Caixa não resiste à escalada dos juros no País e sobe taxa do crédito imobiliário

Reajuste é válido desde 2 de janeiro e tende a esfriar o mercado imobiliário nos próximos meses

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Foto do author Circe Bonatelli

A Caixa Econômica Federal não resistiu à escalada dos juros no Brasil e elevou as taxas do crédito imobiliário nesta virada de ano, seguindo o mesmo caminho de instituições financeiras privadas, como Itaú e Santander, que também já haviam promovido reajustes. O movimento tende a esfriar as compras e as vendas de imóveis no País nos próximos meses.

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Na Caixa, o aumento na taxa foi de 1 a 2 pontos porcentuais, de acordo com a modalidade, conforme dados divulgados pelo banco a pedido do Estadão/Broadcast. O reajuste passou a valer em 2 de janeiro.

Até dezembro de 2024, a Caixa oferecia como taxa de juros a Taxa Referencial (TR), mais 8,99% a 9,99% ao ano, que em janeiro subiu para TR mais 10,99% a 12% ao ano. Em outra linha, a taxa praticada era de remuneração da poupança mais 3,10% a 3,99%, que agora foi elevada para poupança mais 4,12% a 5,06% ao ano. Em ambos os casos, o prazo máximo de financiamento permaneceu inalterado em 420 meses.

Em nota, a Caixa informou que a definição das taxas do banco se baseia na análise da associação de fatores mercadológicos e conjunturais, dentro das regras prudenciais de definição das condições do crédito.

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Sede da Caixa Econômica Federal, em Brasília; 70% dos recursos do banco para crédito imobiliário vem da caderneta de poupança e os 30% restantes das Letras de Crédito Imobiliário Foto: Wilton Junior/Estadão

Na prática, o pano de fundo para o reajuste é a escassez de recursos da caderneta de poupança para abastecer novas operações de financiamento e a necessidade dos bancos recorrerem a fontes de recursos que têm custos maiores.

Na Caixa, cerca de 70% dos recursos para o crédito habitacional vêm das cadernetas de poupança, cuja remuneração é regulada, e está na ordem de 8% ao ano. Já os demais 30% vêm de fontes de mercado, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), corrigidas pela Selic, a taxa básica de juro da economia, que caminha para ultrapassar os 14% ao ano. Portanto, o que a Caixa e os outros bancos estão fazendo é repassar para os consumidores o aumento no custo do seu capital.

“Isso (aumento na taxa) já era um pouco já esperado, por causa da alta da Selic. Não tem como fugir”, comentou a vice-presidente de habitação da Caixa, Inês Magalhães, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Mas, ainda assim, estamos competitivos em relação a outras taxas praticadas no mercado”, emendou.

Padrões médio e alto

As alterações da Caixa nesta virada de ano afetam os financiamentos que fazem parte do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), destinados a moradias de médio e alto padrões (acima de R$ 350 mil). A medida não muda nada nos financiamentos dentro do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), onde as taxas variam de 4% a 8% ao ano, graças a recursos subsidiados com origem no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

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A vice-presidente da Caixa afirmou ainda que o banco pretende manter em 2025 o mesmo volume de financiamentos imobiliários visto em 2024, quando ficou na ordem de R$ 80 bilhões (SBPE), uma alta de cerca de 7% perante 2023. “Para manter o volume, é preciso que a taxa se pague”, explicou Magalhães.

Para dar conta da demanda aquecida por financiamento, a Caixa já vinha endurecendo as condições para liberação de novos empréstimos. No fim do ano passado, o banco reduziu de 80% para 70% o valor máximo do financiamento em relação ao valor do imóvel nas operações pelo Sistema de Amortização Constante (SAC); e cortou a cota de 70% para 50% pela Tabela Price. Além disso, os empréstimos foram limitados a imóveis de até R$ 1,5 milhão.

Para imóveis acima de R$ 1,5 milhão, foi criada uma linha com juros pós-fixada — partindo de 114% do CDI, ou cerca de 14% ao ano. Neste caso, o dinheiro vem inteiramente de fontes de mercado. Já as linhas baseadas em recursos da poupança e taxas menores foram priorizadas para os clientes de menor renda. Após essa revisão do portfólio, não há mais alterações previstas para o setor neste momento, disse Magalhães.

O impacto no mercado imobiliário

Na visão do consultor de habitação e ex-vice-presidente da Caixa, José Urbano Duarte, esse conjunto de alterações deve causar limitações para a compra e a venda de imóveis. “O que pode acontecer é alguma mudança no perfil do comprador, que deverá ter renda média mais alta para acompanhar o valor da parcela, ou do imóvel comprado, que terá tíquete médio menor”, disse.

Por exemplo: a parcela inicial de um imóvel de R$ 600 mil com a taxa mínima anterior, de 8,99% ao ano, gerava uma parcela de R$ 4,1 mil por mês. Na nova taxa mínima, de 10,99%, a parcela salta para R$ 4,8 mil. Em ambos os casos foi considerada uma entrada de R$ 180 mil (30% do total) e parcelamento em 420 vezes.

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