente da Fiesp. “Poucos países têm o território que temos e a fotossíntese que tempos, representada pela disponibilidade de Sol, que pode produzir de duas a três safras no mesmo hectare. Exportamos água doce quando exportamos soja e milho. Existem, ainda, as riquezas minerais no subsolo. E o combustível fóssil que será fundamental para financiar a transição energética. Tudo isso deixa claro a nação próspera que podemos ser”, defendeu Josué.
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