Campos Neto: se aumentar juros for necessário para levar inflação ao centro da meta, faremos isso

Presidente do Banco Central diz que tentou escapar dos ruídos políticos neste fim de gestão e que esforço monetário do Brasil está em linha com o que ocorre em outros países

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BRASÍLIA - Os nove membros do Comitê de Política Monetária (Copom) estão dispostos a fazer tudo o que for necessário para garantir a convergência da inflação ao centro da meta, inclusive voltar a aumentar a taxa Selic, disse nesta sexta-feira, 16, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

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“Todos os diretores têm adotado esse discurso, que é basicamente o que escrevemos no comunicado”, afirmou, em evento organizado pelo Barclays, em São Paulo. “Não estamos dando um guidance (orientação), mas faremos o que for necessário para levar a inflação à meta. Se aumentar os juros for necessário, nós aumentaremos.”

Esse discurso, ele explicou, foi adotado devido ao diagnóstico de que parte da desancoragem das expectativas respondia à falta de credibilidade sobre a política monetária no futuro. Por isso, a autoridade tentou começar a comunicar-se de maneira mais “coerente” e demonstrar unanimidade, afirmou.

Campos Neto afirmou que tentou se manter distante do 'barulho político' durante sua gestão no BC Foto: Gabriela Biló/Estadão

“Acho que as pessoas agora estão entendendo que, independentemente de quem esteja à frente do BC, de quem sejam os diretores, a direção está definida e nós temos uma meta. A meta é determinada pelo governo, não por nós. E nós faremos o que for necessário para cumprir a meta”, ele disse.

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Veja, a seguir, os principais pontos de sua fala no evento.

BC tentou escapar dos ruídos políticos neste fim de gestão

Com o início do processo de sucessão no Banco Central dado como certo até o fim do mês, Campos Neto disse que tentou escapar dos ruídos políticos neste seu fim de gestão. Ele deixa o BC em 31 de dezembro e, ao que tudo indica, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, será o próximo presidente da autarquia.

Campos Neto evitou falar sobre o que planeja deixar como legado à frente da instituição. “É uma pergunta muito difícil, porque é um grupo, é um esforço de grupo, então não é nada que eu fiz especificamente, eu não poderia ter feito nada sem o grupo”, considerou.

Ele citou, porém, que os encontros com os demais presidentes de BCs é algo que mereceu destaque. “Foi algo que, para mim, foi muito bom. Eu aprendi muito com eles, eu aprendi muito com as pessoas.”

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Campos Neto aproveitou para enfatizar que há “um monte de barulho político” que ocorreu e que também as pessoas tentam colocar sobre o presidente da entidade.

Eu tentei ficar longe disso (ruído político) e pensar no que são as entregas que as pessoas se lembram. Então, quanto mais pudemos entregar, mais as pessoas se lembrarão do seu trabalho. Eu tento não reagir ao barulho no curto prazo e eu tento pensar o que podemos fazer em termos de entregas.

Esforço monetário do Brasil está em linha com o de outros países

Campos Neto ressaltou que as surpresas na economia do Brasil são mais fortes do que em outros lugares, mas que o esforço monetário doméstico está em linha com o que ocorre em outros países. Ele também disse que, quando se olha a diferença entre o juro neutro e o real, podem-se observar diferentes medidas.

“O custo monetário no Brasil é mais ou menos em linha com o de outros países, mesmo que o custo de renda seja maior, porque os outros países têm um custo de renda menor do neutro, e ao mesmo tempo, nós temos dados mais fortes”, argumentou. “Então, quando você observa a surpresa em termos de índice econômico, os números estão saindo para comparar com o que você esperava, que é maior do que outros países, e quando você observa o custo monetário, nós somos mais ou menos na média”, continuou.

O presidente do BC também ressaltou que houve um período em que ter dados fracos era bom para o mercado, mas que agora não são mais. Segundo Campos Neto, é preciso olhar as dinâmicas locais e, nessas dinâmicas, há uma inflação e expectativas em elevação. Por isso, de acordo com ele, o Copom decidiu não dar mais um guidance sobre seus próximos passos. “Está aberto”, pontuou.

