GUARUJÁ - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o ambiente internacional difícil elevou a exigência do restante do mundo em relação à política fiscal no Brasil, apesar de reconhecer que o governo vem tentando melhorar a situação das contas públicas.
Durante participação no fórum do grupo empresarial Esfera Brasil no Guarujá, no litoral paulista, neste sábado, 26, Campos Neto observou que o mundo parece ter acordado para o fato de que chegou a hora de pagar a conta dos enormes gastos na pandemia. Citou, como exemplo, o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela Fitch e a reação negativa do mercado à tentativa da Inglaterra de baixar impostos e aumentar gastos.
O presidente do BC salientou que a injeção de US$ 9 trilhões na economia global no auge da pandemia, somada aos estímulos monetários, evitou a depressão econômica, porém deixou uma conta a ser paga. Em um cenário de menor liquidez internacional, os investidores devem ignorar menos os pequenos erros e desvios, o que significa, frisou Campos Neto, que o Brasil terá que fazer o dever de casa melhor. “A barra para o fiscal no Brasil subiu um pouco”, declarou.
Ele fez menção à reforma administrativa, defendida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, ao apontar que algumas medidas, embora não tenham resultado imediato, podem dar ao Brasil um voto de confiança do mercado na travessia a um período de maior crescimento e, consequentemente, arrecadação. “Todas as iniciativas nessa linha fazem sentido.”
O presidente do BC reconheceu a tentativa do governo, em especial do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de melhorar os resultados fiscais — “está na direção” —, dizendo também que o arcabouço fiscal é “bem-vindo”. Lembrou ainda que nem tudo depende do governo, já que há medidas a serem apreciadas no Congresso e no Judiciário.
Apesar disso, Campos Neto ponderou que o espaço para cortes de gastos no Brasil é limitado, dado o avanço de despesas que sobem acima dos limites de regras fiscais, comprimindo as demais.
Inflação
Campos Neto afirmou que o objetivo do Banco Central é fazer um pouso suave na economia brasileira. “Quero trazer a inflação para baixo com o menor custo possível para a sociedade”, disse.
Ele detalhou que o objetivo é ter, dentro do possível, a menor queda do Produto Interno Bruto (PIB), a menor geração de desemprego e o mínimo de ruptura no canal de crédito. Campos Neto defendeu que foram poucos países do mundo que conseguiram fazer o que o Brasil tem feito em termos de queda de inflação versus o quanto custou.
O presidente do BC também comentou as surpresas recentes para cima com a inflação corrente. “Se pegarmos alimentação fora do domicílio e automóveis, dentro da parte de Transportes, explica quase toda a surpresa”, disse Campos Neto, que relacionou o movimento de automóveis ao subsídio temporário do governo federal às montadoras de carros.
Copom
O dirigente também afirmou que acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) será sempre direcionado pelo argumento técnico. “O BC se mostrou uma instituição muito técnica, com um corpo de funcionários altamente qualificado”, disse.
Para ele, a convivência de diretores com um governo que não os indicou, assim como o oposto, é o primeiro grande teste da autonomia da autarquia. “Acho que isso é saudável”, pontuou.
Campos Neto frisou que é importante jogar dentro das regras em que a cada dois anos dois diretores terão que ser substituídos. A mistura de novos e antigos diretores, avaliou, é saudável porque combina um conhecimento existente na casa com, às vezes, uma percepção de fora.
“Acredito muito na diversidade. Quanto mais diverso for o Copom, melhor ele vai ser”, emendou. “Não tem nenhum problema de ter opiniões diferentes, a gente até gosta.” / OS REPÓRTERES VIAJARAM A CONVITE DO ESFERA BRASIL
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