Busca por metais para veículos elétricos provoca sofrimento em nova ‘corrida do ouro’

Moradores de região extratora de bauxita, mineral fonte do alumínio, na Guiné, veem terras usadas para agricultura servirem às multinacionais, com pouca ou nenhuma indenização

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Por Rachel Chason e Chloe Sharrock

THE WASHINGTON POST – Um dos países mais pobres do planeta tornou-se uma peça crucial na transição energética do mundo.

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A Guiné, uma nação da África ocidental com mais de 13 milhões de habitantes, é lar das maiores reservas do mundo de bauxita – uma rocha marrom-avermelhada que é a principal fonte de alumínio. Esse metal leve, por sua vez, é essencial para os veículos elétricos porque possibilita uma autonomia de bateria maior do que se elas fossem feitas de aço. E ao longo desta década, quando os especialistas esperam que as vendas globais de veículos elétricos aumentem quase nove vezes, a demanda por alumínio aumentará aproximadamente 40%, para 119 milhões de toneladas por ano, segundo os analistas do setor.

O país já está vendo um boom sem precedentes em suas exportações de bauxita, que quase quintuplicaram entre 2015 e 2020, de acordo com estatísticas do governo dos Estados Unidos, e os analistas preveem que a produção continuará a crescer bastante ao longo da próxima década. A região de Boké, no noroeste do país, epicentro da exploração da bauxita, foi transformada por um fluxo contínuo de caminhões e trens transportando o precioso minério por estradas e trilhos recém-construídos que levam até os portos da costa.

No entanto, por toda a região, milhares de habitantes dos vilarejos estão pagando um preço alto por isso, de acordo com dezenas de entrevistas com moradores de seis vilarejos de Boké, grupos de monitoramentos sem fins lucrativos e especialistas do setor. O governo da Guiné informou que centenas de quilômetros quadrados outrora utilizados para a agricultura foram adquiridos por mineradoras para dar lugar às suas operações e conexões com estradas, ferrovias e portos.

Os moradores receberam pouquíssimas ou nenhuma indenização, segundo ativistas dos direitos humanos e a população local. Nas próximas duas décadas, de acordo com um estudo do governo, mais de 80 mil hectares de terras agrícolas e 400 mil hectares de hábitats naturais serão destruídos pela mineração da bauxita – uma área quase do tamanho do estado americano de Delaware.

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A demanda impressionante por veículos elétricos – que costumam exigir seis vezes em peso o insumo de minerais, em comparação com os modelos movidos a combustíveis fósseis, apenas para fazê-los funcionar – está provocando uma nova “corrida do ouro” por uma série de metais, entre eles bauxita, níquel, lítio e manganês, necessários para fabricá-los e possibilitar que se locomovam. Mas, embora os veículos elétricos sejam considerados amplamente como essenciais para as iniciativas globais de combate às mudanças climáticas, os impactos e as consequências não intencionais para garantir esses minerais são negligenciados com frequência.

Pouco se reconhece o preço que esta exploração de minerais está tendo, e poderia ter cada vez mais, para as comunidades locais, os trabalhadores, o meio ambiente e até mesmo a estabilidade política, porque grande parte da atividade está acontecendo em lugares remotos do mundo, desde aldeias de pescadores na África ocidental até ilhas longínquas no sudeste asiático.

Se ignorar os seus impactos, a transição energética corre o risco de repetir a história cruel das revoluções industriais anteriores.

Quando uma mineradora chinesa chegou pela primeira vez em 2016 a este vilarejo da Guiné perto da costa atlântica, representantes da empresa e funcionários do governo ofereceram aos moradores empregos e dinheiro em troca de centenas de hectares de suas terras agrícolas, lembrou Mohamed Sylla, morador local. Eles se sentiram coagidos a aceitar.

Guiné é um dos países mais pobres do mundo Foto: Divulgação

Pouco tempo depois, as explosões de dinamite para abrir uma estrada até a mina de bauxita destruíram as paredes de concreto da casa de Sylla, fazendo com que sua esposa fugisse em busca de um lugar seguro e obrigando a família a se mudar dali. Ao longo dos anos seguintes, ele disse ter observado camadas espessas da poeira dos caminhões transportando bauxita arruinarem as plantações de berinjela, milho e castanhas dos moradores, e como o trânsito das barcaças carregadas de minério para o exterior afugentaram os peixes outrora abundantes ali.

