Uma agência estadual da Califórnia está processando a Tesla, acusando a empresa de permitir discriminação racial e assédio na fábrica que fica em Fremont, na Baía de São Francisco. O Departamento de Empregabilidade e Habitação Justas da Califórnia (DFEH, na sigla em inglês) afirmou que centenas de trabalhadores da Tesla reportaram terem sido alvo uso de insultos raciais - inclusive, de supervisores - além de conviverem com suásticas gravadas no banheiro e caricaturas depreciativas de negros desenhadas pela fábrica.
Eles também acusam a companhia de práticas discriminatórias. A agência diz que trabalhadores negros foram designados para funções fisicamente mais exaustivas e tiveram promoções e transferências recusadas com maior frequência na comparação com outros empregados.
“Após receber centenas de reclamações de trabalhadores, DFEH encontrou provas de que a fábrica de Fremont da Tesla possui um ambiente de trabalho racialmente segregado, onde funcionários negros são submetidos a injúrias raciais e discriminados em tarefas, disciplinas e promoções, criando um ambiente hostil de emprego”, afirmou o diretor do departamento, Kevin Kish, em um comunicado. “Os fatos deste caso falam por si”, completou.
Em uma nota postada na internet, antes de o processo ser ajuizado, a Tesla informou que é “veementemente contra” todas as formas de discriminação e assédio. A companhia contestou o processo feito pelo departamento da Califórnia, argumentando que a agência estadual já investigou dezenas de reclamações anteriormente, nos últimos anos, e não encontrou nenhuma má conduta.
“Isso prejudica a credibilidade da agência que agora alega, após uma investigação de três anos, que discriminação sistemática racial e assédio existam de alguma forma na Tesla”, falou a companhia. “Uma narrativa criada pelo DFEH e um punhado de empresas para gerar publicidade não é prova factual.”
A empresa afirma que a fábrica de Fremont tem uma “força de trabalho majoritariamente composta por minorias” e descreveu o processo como contraprodutivo “em um momento em que empregos manufatureiros estão deixando a Califórnia”. Tesla mudou seu QG para o Texas no último ano e abriu uma nova fábrica, em Austin.
A companhia também afirmou que a agência estadual em questão recusou seus pedidos de informações sobre as acusações. A empresa planeja pedir à corte para “pausar o caso e tomar outros passos para garantir que fatos e provas sejam analisados”.
Em outubro, um júri federal em São Francisco concedeu US$ 137 milhões a um ex-funcionário negro da Tesla. O trabalhador afirmou, à época, que enfrentou assédio racial de um supervisor e outros colegas, enquanto trabalhava na fábrica de Fremont, entre os anos de 2015 e 2016. Segundo ele, empregados desenharam suásticas e “arranharam” insultos raciais em uma cabine de banheiro e deixaram caricaturas depreciativas de crianças negras pela fábrica.
No mês seguinte, outra funcionária da Tesla processou a companhia, acusando-a de permitir assédio sexual, tanto verbal quanto físico. Mais seis mulheres também processaram a empresa em dezembro, citando tratamentos similares.
No último mês, uma das principais executivas negras da Tesla, Valerie Capers Workman, deixou a companhia. Como chefe de RH da Tesla, era ela quem que se expunha muitas vezes para responder aos processos.
A Tesla não retornou aos pedidos do "The New York Times" para comentar o assunto. Esta reportagem apareceu originalmente no The New York Times. / TEXTO DE NIRAJ CHOKSHI, TRADUÇÃO DE FELIPE SIQUEIRA
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