Campos Neto diz que batalha da inflação não está ganha, alerta para fiscal e pede trabalho conjunto

Presidente do BC diz que hoje ninguém espera que meta de déficit zero seja cumprida e que sabe que é difícil para o governo cortar gastos, mas que é necessário sinalizar equilíbrio nas contas públicas

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Foto do author Bianca Lima
Atualização:

BRASÍLIA - Horas após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cobrar que o Banco Central “faça o seu trabalho” para ajudar a economia a crescer, em meio à desaceleração observada no 3º trimestre, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, afirmou que a batalha contra a inflação não está ganha e que o atual ritmo de queda dos juros é visto como “apropriado”.

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Ao lado de parlamentares, ele também fez alertas em relação às contas públicas e disse que, hoje, “ninguém espera que o governo vá fazer 0% de meta” – se referindo a 2024, quando a equipe econômica se comprometeu a zerar o déficit nas contas públicas. Campos Neto ponderou que isso teve pouca influência nas variáveis macroeconômicas, mas ressaltou “que é importante ter previsibilidade para o futuro”.

Segundo o banqueiro central, a situação fiscal do País hoje está “desancorada”, com o mercado financeiro projetando números piores do que os do governo, e disse que é necessário “trabalhar em conjunto” para melhorar as expectativas daqui para frente.

Campos Neto disse que sabe que é difícil para o governo cortar gastos, mas que é necessário sinalizar equilíbrio fiscal. Foto: Alex Silva / Estadão

“A expectativa de fiscal está desancorada; ou seja, o mercado entende que o fiscal vai ser pior do que o governo promete. Do outro lado, quando a gente olha o monetário, a expectativa de inflação também está um pouco acima da meta. Agora, a gente precisa trabalhar em conjunto”, afirmou Campos Neto durante almoço na Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).

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“Quando você tem um fiscal descontrolado, você começa a ter impacto na expectativa de inflação futura”, disse, destacando que há relação entre uma variável e outra, mesmo que não seja mecânica. É o que Campos Neto chamou de “desancoragem gêmea”: “Quando o fiscal desancora, geralmente as expectativas de inflação também desancoram. Isso tem sido realidade não só no Brasil”, afirmou.

O presidente do BC destacou que a economia global vai entrar em um momento de desaceleração, com impactos no Brasil, e que, nesse contexto, é ainda mais importante “fazer o dever de casa”. “É importante passar a mensagem de consolidação fiscal e a mensagem de que estamos trabalhando juntos, no monetário e no fiscal”, frisou.

Campos Neto disse que sabe que é difícil para o governo cortar gastos, mas que é necessário sinalizar equilíbrio fiscal – o que, segundo ele, “está sendo construído”. Ele também avaliou que 2023 foi um ano melhor do que o esperado, com crescimento surpreendendo para cima e inflação e desemprego, para baixo.

“Eu tive que escutar várias vezes, ao longo do ano, que o crédito ia colapsar, que os juros iam fazer as empresas quebrarem, que o desemprego ia explodir. Não aconteceu nada disso. Ao contrário, o crédito subiu, está saudável, a inadimplência está caindo na ponta. O crescimento está acima de 2,5% e o desemprego está perto das mínimas”, afirmou.

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Segundo ele, isso mostra que o importante, na política monetária, não é apenas o patamar dos juros, mas a credibilidade que a política do BC passa. “Afinal de contas, as pessoas tomam decisões não olhando os juros que têm hoje, mas olhando o cenário que eu vou ter, as condições de crescimento e a estabilidade monetária para frente”, afirmou.

Em relação à próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem, Campos Neto reforçou que o entendimento, por enquanto, é por mais um corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros da economia, a Selic, que atualmente está no patamar de 12,25% ao ano.

“As coisas estão mais ou menos dentro do que a gente esperava, mas a gente acha que a batalha ainda não está ganha e que é preciso perseverar”, afirmou Campos Neto. Segundo ele, a última milha, na luta contra a inflação, “é sempre a parte mais dura da corrida”.

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