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Em entrevistas, as mulheres do noroeste da Guiné disseram ter perdido as esperanças com as colheitas insignificantes, e os pescadores, como Sylla, 30 anos, disseram estar com tanta dificuldade para encontrar peixes, que mal conseguem se sustentar. Segundo os moradores, os empregos prometidos pela Société Minière de Boké (SMB) – um consórcio que inclui uma subsidiária do maior produtor de alumínio do mundo, o China Hongqiao Group – nunca viraram realidade. E os pagamentos em dinheiro revelaram ser extremamente decepcionantes.

“Estou frustrado”, disse Sylla, arqueando as sobrancelhas acima dos óculos escuros enquanto seu tom de voz alternava entre inquietação e resignação silenciosa. “Mas, mais do que isso, perdi a esperança.”

O escoamento da estrada da mina tornou a água em muitos dos rios e córregos imprópria para consumo, relataram Sylla e outros moradores. Então, no ano passado, a bomba de água fornecida pela mineradora para o vilarejo quebrou. Kagbani ficou sem água.

Sylla disse não ter tido dificuldades para reunir os moradores locais e reclamar. Eles se posicionaram sobre os trilhos do trem da SMB – que a empresa adicionou em 2021 como mais um meio de transporte do minério – deram-se os braços e se recusaram a sair dali.

Depois de dois dias de protestos – uma das muitas manifestações em toda a região nos últimos anos – a empresa entregou uma nova bomba de água, disse Sylla. Os moradores deixaram o local, mas Sylla disse que o abastecimento de água insignificante pouco consolava por tudo que tinham perdido.

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Apesar de riquezas, pescadores da Guiné não tiveram melhoras no padrão de vida Foto: Natalija Gormalova / AFP

Na estrada de terra vermelha que liga o porto da costa às minas de Boké, um enorme caminhão amarelo apareceu num domingo de manhã, acabando com o silêncio ao buzinar. Dez segundos depois, outro caminhão apareceu. Depois outro, e outro, e outro.

Mesmo depois de uma noite de fortes chuvas, os caminhões da SMB levantavam nuvens de poeira que cobriam as palmeiras, os cajueiros e as mangueiras nas proximidades. Eles já tinham feito a primeira entrega de bauxita do dia no porto e estavam voltando às minas para pegar mais. Não eram nem nove da manhã.

Durante o governo do então presidente Alpha Condé, a Guiné concedeu uma licença à SMB em 2015. Na mesma época, a Indonésia e a Malásia restringiam suas próprias exportações de bauxita devido a preocupações, respectivamente, com a exploração estrangeira dos recursos e a degradação ambiental. A SMB enviou sua primeira tonelada de bauxita da Guiné depois de seis meses, antes mesmo de o Ministério do Meio Ambiente concluir suas avaliações sobre o impacto da atividade, disseram ativistas dos direitos humanos.

A SMB ultrapassou rapidamente a Compagnie des Bauxites de Guinée (CBG) – uma multinacional de 50 anos, de propriedade do governo federal e de empresas privadas, incluindo a americana Alcoa e a anglo-australiana Rio Tinto – e se tornou a maior produtora de bauxita da Guiné. No intervalo de apenas cinco anos, a produção aumentou tão depressa que a participação da Guiné no mercado mundial de bauxita saltou de 6% para 22%.

Durante esse período, a revolução dos veículos elétricos estava ganhando força, impulsionada pela demanda incomparável na China, onde 1,8 milhão deles foram vendidos em 2020, exigindo quase 400 milhões de quilos de alumínio, segundo a CRU, consultoria de negócios que analisa as indústrias de mineração e de metais. Até 2030, quando, segundo as estimativas da CRU, a China venderá até 18,5 milhões de veículos elétricos, o país precisará da espantosa quantidade de quase 4 bilhões de quilos de alumínio.

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Embora menor, o mercado americano de veículos elétricos também está crescendo, com projeções de aumentar mais do que cinco vezes entre 2020 e 2028. A cadeia de suprimentos do alumínio para as montadoras americanas, incluindo Ford, General Motors e Tesla, inclui bauxita extraída pelos dois principais produtores da Guiné, de acordo com um relatório de 2021 da Human Rights Watch e do Inclusive Development International (IDI), grupo de defesa com sede nos EUA que busca proteger comunidades ameaçadas pelos empreendimentos corporativos.

Ibrahima Diallo, ex-funcionário do governo, disse que a rápida expansão da indústria de bauxita na Guiné é, de muitas formas, uma história de sucesso. Segundo ele, ela criou milhares de empregos e gerou milhões de dólares em receita fiscal a cada ano. No entanto, ele disse que o governo estava despreparado para o tremendo interesse pelos minerais do país e que não tinha meios para proteger o meio ambiente ou canalizar a receita para as áreas mais afetadas pelo boom.