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O trabalho agora, de acordo com Campos Neto, será o de observar os dados e verificar como todos esses fatores globais impactam o Brasil. Ele comentou também que o BC decidiu por não intervir no câmbio para não contaminar o mercado.

BC está muito incomodado com a desancoragem das expectativas

O Banco Central continua “muito incomodado” pelo fato de as expectativas de inflação do mercado continuarem acima da meta, afirmou Campos Neto. Ele garantiu que a desancoragem está sendo observada “muito de perto”, especialmente no que diz respeito às projeções mais longas.

“Acho que comunicamos que o Banco Central está muito incomodado pelo fato de que as expectativas estão desancoradas”, disse.

Mesmo com a comunicação sendo transparente sobre o que tentamos fazer, ainda vemos uma parte, especialmente no prazo mais longo, que não voltou à meta

Sobre a inflação no Brasil, Campos Neto disse que a expectativa é de números menores nas próximas leituras do IPCA, o que deve levar a taxa acumulada em 12 meses de 4,5% para um nível mais próximo de 4%. Ele reconheceu, no entanto, que há alguns “sinais que nos preocupam um pouco” na inflação de serviços, na margem, especialmente no que se relaciona ao mercado de trabalho.

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Sempre que tivemos juro real menor, foi associado à melhor percepção do fiscal

A taxa real de juros do Brasil é alta na comparação com a de outros países, mas tem caído continuamente ao longo dos últimos ciclos, especialmente quando há reformas que melhoram a percepção do mercado sobre a política fiscal, disse o presidente do Banco Central.

“Sempre que tivemos ou fomos capazes de trabalhar com uma taxa real menor, normalmente isso está associado a períodos em que as pessoas têm a percepção de que o fiscal estava melhor”, afirmou.

Campos Neto citou como exemplos desses momentos a aprovação do teto de gastos e a discussão sobre o novo arcabouço fiscal, no início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou que não é papel do BC falar de política fiscal, mas lembrou que ela faz parte do tripé macroeconômico.

O presidente do BC lembrou que ainda há uma diferença grande entre as projeções do Tesouro Nacional e dos analistas do mercado para a política fiscal.

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Achamos que o governo está fazendo um grande esforço para melhorar os números, e o mercado está questionando a parte estrutural do arcabouço

Pouco antes, ele disse que, embora o mercado tenha esperado um repique da taxa de desemprego a cada momento nos últimos meses, ela continua em tendência de queda.

Mercado vai revisar projeção de PIB de 2024 para cima de 2,5%

Economistas do mercado financeiro provavelmente vão aumentar as suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2024 para mais do que 2,5% após a surpresa com o IBC-Br divulgado nesta sexta, afirmou o presidente do BC.

Em termos de atividade econômica, tivemos um número muito recente, continua nos surpreendendo par cima

“As pessoas vão revisar o crescimento do Brasil para mais do que 2,5%, parece certo agora, com o número que tivemos.”

O IBC-Br cresceu 1,37% em junho, na comparação com maio, colado ao teto das expectativas do mercado coletadas pelo Projeções Broadcast, de 1,40%. A estimativa intermediária apontava para expansão bem menor, de 0,50%.

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Mercado de ações parece estar reagindo um pouco melhor agora

O mercado de ações brasileiro parece estar reagindo recentemente, depois de um período mais complicado sem ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), disse Campos Neto.

Ele afirmou que o mercado de capitais brasileiro tem se mostrado muito forte e diversificado, com uma melhora dos spreads.

Se houver desaceleração global, barra para BCs intervirem seria alta

O presidente do Banco Central avaliou que, se houver uma desaceleração global agora, a barra para as autoridades monetárias intervirem seria alta em termos da habilidade dos governos para ajudar a mitigar a recessão. Ele voltou a enfatizar, no entanto, que o BC brasileiro não vê a uma recessão muito séria à frente.

Campos Neto salientou que os gastos fiscais têm aumentado muito no mundo e que isso forma um cenário de problemas com dívidas grandes e com juros também maiores.

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