BRASÍLIA E SÃO PAULO - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 26, que nenhum membro do Comitê de Política Monetária (Copom) defendeu um aumento maior do que 0,25 ponto porcentual na reunião da semana passada, quando o colegiado decidiu elevar os juros de 10,50% para 10,75%.
“Se tivesse algum grupo que tivesse considerado uma alta de 0,50 ponto, a gente teria escrito na ata ‘um grupo considerou’. Se não está na ata, é porque não tivemos esse debate”, respondeu, durante entrevista à imprensa para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em São Paulo.
Segundo o presidente do BC, um ciclo gradual de aumento estava em linha com a comunicação anterior do Copom. Ele lembrou que, em um momento, o mercado chegou a precificar um “superciclo” de alta da Selic, que não era compatível com os recados do Copom.
Campos Neto acrescentou que, em sua comunicação, o BC agora tentou ser claro sobre os condicionantes que observa, incluindo hiato, balanço de riscos, expectativas, e projeções, mas não deseja fornecer um guidance (sinalização sobre os próximos passos), já que a incerteza está elevada.
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Início do ciclo de aperto
O presidente do BC disse que três fatores motivaram, essencialmente, o início do ciclo de aperto monetário: o mercado de trabalho apertado, a revisão para cima no ritmo de crescimento da economia e a piora das expectativas de inflação na ponta.
“Decidimos colocar uma assimetria no balanço de riscos, são algumas das razões pelas quais decidimos iniciar o ciclo”, disse. Ele repetiu que a magnitude do ciclo está em aberto e dependerá dos dados.
Indagado por jornalistas, Campos Neto disse que o IPCA-15 de setembro, que foi divulgado esta semana e ficou abaixo das estimativas do mercado, é positivo, mas não muda o curso do BC. “Nossa decisão não está baseada em um número de curto prazo, a gente tenta olhar um conjunto de dados”, afirmou.
Falando sobre a revisão das estimativas e hiato do produto, o presidente do BC disse que há um questionamento sobre qual seria o crescimento potencial do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que ele considera estar entre 2% e 2,5%. Campos Neto disse que a economia está aquecida e isso pode provocar algum repasse cambial para a inflação via importação, mas que isso ainda não está sendo observado.
Segundo ele, reabrir ciclos de alta de juros, pelo aperto não ter sido suficiente, representa um custo grande para a credibilidade das autoridades monetárias em economias emergentes. Por isso, observou, é muito mais difícil os países emergentes pausarem ciclos para depois retomá-los na mesma direção.
Ele fez o comentário ao citar dois erros comuns, que podem ser cometidos por qualquer banqueiro central ao iniciar um ciclo. O primeiro é não fazer um movimento suficiente e ter que voltar a subir os juros. O segundo é subir um pouco mais os juros, e depois constatar que o aperto poderia ter sido feito a menor custo.
“Em alguns momentos, podemos corrigir coisas do passado, mas não consideramos um erro”, disse.
Um BC, dois presidentes
O presidente do BC disse esperar que a sabatina de Gabriel Galípolo, indicado para sucedê-lo no comando da instituição a partir de 2025, ocorra “com muita naturalidade” no Senado. Ele voltou a defender uma transição suave no comando do BC.
“Algumas pessoas perguntam, ‘não é problemático ter dois presidentes?’ Eu digo que não, é maravilhoso ter dois presidentes, porque significa que a gente, de fato, está fazendo a transição na forma mais suave possível”, afirmou.
Ele disse que tem falado com alguns senadores sobre a importância de fazer a sabatina e uma transição suave institucional no BC. E que vai trabalhar com Galípolo, hoje diretor de Política Monetária, para fazer essa transição nos próximos meses. “Acho que isso mostra o grau de maturidade que a autonomia nos leva, acho que é importante a gente passar por isso”, afirmou.
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