“Não podíamos imaginar, mesmo nós, especialistas em mineração, que isso fosse possível”, disse Diallo, que trabalha atualmente como professor e está terminando um doutorado em mineração. “Foi um aumento gigantesco... E ninguém estava preparado.”

Aboubacar Dembo Diaby, uma liderança do vilarejo de Dapilon, ficou perplexo quando viu uma equipe de trabalhadores chineses caminhando por suas plantações de amendoim e batata. Eles chegaram sem aviso, lembrou, e estavam cavando buracos com equipamentos estranhos naquela manhã de 2016, coletando amostras do solo de barro vermelho.

“O que vocês estão fazendo aqui?”, ele perguntou.

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Os homens não falavam francês nem susu, o idioma local, e Diaby não falava chinês ou inglês. Mas, logo depois, disse ele, uma equipe de funcionários da SMB e do governo local apareceu no vilarejo sombreado por palmeiras para explicar a presença deles. A empresa precisava de áreas extensas de terra perto de Dapilon, que se tornaria o local do principal porto da SMB. Em troca, disse Diaby, ela ofereceu aos moradores um pagamento único que variava de US$ 200 a US$ 450.

N’Näissata Dansoko, viúva e mãe de sete filhos, disse que no começo ficou otimista ao ouvir os representantes da empresa falarem de trazer eletricidade, um hospital e programas de treinamento profissional para o vilarejo. N’Näissata, que não sabe ler, contou ter assinado um documento em que abria mão de suas terras mais férteis.

Fabricação de carros elétricos; veículos são vistos como futuro menos poluente da indústria automobilística Foto: Philippe Wojazer / Reuters

Quando abriu o envelope com o dinheiro, achou que o coração fosse explodir. O maço de notas era uma fração do que ela esperava com base no valor da terra – e uma fração do que calculou que precisaria para compensar os anos de prejuízos que estavam por vir. “Nada”, disse N’Näissata, com os olhos amendoados piscando enquanto ela chacoalhava sua bolsinha vermelha com estampa de leopardo. “Não nos deram nada.”

Em seis vilarejos – quatro perto das operações de mineração da SMB e dois perto das operações da CBG – os moradores repetiram versões da mesma história de N’Näissata, descrevendo pagamentos únicos que pouco compensavam pelos lucros perdidos com terrenos há gerações na família.

Ambas as empresas tiraram proveito das frágeis leis de propriedade da Guiné, de acordo com um relatório de 2018 da Human Rights Watch, que constatou que as empresas ignoraram em grande parte os laços históricos dos moradores com as terras. Em seu relatório de 2021, o grupo disse que as empresas assumiram a responsabilidade, com pouca contribuição pública, de “determinar arbitrariamente se e como indenizar as famílias por suas terras”.

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Desde a década de 1980, 17 vilarejos da região de Sangarédi, a cerca de 64 quilômetros a leste de Boké, perderam aproximadamente três mil hectares de plantações e pasto para as operações de mineração da CBG, de acordo com o mapeamento feito por comunidades locais e imagens de satélite coletadas por grupos ambientais da Guiné e pelo IDI.

Três grupos sem fins lucrativos, entre eles o IDI, apresentaram uma queixa em 2019 em nome de 13 vilarejos do país, alegando que a CBG tinha violado seus direitos e deixado de fornecer uma indenização adequada. A queixa foi apresentada contra a International Finance Corporation, um braço do Banco Mundial que concedeu à CBG um empréstimo de US$ 200 milhões em 2016 para a sua expansão; o caso agora está em mediação. A CBG concordou em 2021 em interromper a detonação de dinamite em áreas a menos de um quilômetro dos vilarejos e alterar o tipo de explosivo para diminuir seu impacto. O processo de mediação apelou para as preocupações dos moradores dos vilarejos sobre o acesso e a qualidade da água.

A CBG não respondeu aos repetidos convites de posicionamento.

A quantidade de propriedades adquiridas pela SMB em Boké não foi totalmente contabilizada pela comunidade e pelos grupos de direitos humanos. Mas apenas em Dapilon, imagens de satélite coletadas pela Human Rights Watch mostram que a empresa adquiriu aproximadamente 200 hectares desde 2016.

