Caixa espera manter ritmo no crédito imobiliário em 2025 apesar das restrições da poupança

Neste mês, o banco público apertou condições de concessão de crédito: aumentou de 20% para 30% do valor do imóvel financiado a entrada exigida de parte dos clientes

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Foto do author Matheus Piovesana

A Caixa Econômica Federal pretende manter o ritmo de concessões de crédito imobiliário com recursos da poupança no ano que vem, mesmo com as restrições que as cadernetas enfrentam. O banco não sinalizou se pretende aumentar os juros da modalidade, mas disse que é preciso encarar a “fila” de clientes esperando por financiamento como sendo do sistema, porque a maior parte dos clientes é de outros bancos.

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“Nós não trabalhamos com uma perspectiva de redução, isso no crédito SBPE (com recursos da poupança). Na habitação social, depende do orçamento que for colocado pelo FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço)”, disse o vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa, Marcos Brasiliano, em coletiva de imprensa para comentar os resultados do banco no terceiro trimestre.

De janeiro a outubro deste ano, a Caixa aplicou R$ 190 bilhões em crédito imobiliário, somadas as operações financiadas por meio de recursos da poupança e as feitas via FGTS. Mesmo direcionando clientes elegíveis para as linhas do FGTS, o orçamento disponível para as linhas do SBPE foi consumido em ritmo mais rápido do que o esperado.

A vice-presidente de Habitação do banco, Inês Magalhães, afirmou que há R$ 3 bilhões disponíveis para alocar nessas linhas até dezembro. A Caixa tem evitado aumentar os juros do financiamento para fazer frente à escassez de recursos, mas apertou as condições de concessão no começo do mês. A principal mudança foi um aumento da entrada exigida de parte dos clientes, de 20% para 30% do valor do imóvel financiado.

A Caixa também tem 'voltado atrás' em propostas de financiamento que estavam em estágio avançado Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Como mostrou o Estadão/Broadcast, o banco também tem “voltado atrás” em propostas de financiamento que estavam em estágio avançado. Magalhães afirmou que esses clientes não deixarão de ser atendidos, mas que o banco tem postergado as contratações até o limite de validade das propostas. Também disse que nem toda a “fila” de R$ 20 bilhões é de financiamentos em fase de desembolso.

O presidente da Caixa, Carlos Vieira, afirmou que há uma percepção pública de que o banco é responsável por manter o financiamento imobiliário em alta no País, sendo que essa seria uma responsabilidade de todo o sistema financeiro.

“A maior parte do crédito pré-aprovado é de clientes de outros bancos”, disse Brasiliano. Nos últimos dois anos, a Caixa manteve as concessões de crédito imobiliário enquanto os demais bancos colocaram o pé no freio diante da Selic a dois dígitos. A liderança em depósitos de poupança garantiu ao banco público condições de manter o ritmo sem elevar os juros.

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Esse diferencial competitivo corre o risco de se esgotar: mesmo voltando a crescer, o saldo de poupança tem aumentado menos que a carteira da Caixa. Em setembro, estava em R$ 381 bilhões, alta de 8,1% em um ano, enquanto a carteira que financiava era de R$ 337,3 bilhões, alta de 11,3%.

Para complementar os recursos, o banco público conta com as letras de crédito imobiliário. Captá-las ficou mais difícil desde o começo do ano devido à mudança do prazo mínimo de carência pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de três para 12 meses, depois reduzidos para nove. A alteração afugentou o investidor de varejo e concentrou as emissões entre os grandes investidores, que cobram prêmios mais elevados para carregar os papéis.

Busca por rentabilidade

O desafio de reequilibrar a equação do crédito imobiliário vem em um momento em que a Caixa busca ampliar o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês). Com um lucro de R$ 3,263 bilhões no terceiro trimestre, o banco viu o retorno subir de 7,9% para 9,3% em um ano.

A diferença entre a Caixa e os pares privados ou mesmo o público Banco do Brasil se deve ao perfil da carteira. O crédito imobiliário, que tem margem baixa, responde por 67% do crédito do banco, o que comprime o retorno.

“Se a Caixa quisesse ter um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 18%, ela saberia fazer, mas certamente não estaria cumprindo seu papel social”, disse Vieira durante a coletiva de imprensa. Ainda assim, o banco tem buscado ampliar a rentabilidade por outras vias, como o aumento do relacionamento com os clientes para além do financiamento à casa própria.

Um dos “termômetros” dessa virada indica um processo ainda em andamento. A carteira de crédito livre para pessoas físicas da Caixa caiu 1,4% em um ano, para R$ 133,198 bilhões. A maior parte do crédito livre do banco, 75,9%, está em linhas de consignado.

Vieira afirmou que o banco reformulou os processos de contratação do consignado. Este é o primeiro passo de uma série de ações que pretendem mudar “a cara” da Caixa para o cliente, atraindo uma quantidade maior deles para outras linhas de crédito.

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