‘Dados mais fortes nos EUA terão consequências para a política monetária do Brasil’, diz Campos Neto

O presidente do BC disse ainda que a trajetória da inflação do País é de queda. mas que é preciso monitorar indicadores de serviços e do mercado de trabalho

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Foto do author Luis Eduardo Leal

Em entrevista à rede americana CNBC, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a inflação - que havia levantado algumas “preocupações” para o governo no primeira leitura do ano, por fatores sazonais relacionados aos alimentos - continua a ser um fator de ruído globalmente.

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No Brasil, porém, a inflação mantém tendência de baixa que deve persistir “daqui em diante”. A trajetória da inflação no País, contudo, depende de “várias coisas que ainda estamos observando”, entre as quais a inflação de serviços, que ainda não convergiu, e o mercado de trabalho, acrescentou Campos Neto.

“De forma geral, a convergência da inflação está em linha com o que esperamos”, concluiu Campos Neto.

Roberto Campos Neto disse que dados mais fortes nos Estados Unidos vão ter reflexos no Brasil Foto: Brendan Mcdermid/Reuters

Ele disse ainda que a “última milha ou milhas” no combate à inflação, ao fim do dia, tem processos similares em diferentes lugares. “Em muitos lugares tem havido processo desinflacionário acompanhado por pleno emprego, uma combinação que não ocorre com muita frequência”, disse Campos Neto. “Todos estão tentando compreender como será essa ‘última milha’”, acrescentou.

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“O mercado de trabalho continua apertado e ainda há muitos estímulos fiscais por aí. Muitos lugares estão olhando para as mesmas variáveis”, disse ele. “No caso do Brasil, eu diria que tivemos um resultado melhor na mais recente leitura de inflação. E dada a história, a tradição de inflação que se tem no País, conseguimos uma razoável convergência, com muito pouco custo para a sociedade”, acrescentou.

“O crescimento econômico tem sido revisado para cima, os mercados de crédito estão voltando a crescer também, o mercado de trabalho vai bem e a inflação, ainda assim, está convergindo para a meta”, disse Campos Neto.

Ao responder sobre o efeito de dados “quentes” sobre a economia americana - como as vendas do varejo e o desempenho do mercado de trabalho nos Estados Unidos - para a política monetária no Brasil, ele apontou haver “muitas consequências”. “Esta é uma história que vem em ciclos. Já estava quase dado que a ‘última milha’ seria atingida, mas agora as pessoas estão com mais dúvidas sobre de onde virá a desinflação”, acrescentou Campos Neto, referindo-se à situação nos Estados Unidos.

“E se nos movermos de um processo em que víamos a ‘última milha’ para um processo de maior incerteza - e esta incerteza talvez signifique taxas de juros altas por mais tempo -, provavelmente nos deslocaremos em direção a uma nova questão, em que se falará mais e mais do fiscal e da sustentabilidade da dívida, não apenas nos Estados Unidos mas em diversos outros lugares”, acrescentou. “O fiscal é uma questão de que os economistas passarão a falar mais nos próximos meses.”

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De qualquer forma, ele afirmou que o “fiscal é mais uma questão para o ministro da Fazenda do que para o presidente do Banco Central”. “Para nós, o que importa com relação ao fiscal são as variáveis que são afetadas por isso. E o que dizemos sempre é que precisamos ter harmonia entre a política fiscal e a política monetária. O problema quando a credibilidade da política fiscal é afetada, é que o preço, o custo, da política monetária fica mais alto. Um lado afeta o outro”, acrescentou.

“O Brasil tem uma longa história com relação à questão fiscal, e este governo tem tentado abordar essa questão”, afirmou ele. “Acabamos de ter algumas revisões de metas (para o fiscal), mas a questão é saber como isso afetará variáveis que são parte de nosso enquadramento (como formuladores da política monetária)”, concluiu o presidente do BC.

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