O diretor-geral da SMB, Fréderic Bouzigues, afirmou em um comunicado que a empresa garantiu “o reconhecimento dos direitos fundiários consuetudinários dos indivíduos e das comunidades”, trabalhando por meio de consultores para adquirir terras e atualizando regularmente o valor pago por elas com base em pesquisas de mercado na região de Boké.

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Bouzigues disse que o consórcio criou mais de dez mil empregos desde 2014 e está finalizando a construção de um centro de treinamento prático que receberá graduados para estágios. Além disso, segundo ele, o consórcio também apoiou os pescadores da região, doando “mais de dez barcos de pesca motorizados para as comunidades pesqueiras e oferecendo formação profissional e licenças para os pescadores pescarem fora do canal do rio até o alto mar”.

N’Näissata agora aluga terras agrícolas num vilarejo vizinho, mas ela disse que a propriedade é menos fértil do que aquela que vendeu à SMB e que a poeira dos caminhões transitando pela área tornou impossível cultivar uma plantação durante a estação seca. Pressionando as mãos contra as têmporas enquanto tentava calcular seu prejuízo, ela disse que atualmente sua renda é cerca de um décimo do que ganhava antes.

Ela e Diaby disseram que não viam o valor da bauxita sob o solo de seu país até que os estrangeiros começaram a levá-la embora.

“O que faz com que as pessoas se alegrem em outros lugares”, disse Diaby, “é o que está nos fazendo sofrer”.

Cerca de 112 quilômetros a nordeste de Dapilon, o rio Fassalywol, de cor laranja-avermelhado, serpenteia pelo vilarejo de Fassaly Foutabh. As mulheres dali dizem que costumavam passar muitas horas agradáveis nas margens do rio, conversando enquanto pescavam e preparavam refeições com berinjela, tomate e pimentão que cultivavam. Mas, segundo elas, desde que a CBG expandiu suas operações, incluindo a abertura de um local de armazenamento de bauxita em direção à cabeceira do rio em 2018, os sedimentos tornaram a água inabitável para a maioria dos peixes e imprópria para consumo humano.

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Os rios e os córregos em toda esta região foram afetados pela mineração, com a remoção da vegetação para as minas e operações associadas causando erosão do solo, enchendo águas outrora límpidas com sedimentos.

Em Fassaly Foutabh, a CBG perfurou vários poços para o abastecimento de água. Mas as bacias de armazenamento de água estão turvas e cheias de insetos. Os moradores disseram que agora dependem principalmente da água da chuva, que é quase inexistente durante a estação seca.

Aminata Bah, avó de 11 netos que costumava pegar água potável para sua família no rio Fassalywol, disse acreditar que mais moradores estejam adoecendo por causa da falta de água potável. “Sem água não há vida”, disse Aminata.

As operações da mineração também afetaram o rio Nuñez, um canal estreito que serpenteia ao longo dos vilarejos de Boké e se alarga à medida que se aproxima do oceano Atlântico. Pescadores em canoas piroga disseram que as águas que costumavam ser lar de cardumes extensos agora estão agora quase desprovidas de peixes.

Numa tarde nublada recente, Aboubacar Camara, um homem de baixa estatura, com um sorriso largo e um boné com a palavra “BOSS” estampada, dirigia sua canoa ao longo do porto da SMB, passando pelo imponente posto de abastecimento das barcaças e pelo maquinário enorme utilizado para carregá-las com bauxita – várias delas por dia, cada uma carregada com cerca de oito mil toneladas. Ele navegou entre essas embarcações e as lanchas da patrulha de segurança da SMB. E se preparou para as ondas formadas pela movimentação delas, que fazem sua precária canoa balançar.

Camara disse que costumava pescar até 45 quilos de peixe por dia. Mas as enormes e incessantes barcaças, disse ele, afretaram as outrora áreas ricas em peixe, e os cascos das lanchas que passam rotineiramente cortam as redes que os pescadores prendem às boias. Sua pesca diária hoje está mais próxima de 4,5 quilos, afirmou.

Levando sua canoa até uma das boias, marcada com um sinalizador com borla branca, Camara começou a puxar uma rede. O som das ondas quebrando e das gaivotas misturaram-se ao zumbido constante das máquinas do porto quando a chuva começou a cair.

Ele olhou para os peixes capturados na rede – não mais do que duas dúzias – e balançou a cabeça. “Pouco, muito pouco”, disse ele.

Conforme a chuva passava de algumas gotas para um aguaceiro, ele conduziu sua canoa até a boia mais próxima, na expectativa de ter mais sorte.

