Análise | ‘Cadeira elétrica’ da Petrobras faz mais uma vítima; é hora de um debate sério sobre privatização

Qual empresa aguenta ter 8 presidentes em 8 anos? Qual empresa aguenta trocar de acionista majoritário a cada 4 ou no máximo 8 anos?

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Adriano Pires
Atualização:

A cadeira de presidente da Petrobras parece uma cadeira elétrica. Magda Chambriard será a 8.ª presidente em um período de 8 anos. Ou seja, na média, mandatos de 1 ano.

PUBLICIDADE

As motivações para a troca de presidente da empresa são sempre as mesmas: contrariar ou não dar a velocidade para a implantação das políticas que o presidente da República deseja. Portanto, o que devemos discutir não são as razões de por quê o presidente Lula demitiu Jean Paul Prates - essas são conhecidas e, portanto, isso é uma discussão secundária.

O que já passamos da hora de discutir no Congresso e na sociedade é que esse modelo de empresa de economia mista não funciona e que seu prazo de validade esgotou. Qual empresa aguenta ter 8 presidentes em 8 anos? Qual empresa aguenta trocar de acionista majoritário a cada 4 ou no máximo 8 anos?

Está mais do que na hora de travarmos um debate sério, sem emoções e sem ideologias sobre a privatização da Petrobras, da mesma forma que foi feito no Congresso em relação à Eletrobras. Se não fizermos isso, continuaremos a ver trocas constantes de presidente da Petrobras sem critério técnico e apenas político, usando a empresa para fazer grande parte de seus investimentos olhando para a taxa de retorno política, e não a econômica.

Publicidade

Petrobras já mudou de presidente oito vezes desde 2016 Foto: Wilton Junior/Estadão

Exemplo: ao invés de vender refinarias, quer recomprar a refinaria da Bahia, e o resultado será só preservar o monopólio do refino, investindo em um ativo que dará à empresa uma taxa de retorno bem abaixo do que consegue na exploração do pré-sal.

Outro exemplo: fazer política social reduzindo as receitas da Petrobras, não reajustando o preço da gasolina e do diesel, só traz prejuízos à empresa. Basta ver o resultado da companhia nesse último trimestre. Se política social subsidiando o preço da gasolina e diesel fosse boa, a Venezuela seria exemplo de sucesso.

Ficam algumas perguntas para reflexão. Faz sentido, o governo ser acionista de uma empresa de petróleo em plena transição energética? Faz sentido utilizar a empresa para fazer política social? Faz sentido, os preços da gasolina e diesel, que são commodities, não seguirem a tendência dos preços no mercado internacional? Faz sentido, o governo impor uma política que deliberadamente prejudica os acionistas privados? Faz sentido, uma empresa de petróleo ter o comportamento das suas ações determinada mais pelo risco político do que pelo comportamento do mercado?

Vamos olhar para a frente, e não pelo retrovisor, quando o assunto for Petrobras, se realmente queremos uma empresa que beneficie toda a sociedade, e não apenas os escolhidos pelo governo de plantão.

Publicidade

Análise por Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.