A mineração a céu aberto da bauxita é naturalmente problemática. Os especialistas do setor reconhecem que a perda de terras, a interferência nos habitats da vida selvagem, o ruído e a poeira são inevitáveis. Eles concordam que a mitigação dos danos exige uma regulamentação eficiente, um envolvimento da comunidade e uma supervisão rigorosa. Por enquanto, tudo isso tem sido extremamente escasso na Guiné.

O Natural Resource Governance Institute, uma organização com sede em Nova York que defende o desenvolvimento sustentável e inclusivo, atribuiu ao governo da Guiné uma classificação de “fraco” para o controle da corrupção em 2021 e uma classificação de “deficiente” no Estado de direito. Mamadou Oury Bah, ativista da Action Mines Guinée, disse que a supervisão eficiente era impossível sob o governo de Condé, devido à corrupção generalizada.

Após Condé ser deposto pelo coronel Mamady Doumbouya em 2021, o jovem líder das forças especiais do país manifestou a vontade de manter uma postura firme com as mineradoras estrangeiras. Mas as decisões do governo de Doumbouya, incluindo um congelamento das receitas da mineração, que foram compartilhadas com as comunidades locais, levaram os críticos a duvidar das perspectivas de melhoria concreta.

A bauxita extraída na Guiné é enviada para o exterior para ser refinada em alumina, que por sua vez é fundida em alumínio. A SMB envia seu minério para o China Hongqiao Group, o maior produtor de alumínio do mundo, enquanto a CBG envia sua bauxita para refinarias nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa, de acordo com o IDI.

As principais montadoras do mundo, que compram o metal refinado, não fazem o levantamento de suas cadeias de suprimentos de alumínio desde quando saem das minas e, como consequência, não as policiam adequadamente em relação a abusos, de acordo com o relatório da Human Rights Watch e do IDI. Os grupos chamaram a bauxita de “um ponto cego” para os fabricantes de automóveis. Várias montadoras responderam às conclusões dos grupos mencionando a complexidade das cadeias de suprimentos como um obstáculo para identificar a fonte de seu alumínio.

A Ford e a Tesla não responderam aos pedidos de posicionamento para esta reportagem. A General Motors se recusou a abordar preocupações específicas relacionadas com a mineração da bauxita, mas apresentou suas diretrizes gerais para direitos humanos e responsabilidade corporativa.

O IDI observou que algumas montadoras manifestaram preocupações, por exemplo, quando 11 empresas americanas, europeias e japonesas escreveram em 2021 para a Aluminum Association, grupo comercial da indústria nos EUA, expressando sua “preocupação com a situação na Guiné” e endossando os esforços de mediação entre a CBG e os vilarejos. O IDI considerou a ação como uma medida positiva, mas também disse que os fabricantes de automóveis deveriam fazer suas próprias auditorias regulares à cadeia de suprimentos.

Na prática, os moradores dos vilarejos dizem que é difícil conseguir que alguém se responsabilize.

À sombra de uma das minas da SMB, onde os moradores relatam que a explosão de dinamite provoca um ruído tão alto que não conseguem dormir e os protestos levaram a prisões, Diallo Thierno Mamoudou disse se sentir traído pela mineradora para a qual um dia sonhou em trabalhar. Há três anos, o irmão dele de 20 anos foi atingido na cabeça durante um desabamento de pedras provocado pelas explosões de dinamite enquanto trabalhava na lavoura, contou. Quando Mamoudou o encontrou, o irmão estava coberto de sangue e sem conseguir falar.

Numa clínica administrada pela SMB no vilarejo de Barkéré, um médico chinês o medicou com penicilina e depois o dispensou, lembrou Mamoudou. O rosto do jovem ainda incha de vez em quando, e ele às vezes perde a visão e o equilíbrio. Mamoudou disse que as inúmeras tentativas da família de conseguir mais cuidados médicos ou até mesmo um pedido de desculpas da SMB foram ignoradas.

“Não quero mais tentar trabalhar para eles”, disse Mamadou, sentado em uma casa de cimento repleta de rachaduras provocadas pelas explosões de dinamite. “Só quero que eles vão embora.”

O preço secreto dos carros menos poluentes

Conforme a demanda global por carros elétricos começa a superar a de modelos movidos a gasolina, os repórteres do Washington Post decidiram investigar as consequências não intencionais do boom global desse tipo de veículo. Esta série explora o impacto nas comunidades locais, nos trabalhadores e no meio ambiente para conseguir os minerais necessários para a fabricação e o funcionamento dos veículos elétricos./Tradução de Romina Cácia

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